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”Houve corrupção em nossos governos”, diz ex-chefe de gabinete de Lula

Gilberto Carvalho fala a VEJA dos planos do PT para 2022, da estratégia do partido para recuperar a confiança do eleitor e dos escândalos da legenda

Por Rafael Moraes Moura Atualizado em 25 jun 2021, 11h07 - Publicado em 25 jun 2021, 06h00

A seguir os principais trechos da entrevista a VEJA de Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete do presidente Lula. Ele fala dos planos do PT para 2022, da estratégia do partido para recuperar a confiança do eleitor e dos escândalos da legenda.

LEIA TAMBÉM: Ex-chefe de gabinete admite que petistas se corromperam, mas poupa Lula

Como será pedir o voto aos eleitores depois de escândalos como o mensalão e o petrolão? Primeiro que os fatos têm nos ajudado a desmontar aquilo que foi uma tentativa de uma interpretação quase unânime na sociedade, particularmente nos meios de comunicação, de que o PT era o fabricante, o iniciador da corrupção no Brasil. Todo o processo em torno da Lava-Jato e do próprio Lula vai mostrando para a sociedade que isso não era real. O PT não foi o inventor da corrupção.

Mas os fatos apurados mostram que o partido pode não ter inventado, mas se entregou voluntariamente à corrupção. Temos de usar a informação como arma. Mostrar que, se houve fatos de corrupção dentro do nosso governo, isso não era a norma. Temos de mostrar que a imensa maioria dos petistas, a imensa maioria dos ministros do PT, assim como eu (o processo de corrupção que havia contra ele foi arquivado por falta de provas), segue lutando para sobreviver e não acumulou riqueza.

Como o partido pretende enfrentar esse tema na eleição presidencial? É uma questão de honra demonstrar que essa campanha foi baseada em fatos que não se sustentam na realidade em termos de corrupção. Agora: houve corrupção durante os nossos governos? Claro que houve corrupção nos nossos governos, como há em qualquer governo, em qualquer instituição, empresa. Houve petistas que se corromperam? Houve. Houve aliados nossos que se corromperam? Houve. Mas, se você considerar bem tudo o que houve na Petrobras, nos processos todos, a imensa maioria dos autores desses roubos são aqueles que continuam no governo Bolsonaro. São os mesmos partidos que continuam lá, os do Centrão.

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O mesmo Centrão do qual o PT está procurando se reaproximar com vistas à eleição do ano que vem. É uma aparente contradição, mas o que ocorre é que o agravamento da realidade brasileira se deu de tal modo, a prática da destruição do país levou a tal ponto que a reversão desse quadro de morte não se dará apenas pelas forças de centro-esquerda. Essa situação nos obriga a fazer esse tipo de diálogo.

O ex-presidente Lula, que chegou a ser preso, é inocente? Lula não se corrompeu. Tenho convicção disso. Eu acompanho o Lula como ninguém, sou testemunha de que o presidente reafirmava o tempo todo: “Se cuidem, porque quem errar vai ser investigado”. Foi assim quando houve o primeiro episódio, o do Waldomiro (o ex-assessor Waldomiro Diniz, flagrado pedindo propina), do Zé (José Dirceu, preso e condenado por corrupção), do Palocci (Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, preso e condenado por corrupção).

O petrolão, o maior de todos os escândalos, ocorreu na época em que Lula era presidente. Na verdade, antecede ao governo Lula. Os esquemas na Petrobras existiam desde muito tempo, pelo menos desde o governo FHC.

Existe plano B para o PT na eleição de 2022 que não seja Lula? Não tem plano B, o presidente Lula é o candidato. Seria uma bobagem da nossa parte querer inventar um plano B. É como se o Tite agora resolvesse botar o Neymar no banco por capricho. Não faz sentido.

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É confortável para o PT alimentar essa polarização com o presidente Bolsonaro? Tem uma coisa muito importante — não é só o voto, é a forma de pensamento, eu diria que esta onda conservadora que no Brasil se encarnou muito em torno do bolsonarismo, além da destruição que se está fazendo da economia, do social, tem um problema cultural gravíssimo, que é essa ideologia da divisão, do autoritarismo, do fundamentalismo, do ódio, do confronto, da guerra. Na política eu preciso do opositor até para eu sobreviver politicamente. É da democracia isso. Mas a lei que eles colocam é a da guerra. Eu tenho de exterminar o outro para sobreviver, aí vem a violência.

O senhor critica a estratégia de confronto, mas o PT sempre estimulou o discurso do “nós contra eles”. De certa forma, dá para dizer que sim, que nós trabalhamos fortemente esse aceno de um confronto. Era justificável na época, porque se tratava quase de uma luta contra todos, a gente tinha uma situação muito minoritária, de confronto até para sobreviver. Mas, sim, de alguma forma, alguma radicalização nossa abriu caminho para isso.

Essa polêmica em torno do voto impresso preocupa? Um resultado padrão Peru (onde a diferença de votos entre o sindicalista Pedro Castillo e a direitista Keiko Fujimori foi ínfima) seria um desastre no Brasil, porque permite a contestação. Se em 2014 o Aécio Neves irresponsavelmente não aceitou o resultado e iniciou a conspiração que foi dar no golpe, você imagina agora se tiver uma eleição tão ou mais apertada que a de 2014. Mas vamos formar uma ampla aliança, vamos conseguir isolar o Bolsonaro e vamos ter a vitória da democracia.

O senhor acredita mesmo que a democracia está em risco? Essa preocupação subiu muito a partir do episódio Eduardo Pazuello (ex-ministro da Saúde). A nossa decepção é enorme com a decisão do comando do Exército em não punir o general. Esse episódio botou o Exército de joelhos. Hoje a gente já não tem mais dúvida dos riscos. Ficamos perplexos.

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Publicado em VEJA de 30 de junho de 2021, edição nº 2744

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