O ex-procurador da Lava Jato Marcello Miller, criticado em discurso pelo presidente Michel Temer (PMDB), deixou na última quarta-feira o escritório Trench, Rossi, Watanabe, de onde era sócio desde meados de maio. A informação foi confirmada pelas assessorias de imprensa de Miller e do escritório. Ambos disseram que a decisão foi de “comum acordo”.
Miller integrou o grupo de trabalho da Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR) entre 2014 e 2016, e pouco depois se associou ao Trench, Rossi, Watanabe, que prestou serviços para o grupo J&F, um dos alvos das investigações. O escritório chegou a negociar parte do acordo de leniência firmado por executivos do grupo com o Ministério Público Federal do Distrito Federal.
O ex-procurador era assessor do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e foi citado por Temer como alguém de sua “mais estrita confiança”, que “ganhou milhões em poucos meses”, graças ao acordo. O presidente ressaltou que não faria “ilações“, mas que, usando a mesma lógica que atribui a Janot na formulação da denúncia ao STF, poderia dizer que os “milhões” recebidos por Miller talvez não tenham ficado somente com ele.
Segundo a PGR, Miller não cometeu ato irregular e não participou pessoalmente das negociações do acordo da colaboração premiada dos executivos do grupo. Em nota, Miller disse que não praticou irregularidade. “Não cometi nenhum ato irregular, mas não responderei às afirmações a meu respeito pela imprensa. Apenas me manifestarei perante as autoridades com competência para examinar os fatos e com interesse na aferição da verdade.”
O Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) abriu no fim de junho um processo de apuração formal para avaliar a conduta do ex-procurador. O caso estava sendo analisado pelo TED desde 31 de maio.
A denúncia contra Temer está tramitando na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. O presidente é acusado de corrupção passiva pelo recebimento de recursos em troca de benefícios à JBS junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Relembre o pronunciamento do presidente Temer:
(Com Estadão Conteúdo)