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Ex-jogador de futebol comandava núcleo de corrupção do governo Witzel

Segundo Ministério Público Federal, José Carlos fazia interlocução com empresas e secretarias

Por Ricardo Ferraz, Cássio Bruno, Marina Lang, Jana Sampaio, Sofia Cerqueira
Atualizado em 1 set 2020, 11h52 - Publicado em 31 ago 2020, 18h07
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  • A ação cautelar que  levou à Operação Tris in Idem joga nos holofotes um personagem que costumava agir nas sombras do Palácio da  Guanabara. José Carlos de Melo se tornou homem forte do governo de Wilson Witzel, ao fazer a interlocução entre diversas secretarias e empresas prestadoras de serviços. Segundo o Ministério Público Federal, o empresário e ex-jogador de futebol dos anos oitenta se especializou em driblar a lei e realizar sucessivas jogadas que acabaram por montar um esquema de desvio de recursos públicos. Hábil negociador, como VEJA revelou com exclusividade, Zé Carlos, como é chamado, logo se tornaria o responsável por um dos núcleos de corrupção do governo do Rio de Janeiro.

    As informações colhidas se basearam na delação premiada do ex-secretário de Saúde Edmar Santos. Ele conta que se aproximou do empresário para ter um pouco mais de independência, já que seria frequentemente pressionado pelo grupo de Pastor Everaldo para aprovar contratações de empresas indicadas por ele em contratos da secretaria. Assim, em outubro de 2019, Edmar procurou o secretário de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, para intermediar um encontro.

    Rodrigues era próximo de Zé Carlos, mas a relação não se resumia a uma simples amizade. Edmar relatou aos procuradores que o ex-jogador abastecia a conta corrente do secretário de Ciência e Tecnologia com uma mesada no valor de 150.000 reais, para, entre outras coisas, manter contratos irregulares FAETEC, a Fundação de Apoio à Escola Técnica, sob responsabilidade da pasta.

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    Com receio de perder o emprego, Edmar também procurou, entre final de novembro e início de dezembro, a interlocução de André Moura, então secretário da casa civil de governo de Witzel. Ele também teria sugerido uma aproximação com Zé Carlos.

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    Depois de algumas reuniões , Edmar e Zé Carlos passaram a tramar planos para assaltar os cofres públicos. Um intermediário de Zé Carlos apresentou uma lista de empresas que poderiam assinar contratos com a Secretaria de Saúde, repassando parte do dinheiro recebido para suas contas pessoais. Como se tratavam de contratos futuros, ainda não realizados, foi acertado um valor fixo de propina para Edmar, no valor de 300.000 reais por mês. O ex-secretario chegou a receber dois pagamentos, em espécie, entregues dentro de uma mochila.

    A facilidade com que Zé Carlos manejava dinheiro vivo chama atenção dos procuradores da República. Entre julho de 2015 e julho de 2020, o operador chegou a fazer 162 transações em espécie, reportadas pela Unidade e Inteligência Financeira (UIF). Dono do Centro de Assistência Profissional e Educacional (CAPE) e ex-pro reitor da Universidade Iguaçu (UNIG), ele movimentava vultuosas somas de dinheiro. Só a CAPE, de acordo com o MPF, registrou cerca de 1 bilhão de reais em transações, embora não tivesse nenhum empregado registrado.

    O secretário de governo do Rio de Janeiro, André Moura nega as acusações a afirma que Emar mente na delação: “É um réu confesso que quer colocar todo mundo na mesma vala”.

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    Já a defesa de Leonardo Rodrigues diz que o secretário de Ciência e Tecnologia “não praticou qualquer crime e que as afirmações do delator Edmar Santos não passam de meras ilações desprovidas de relação com a realidade fática”

    José Carlos não retornou o contato da reportagem.

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