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Demóstenes pede perdão a senadores e ataca PF

Senador, que responde a processo por quebra de decoro, diz que Polícia Federal fraudou grampos telefônicos para comprometê-lo

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 2 jul 2012, 16h57

Em uma última cartada antes de ter confirmado seu destino político como parlamentar, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) ocupou a tribuna do plenário nesta segunda-feira para tentar defender seu mandato. O político goiano voltou a defender a tese de que é vítima de armações da Polícia Federal e utilizou cerca de 25 minutos de discurso para pedir nominalmente perdão a cada um dos 44 senadores que, em março, prestaram a ele solidariedade pública. Na época, começaram a surgir as primeiras denúncias de que Demóstenes tinha colocado seu mandato como senador a serviço do contraventor Carlinhos Cachoeira. O discurso foi feito para o plenário praticamente vazio.

“Cheguei a cair, fui ao fundo do poço, venci a maior das guerras: aquela travada pelo menu próprio consciente”, disse. “A todos reafirmo a minha inocência. Estou apodrecido pela exposição, não pelos fatos”, exagerou.

Às vésperas de ter confirmada, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a legalidade do processo que pode levar à sua cassação, Demóstenes voltou sua artilharia para a atuação da Polícia Federal, classificada por ele como resultado de “maldosas fraudes” na edição e divulgação de grampos telefônicos feitos durante as operações Vegas e Monte Carlo.

“Não há honra que resista a tão longo turbilhão. De vazamento em vazamento e de grão em grão foi moída a história de uma vida honrada. Tiras hermeneutas fizeram gravações montadas e editadas. Elas foram aproveitadas como quis a autoridade denunciante”, declarou o senador.

“Cada linha do inquérito virou milhares de textos. Cada palavra se transmutou em sentença condenatória. Fui citado irresponsavelmente, segundo a Polícia Federal, em 315 conversas dos outros, sem minha participação, com eles [investigados] claramente usando meu nome”, relatou.

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Por meio de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro, Demóstenes tentou, sem sucesso, que o Senado autorizasse uma perícia nos grampos da Polícia Federal. A tese dele é a de que, como parlamentar, só poderia ser investigado com anuência do Supremo Tribunal Federal (STF) e a de que os policiais agiram deliberadamente para montar conversas comprometedoras. “A fraude grosseira revela o perigo de julgar alguém com base em gravações que, além de serem ilegais, não foram periciadas. Há uma disparidade entre o que está gravado e o que está transcrito”, opinou.

Os próximos dias serão cruciais para o futuro político do parlamentar: na quarta-feira a CCJ deve atestar a constitucionalidade do processo a que responde por quebra de decoro e no próximo dia 11 o Senado levará ao plenário, em votação secreta, o processo de cassação do político goiano.

Demóstenes Torres voltou a afirmar nesta segunda que foi amigo de Carlinhos Cachoeira, mas negou ter cometido qualquer irregularidade. Rejeitou também a acusação de que utilizava seu mandato para atender aos interesses do bicheiro. “O tormento parece sem fim. A aflição se descobre interminável porque atinge o cristal da reputação. Minha saga a cada fim de noite é buscar os cacos de minha biografia”, resumiu ele. “Onde coube um adjetivo pejorativo, ali estava meu nome associado a alguma ignomínia”, disse.

O senador, que em defesa no Conselho de ��tica já havia apelado para a religiosidade para tentar convencer seus pares de que não tinha negócios com Cachoeira, disse hoje estar em meio a “125 dias de demolição”, a “um calvário sem trégua”. Mesmo confrontado com interceptações telefônicas em que aparece pedindo dinheiro para que Cachoeira pague um táxi aéreo, Demóstenes insiste no argumento de que não mantinha qualquer negócio com o contraventor. “Não me pesa a consciência, ela continua limpa”, afirmou. A estratégia do político goiano é de utilizar durante toda a semana a tribuna do Senado para apresentar argumentos que possam livrá-lo da cassação. Como a votação é secreta, o parlamentar conta em ter apoios para se manter como senador.

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“Nada fiz para desconstrução da minha honra. Fui amigo de Carlinhos Cachoeira e conversava frequentemente com ele por telefone, mas nunca tive negócios legais ou ilegais com ele. Não tenho nem sociedade nem nada a ver com os delitos investigados pelas operações Vegas e Monte Carlo”, declarou ele no plenário. Sua defesa nesta segunda-feira, porém, foi acompanhada por apenas cinco senadores: Paulo Paim (PT-RS), Pedro Taques (PDT-MT), Aníbal Diniz (PT-AC), Ana Amélia (PP-RS) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

Voto secreto – Em julho de 2009, quando presidia a CCJ, o próprio Demóstenes Torres conduziu uma sessão que culminou com a aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que acabava com o voto secreto e obrigava que os parlamentares mostrassem publicamente suas posições na aprovação ou exoneração de autoridades, em processos de perda de mandato e na apreciação do veto presidencial a projetos de lei.

“A manutenção do voto secreto, nos dias de hoje, é um anacronismo e um atentado ao princípio democrático. Esse princípio exige que o eleitor possa saber como votou o seu mandatário em todas as matérias a ele submetidas”, disse em seu relatório na ocasião o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), atual presidente do Conselho de Ética.

A PEC, no entanto, não foi apreciada em plenário, o que não permite que a votação aberta seja aplicada de imediato no caso de Demóstenes Torres. É exatamente na votação secreta na próxima semana que o senador se apega para tentar manter o mandato.

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