Quando foi indicado para a presidência da CPI da Petrobras, em fevereiro, o peemedebista Hugo Motta prometeu disputas políticas virulentas contra o PT caso qualquer cacique governista ousasse empastelar a comissão destinada a investigar o escândalo do petrolão. Em entrevista ao site de VEJA na ocasião, fez loas às virtudes do republicanismo e rejeitou o histórico conchavo corporativista do Congresso. Oito meses depois, o que se viu foi mais um exemplo de CPI que chega ao fim sem trazer à tona grandes revelações sobre aquilo que se propôs apurar. O colegiado se tornou mero instrumento político para embarreirar apurações de interesse da sociedade – e termina com a aprovação de um relatório vergonhoso do petista Luiz Sérgio, que se soma à lista de constrangimentos que a CPI da Petrobras representou para o Congresso. E para o país.
Os trabalhos da comissão chegaram ao fim melancolicamente na madrugada desta quinta-feira, sem avançar um milímetro nas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público no âmbito da Operação Lava Jato. Não à toa, uma das frentes em que a CPI menos avançou foi justamente a apuração sobre os parlamentares investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de participarem do esquema de corrupção. Pelo contrário, o que se viu foram sucessivas tentativas de desacreditar os delatores do escândalo, sobretudo os que narraram à força-tarefa da Lava Jato como políticos se beneficiaram dos desmandos na estatal – lista que inclui parlamentares como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ex-presidente Lula, ministros e ex-ministros do governo, além, é claro, de José Dirceu.
Ainda que as investigações indiquem que Dirceu tenha recebido 11,8 milhões de reais em propina ou que o Ministério Público suíço afirme que as quatro contas secretas de Cunha receberam 23,2 milhões de reais, nenhum político foi chamado a prestar esclarecimentos, com exceção do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto. E o espectador ainda teve de ouvir o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), atacar a legitimidade da Operação Lava Jato, da Polícia Federal e do Ministério Público.
Ao longo de infindáveis 56 reuniões de trabalho, cada aprovação de quebra de sigilo servia de ribalta para deputados de pouca expressão tentarem segundos de notoriedade. Convocações como a do diretor-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, estrategicamente nunca consolidadas, serviam de moeda de troca para blindagem de caciques intocáveis. A mise-en-scène escancarou-se em dois episódios: no constrangedor depoimento do empreiteiro Marcelo Odebrecht em 1º de setembro e na atuação de Celso Pansera (PMDB-RJ), que insistia em afrontar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e pedir a quebra de sigilos bancários e telefônicos das filhas e da ex-mulher do doleiro Alberto Youssef. O peemedebista acabou brindado com o Ministério de Ciência e Tecnologia na recente reforma ministerial do governo Dilma.
Com o intuito de desacreditar os delatores, a empresa de espionagem Kroll foi contratada para encontrar inconsistências e contas secretas dos colaboradores as Justiça em uma estratégia que poderia colocar em xeque os depoimentos que eles deram contra políticos. O contrato foi rescindido sem resultados concretos.
Dado que os interesses dos parlamentares frequentemente se chocam com a apuração de denúncias, não é surpresa que a CPI termine dessa maneira. Essa tem sido, afinal, a regra no Congresso. Quando se está diante de um escândalo da proporção do investigado pela Lava Jato, contudo, o sentimento de frustração é ainda maior – se pudesse ser mensurado em números, seria comparável apenas às cifras bilionárias desviadas dos cofres da Petrobras.