Diretor da Precisa Medicamentos se cala e irrita senadores da CPI
Danilo Trento possui habeas corpus que lhe dá o direito de não responder a algumas perguntas; comissão quer saber qual seu envolvimento no caso Covaxin
A CPI da Pandemia ouviu nesta quinta-feira, 23, o empresário Danilo Trento, suspeito de ser o elo da Precisa Medicamentos com políticos, como o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Além disso, os senadores querem saber qual o grau de envolvimento dele com Francisco Maximiano, dono da farmacêutica, e suspeitam que ele teria viajado com o dono da empresa à Índia para negociar a vacina indiana Covaxin.
O depoente conseguiu junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) um habeas corpus que assegura o seu direito ao silêncio para não se autoincriminar durante a audiência. O HC foi concedido pelo ministro Luís Roberto Barroso e também dá direito a Trento de não assinar termo de compromisso na qualidade de testemunha.
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O depoimento
Com habeas corpus que lhe dava o direito de ficar em silêncio diante de perguntas que pudessem incriminá-lo, o depoente se negou a responder algumas perguntas no início do depoimento, mas confirmou que atua como diretor institucional da Precisa e disse que sua empresa, a Primarcial Holding e Participações, não tem relação com Francisco Maximiano, dono da farmacêutica e seu amigo pessoal.
Questionado sobre qual seria a parcela do pagamento de 20 milhões de doses da Covaxin destinada à remuneração da Precisa e sobre as negociações da companhia junto ao Ministério da Saúde, o depoente disse que não participou das tratativas e que, por isso, não saberia responder. Trento também negou ser o ‘verdadeiro dono’ da Precisa.
Sobre a suspeita da CPI de que Trent teria participado da viagem à Índia para negociar vacinas e testes, Trento confirmou que foi ao país asiático duas vezes. Segundo ele, Francisco Maximiano e Emanuela Medrades o acompanharam. Posteriormente, confirmou que Felipe Maximiano, Rafael Barão, Elson de Barros e Leonardo Ananda Gomes também foram à Índia. O relator afirmou ter provas que Trent viajou mais de duas vezes àquela nação.
Diante da negativa de responder qual sua forma de remuneração e quanto receberia, a comissão aprovou a quebra de sigilos bancário e telemático de Danilo Trento e do seu irmão, Gustavo Trento.
Envolvimento no caso Covaxin
De acordo com o senador Randolfe Rodrigues, Danilo Trento é sócio da empresa Primarcial Holding e Participações, com sede em São Paulo e no mesmo endereço da empresa Primares Holding e Participações, cujo sócio é Francisco Maximiano. A Precisa, como se sabe, representou a indiana Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, no contrato para compra dos imunizantes pelo Ministério da Saúde.
“Recebemos também informações de que Danilo e Maximiano viajaram juntos à Índia para as negociações em torno dos testes de Covid e da vacina Covaxin”, explicou em seu requerimento o parlamentar.
Alguns senadores acreditam ainda que Danilo Trento tenha relações comerciais com o suposto dono da FIB Bank, Marcos Tolentino. A FIB Bank foi a empresa escolhida pela Precisa para oferecer garantia no contrato de compra da vacina. Apesar do nome, não se trata de um banco e, pelas investigações, a instituição não teria condições mínimas de arcar com a garantia oferecida.
A intenção do Ministério da Saúde era comprar 20 milhões de doses da Covaxin do laboratório indiano Bharat Biotech, mas em 29 de julho o contrato foi definitivamente cancelado, após as denúncias de irregularidades apresentadas à CPI pelo deputado federal Luis Miranda e seu irmão Luis Ricardo, que é funcionário do Ministério da Saúde. Com isso, o pagamento não chegou a ser efetivado pelo governo.
(com Agência Senado)