Bancada do DEM apoia Mandetta; líder do governo ameniza entrevista
Líder demista na Câmara exalta 'convicções técnicas, baseadas na ciência', enquanto oposição também elogia ministro para atacar Bolsonaro
A entrevista na qual o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mandou recados críticos ao presidente Jair Bolsonaro sobre a postura do chefe do Executivo no combate ao coronavírus foi bem recebida por aliados de Mandetta e vista como uma importante tomada de posição.
Na entrevista ao Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 12, o ministro da Saúde disse que o brasileiro “não sabe se escuta o ministro da Saúde, se escuta o presidente, quem é que ele escuta”. Mandetta ressaltou ainda que o período mais crítico da Covid-19 no país ocorrerá entre os meses de maio e junho – Bolsonaro havia dito que “parece que está começando a ir embora essa questão do vírus”.
A posição do ministro de apoiar o isolamento social mais amplo contraria a do presidente, que cogitou demitir o auxiliar na semana passada, mas foi demovido por ministros palacianos. Questionado nesta segunda-feira, 13, sobre a entrevista, Jair Bolsonaro respondeu: “Não assisto à Globo”.
“Ele foi equilibrado e sereno, marcou bem sua posição e soube transmitir sua mensagem, foi uma boa iniciativa. Ele voltou a afirmar suas convicções técnicas, baseadas na ciência, ao mesmo tempo em que o presidente fez aglomeração, apertou a mão das pessoas. Esperamos que ele continue no cargo, isso é uma boa notícia ao Brasil. Ele tem conquistado respeito e confiança da família brasileira”, disse a VEJA o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB). A bancada do partido também elogiou as declarações de Mandetta, que é ex-deputado.
Segundo Efraim, o fato de o ministro da Saúde ter concedido a entrevista no Palácio das Esmeraldas, sede do governo de Goiás, comandado por Ronaldo Caiado (DEM), que rompeu recentemente com Bolsonaro, deve-se à ida de Mandetta ao estado no sábado 11. Na ocasião, ele, Bolsonaro e Caiado visitaram a obra de um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás. “Já estava programado que ele permaneceria lá”, diz o líder.
Membro de outro partido do chamado “Centrão” do Congresso, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) escreveu no Twitter esperar que Bolsonaro tenha assistido à entrevista e “assuma a responsabilidade de ser o líder do enfrentamento ao único inimigo que importa no momento que é o COVID-19”. “O presidente não pode continuar estimulando a desobediência as orientações do Ministério da Saúde”, escreveu Ramos.
Entre os aliados do presidente, o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), contemporiza as declarações do ministro da Saúde e ressalta a declaração de Mandetta sobre estar no cargo por escolha do presidente. “Se eu estou ministro da Saúde, eu estou ministro da Saúde por obra de nomeação do presidente”, afirmou o ministro.
“Prestei mais atenção na fala em que ele disse que está lá por conta da nomeação do presidente Bolsonaro e que espera uma sintonia nas providências de combate. Ele é ministro, tem a confiança do presidente, estamos preocupados com as condições concretas com as quais ele tem combatido a doença, o momento não é falar de política. Eles falam todo dia. A qualquer dúvida, ele deixa claro que está lá por deliberação do presidente”, disse Gomes a VEJA.
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Clique e AssineIntegrante da tropa de choque bolsonarista no Congresso, contudo, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) externou no Twitter a avaliação compartilhada por outros aliados de primeira ordem do presidente, a de que Luiz Henrique Mandetta está tentando “forçar” sua demissão.
Já parlamentares da oposição, como o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o vice-líder da oposição Orlando Silva (PCdoB-SP) e o senador Humberto Costa (PT-PE), demonstraram no Twitter apoio às declarações de Mandetta e criticaram a postura do presidente: