Conselho Europeu critica apatia internacional frente aos abusos na Venezuela
Donald Tusk, presidente do órgão, disse estar 'insatisfeito' com a ausência de um posicionamento firme na declaração final do encontro entre a União Europeia e a Celac
Os abusos cometidos pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro passaram batidos na declaração final da reunião entre as cúpulas da União Europeia (UE) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Para o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, os representantes das 61 nações participantes deveriam ter adotado um posicionamento mais firme contra as violações de direitos humanos cometidas pelas autoridades do país bolivariano. “Eu não estou completamente satisfeito com a linguagem final de nossa declaração, mas, como vocês sabem, ela é fruto do compromisso de mais de sessenta países europeus e latino-americanos”, afirmou Tusk nesta sexta-feira, segundo o jornal americano The Wall Street Journal.
O posicionamento de Tusk contrasta fortemente com a declaração final formulada após o encerramento do encontro entre a UE e a Celac, na quinta-feira. Em tom crítico, os países chamaram de “medidas coercitivas” as sanções diplomáticas e econômicas impostas a funcionários do governo venezuelano pelos Estados Unidos, em março deste ano. As punições foram adotadas após o presidente americano Barack Obama ter aprovado um decreto considerando a Venezuela uma “ameaça à segurança nacional”.
O presidente equatoriano Rafael Correa, que representava os países latino-americanos e do Caribe, fez duros ataques a Washington durante a cúpula e classificou as sanções de unilaterais e ilegais. A presidente brasileira Dilma Rousseff também endossou as declarações de seu aliado bolivariano e disse rechaçar medidas “golpistas e políticas de isolamento”. “Sabemos que tais medidas são contraproducentes, ineficazes e injustas”, afirmou. Não houve qualquer menção ao autoritarismo e à repressão empregados por Maduro para silenciar a oposição venezuelana.
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O Wall Street Journal ressalta que tem crescido a preocupação dos chefes de Estado europeus com relação à deterioração das instituições democráticas na Venezuela. Em março, o Parlamento Europeu exigiu a libertação dos presos políticos acusados por Maduro de tentarem desestabilizar o governo. Mas, apesar dos temores nutridos pela UE, as nações do continente não parecem interessadas em seguir o exemplo americano e aplicar sanções contra Maduro. É raro existir um consenso no bloco em torno de punições diplomáticas e, para alguns representantes europeus, a aprovação destas medidas funcionaria como combustível para inflamar o discurso populista de Maduro. O presidente venezuelano diz que a drástica queda na sua popularidade é resultado de uma conspiração internacional e atribui com frequência os problemas econômicos e sociais do país a “agentes externos” e “imperialistas”.
“Se aprovarmos sanções contra um regime tão histérico como o de Maduro, teremos um retorno muito pequeno. A discussão toda estaria concentrada em quando deveríamos acabar com as sanções, e não no que é preciso ser feito”, afirmou Jose Ignacio Torreblanca, chefe de relações exteriores da Espanha no Conselho Europeu. Para o diplomata, “a maior questão [a ser discutida no momento] é o silêncio do restante da América Latina” diante dos desmandos do presidente bolivariano.
Oposição premiada – Os opositores Leopoldo López, María Corina Machado e Antonio Ledezma receberam nesta sexta-feira um prêmio da cidade espanhola de Cádiz pelo “empenho e sacrifício demonstrados em defesa das liberdades” na Venezuela. López, chefe do partido Vontade Popular, está preso em uma penitenciária militar desde que o governo o responsabilizou pelas mortes de 43 pessoas ocorridas nas manifestações populares do ano passado. Ele está em greve de fome há quase vinte dias em protesto contra o autoritarismo de Maduro. A ex-deputada María Corina teve seu mandato ilegalmente caçado pelo regime chavista por endossar as passeatas, enquanto Ledezma, o prefeito de Caracas, foi preso acusado de conspiração. Ele está em prisão domiciliar desde que passou por uma cirurgia de emergência.
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(Da redação)