Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Ex-comandante da Rota: “Acham que depois do que aconteceu eu tomei um copo de sangue?”

Tenente-coronel Salvador Modesto Madia, um dos comandantes da invasão ao presídio em 1992, negou autoria das 73 mortes atribuídas a ele e outros 24 réus

Por Da Redação
1 ago 2013, 16h24

Em depoimento que durou mais de cinco horas, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que comandou a tropa de retaguarda da invasão ao pavilhão nove do Carandiru, em outubro de 1992, negou que ele e seus homens tenham matado detentos no presídio. Comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) de novembro de 2011 a setembro de 2012, Madia também defendeu o batalhão da acusação de ter uma atuação truculenta. “As pessoas acham que cheguei em casa e tomei um copo de sangue depois do que aconteceu?”.

Madia e outros 24 PMs são acusados das mortes de 73 detentos no segundo andar do pavilhão nove. Indagado pelo juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo se ele tinha assassinado presos, o coronel respondeu: “Não fui eu nem os meus homens”. Questionado se policiais mataram detentos, Madia foi sucinto: “Não sei. Fiquei 15 minutos no local e nunca mais voltei”.

Madia relatou a entrada da tropa no segundo andar da Casa de Detenção, foco da rebelião dos presos. No local, ele disse que viu de dez a doze detentos mortos no corredor, e de quinze a vinte corpos entre as barricadas de fogo montadas pelos presos para impedir o avanço da polícia. Segundo o coronel, o local estava muito escuro, havia fumaça, água e óleo por toda parte e a situação era “bastante adversa”.

“Enquanto subia os lances de escada, ouvi disparos de armas de fogo. E cada vez mais o barulho dos tiros aumentava”, disse Madia. Todos os policiais ouvidos no júri reafirmam a tese de que revidaram ao ataque dos detentos e que eles estariam armados. Segundo Madia, muitos policiais saíram feridos do confronto. “Os policiais sentiam mais medo de serem infectados pela aids por golpes de estilete do que de serem alvejados”, afirmou Madia.

Interrogado pelo promotor, Fernando Pereira, Madia falou sobre algumas infrações cometidas por ele ao longo dos seus 31 anos de carreira militar, entre elas trotes aplicados a calouros, que lhe custaram até 30 dias de prisão. Pereira destacou o fato do PM se recordar com detalhes desses acontecimentos – alguns ocorridos em 1983 e 1986 -, e não se lembrar de vários episódios ocorridos no massacre do Pavilhão Nove, em outubro de 1992.

Continua após a publicidade

Histórico – Quando assumiu o comando da Rota, o tenente-coronel afirmou, em entrevista a VEJA São Paulo, que não “fica contando” quantos já matou. Ele acabou sendo afastado do comando após homens do batalhão terem matado nove suspeitos em um sítio em Várzea Paulista. No período em que comandou o batalhão, os homens da Rota mataram 20% mais suspeitos entre janeiro e agosto de 2012 do que no mesmo período do ano anterior. Foram 65 mortes.

Leia também:

Carandiru: PMs condenados só cumprirão pena após 2020

Acervo digital: O horror no Carandiru​

Após a troca, Madia foi comandar o 4º Batalhão de Choque (BPChq), onde permaneceu até a semana passada, quando foi transferido para um posto ainda sem definição no Comando de Policiamento da Capital (CPC). O governo disse que a transferência foi uma “conveniência” sem relação com a proximidade do julgamento.

Continua após a publicidade

No lugar de Madia na Rota foi nomeado o tenente-coronel Nivaldo César Restivo, que foi denunciado em outra ação do massacre do Carandiru – ele responde por agressões na chamada “operação rescaldo”, quando presos foram espancados após o massacre.

Madia foi o quinto oficial interrogado nesta segunda fase do julgamento do massacre do Carandiru. Antes dele, falaram o coronel Valter Alves Mendonça , o major Marcelo González Marques e os tenentes-coronéis Carlos Alberto dos Santos e Edson Pereira Campos. Outros dezoito PMs, a maioria não-oficiais, se recusaram a responder perguntas do juiz e da promotoria.

Vinte e três dos 25 réus estão presentes no julgamento. Dois deles foram dispensados de comparecer após a defesa apresentar atestados médicos. Após o depoimento de Madia, a continuação do júri nesta quinta-feira será dedicada também à leitura de peças do processo por parte dos jurados.

(Atualizado às 18h15)

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.