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Carandiru: 18 réus se calam e oficias alegam reação a tiros

Julgamento prosseguirá nesta quinta-feira; na fase atual, vinte e cinco PMs respondem por 73 mortes ocorridas durante invasão ao presídio em 1992

Por Jean-Philip Struck
31 jul 2013, 22h07

Atualizado às 3h35

Dezoito dos 25 réus julgados por sua atuação no massacre do Carandiru se recusaram a responder a perguntas da promotoria na sessão do júri iniciada na manhã desta quarta e terminada na madrugada desta quinta-feira. Todos que optaram pelo silêncio, sargentos e soldados da Polícia Militar, invocaram o direito de ficar calados. O promotor Eduardo Olavo chegou a apelar para que eles dessem sua versão. “Os jurados têm de ouvir a versão da tropa, e não só dos oficiais”, disse aos réus. Mas o pedido não fez os sargentos e soldados mudarem de opinião – no máximo, alguns deles se manifestaram para declarar inocência.

Até o fim da sessão, que durou quase 15 horas e acabou por volta das 2h30, apenas quatro oficiais prestaram depoimento – agora falta só o do tenente-coronel Salvador Modesto Madia, comandante da Rota entre novembro de 2011 e setembro de 2012, que deve ser ouvido na tarde desta quinta. Um dos que falaram foi o major Marcelo González Marques, tenente à época do massacre. Até sexta-feira, no dia útil anterior ao início do julgamento, ele ainda fazia parte das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Uma resolução o transferiu para o Comando de Policiamento da Capital (CPC).

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Ao rememorar os acontecimentos do dia 2 de outubro de 1992, data do massacre, Marques disse que os policiais haviam sido alertados de que poderiam encontrar presos no Pavilhão Nove – onde ocorria uma rebelião – armados com revólveres, sacos de fezes e agulhas contaminadas com o vírus HIV.

“O local era escuro e sujo, mas eu podia ver o clarão dos tiros disparados”, disse o major, repetindo a versão que vem sendo apresentada pela defesa: os presos atiraram contra os policiais. “Gritávamos para eles largarem as armas e entrarem nas celas, mas eles efetuaram disparos contra a tropa”, afirmou Marques, que contou ainda ter sido cortado por um dos presos.

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Antes de Marques, os jurados ouviram o coronel Valter Alves Mendonça, o mais graduado dos réus. Ele é o oficial que liderou os homens da Rota na tomada do segundo andar do Pavilhão Nove, onde morreram 73 presos. À época, ele era capitão.

Em depoimento conflitante com relatos de sobreviventes e laudos periciais, Mendonça afirmou que as ações dos PMs foram uma reação ao comportamento dos presos, que atiraram, agrediram e cortaram os policiais. A acusação tentou explorar algumas contradições dos policiais ao interrogar Mendonça e Marques, mas ignorou confrontar as afirmações sobre disparos por parte dos presos com os laudos periciais como a ausência de marcas de bala na direção dos policiais.

O último ouvido na sessão foi o tenente-coronel Carlos Alberto dos Santos. Ele repetiu a afirmação de que os presos dispararam contra os PMs, que por sua vez apenas reagiram. “Levei um tiro na perna, saí de lá com ajuda de outros policias”, lembrou Santos, que ainda declarou que sua família ficou traumatizada com o tudo o que ocorreu na época.

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Comandante – A partir das 13 horas desta quinta, quando o julgamento for retomado, é esperado o interrogatório do tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que foi comandante da Rota entre novembro de 2011 e setembro de 2012. Ele acabou sendo afastado do comando após homens do batalhão terem matado nove suspeitos em um sítio em Várzea Paulista.

Após o episódio, Madia foi comandar o 4º Batalhão de Choque (BPChq), onde permaneceu até sexta, quando também foi transferido para um posto ainda sem definição no CPC. O governo disse que a transferência foi uma “conveniência” não ligada ao fato da proximidade com o julgamento.

No lugar de Madia na Rota foi nomeado o tenente-coronel Nivaldo César Restivo, que foi denunciado em outra ação do massacre do Carandiru – ele responde por agressões na chamada “operação rescaldo”, quando presos foram espancados após o massacre.

Vinte e três dos 25 réus estão presentes do julgamento. Dois deles foram dispensados de comparecer após a defesa apresentar atestados médicos. A continuação do júri nesta quinta será dedicada também à leitura de peças do processo por parte dos jurados. A sentença é esperada para o próximo sábado.

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