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Carandiru: coronel diz que presos atiraram e feriram policiais

Valter Mendonça, o mais graduado entre os 25 PMs réus, disse ao júri que presos tinham armas e que foi ferido na perna por estilete na invasão

Por Jean-Philip Struck
31 jul 2013, 15h43

Primeiro dos réus a ser interrogado nesta segunda fase do julgamento do Carandiru, o coronel Valter Alves Mendonça disse que presos rebelados agrediram e atiraram nos policiais militares e que o uso da força por parte da PM para retomar o controle do pavilhão nove do presídio não foi desmedido e gratuito, mas uma reação necessária.

Na ação da polícia para conter uma rebelião, em outubro de 1992, morreram 111 detentos do pavilhão. Não houve nenhuma baixa no lado da polícia.

Oficial mais graduado entre os 25 réus que estão sendo julgados nesta semana, Mendonça foi responsável por liderar a entrada dos homens das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) no segundo andar do pavilhão, onde morreram 73 presos. À época, ele tinha a patente de capitão – foi reformado há um ano e meio.

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Ao rememorar a sequência dos acontecimentos no dia do massacre, a versão de Mendonça passou longe da descrição contada pelos sobreviventes e apoiada por laudos periciais.

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O coronel afirmou que as mortes testemunhadas por ele no segundo andar ocorreram em pelo menos quatro embates com a polícia nos corredores e que ele encontrou três armas entre presos abatidos pelos PMs. O Ministério Público sustenta que as armas que a PM afirma ter apreendido no pavilhão foram “plantadas” pela própria polícia.

Quando citou casos em que policiais atiraram, Mendonça disse que as ações foram sempre uma reação às agressões dos presos, que, segundo o coronel, dispararam, bateram e usaram estiletes para cortar policiais. “Eu mesmo levei uma porretada e uma estiletada na perna”, afirmou. O coronel disse ainda que na ocasião portava uma submetralhadora e que chegou a dispará-la pelo menos cinco vezes. Além disso, afirmou que usou a coronha da submetralhadora para golpear um preso que o teria atacado. Mendonça contou ter ficado cerca de 15 minutos no pavilhão.

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“Ao dar os primeiros passos, a uns 7 metros, vi clarões, ouvi estampidos e senti impactos no escudo. Nesse momento, efetuei disparos”, disse.

“Se eles [os presos] quisessem, teriam se rendido”, completou.

O coronel também afirmou que, antes da entrada da PM no pavilhão, a preocupação da cúpula de segurança era com um possível alastramento da rebelião para outros pavilhões, com uma eventual fuga em massa e com a suposta violência entre os presos rebelados. “Começamos a entrar pelo pátio e já encontrei quatro corpos de presos. Um deles sem cabeça”, afirmou.

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Logo após essa citação do suposto prisioneiro decapitado, o promotor Eduardo Olavo disse que Mendonça nunca havia dito isso em depoimentos anteriores e perguntou ao coronel por que ele nunca havia falado desse caso. “Talvez, naquela ocasião, não tenha achado relevante”, disse o coronel.

O promotor também perguntou a Mendonça se ele conhecia o tenente-coronel Luiz Nakaharada, que comandava o 3º Batalhão de Choque à época do massacre e também participou da ação no segundo andar. “É um dos meus ídolos”, disse Mendonça. Nakaharada, que também é réu e deve ser julgado posteriormente, responde sozinho por cinco mortes de presos.

Inexperiência – Ao ser perguntado pela promotoria se a Rota e seus homens tinham experiência em reprimir rebeliões em presídios, o coronel admitiu que a tropa era inexperiente. “Minha tropa não tinha treinamento específico para entrar em presídios, mas elaboramos um plano de ação antes da invasão”, disse. Além de Mendonça, outros quatro PMs devem ser interrogados nesta quarta-feira.

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Em alguns momentos, a promotoria disse que, nas respostas dadas diante do júri, o coronel entrou em contradição com depoimentos anteriores – incluindo um dado a uma CPI instaurada depois do massacre. O promotor Olavo perguntou ao PM se ele havia prestado algum juramento de falar a verdade na CPI. Mendonça respondeu que não se lembrava.

O interrogatório do coronel durou mais de três horas. Ao final, estimulado pela sua defesa, ele afirmou que queria “fazer um desabafo” e começou a chorar enquanto contava sobre sua trajetória na polícia. “Quero crer que cumpri com meu dever de oficial de elite”, finalizou.

No fim do seu depoimento, Mendonça falou de seu período na Rota, onde ingressou no fim dos anos 70. “Trabalhar na Rota é diferente; vou dizer até que é um sacerdócio”

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