Vídeo mostra crianças brincando antes de bombardeio no Iêmen
Ataque da coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita deixou ao menos 29 crianças mortas
Um vídeo divulgado pela imprensa do Iêmen mostra os momentos que antecederam o bombardeio desta quinta ((9) que matou 29 crianças em um ônibus escolar. As imagens foram gravadas por um dos meninos que viajava com a turma, Osama Zeid Al Homran.
Na filmagem, é possível ver as crianças dentro do ônibus, brincando e conversando em voz alta. Um pai do lado de fora do veículo acena pela janela.
As crianças, de 6 a 11 anos, participavam de uma viagem escolar, para comemorar sua formatura na escola de férias. Porém, o veículo em que viajavam foi atingido por um bombardeio, atribuído à coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita.
No momento do ataque, o ônibus estava em um frequentado mercado de Dahyan, em Saada, uma zona no norte do Iêmen controlada pelos rebeldes houthis
A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, que intervém desde 2015 contra os rebeldes, anunciou que vai abrir uma investigação sobre o ataque aéreo. O grupo militar assumiu a responsabilidade pelo bombardeio, mas garantiu que visava a atingir um ônibus no qual viajavam “combatentes houthis”.
O vídeo
Nas imagens divulgadas pela imprensa iemenita, é possível ver os meninos felizes, animados com o passeio. Eles viajavam em direção um cemitério destinado aos combatentes houthis, um dos poucos espaços verdes que não foram destruídos na região de Saada, segundo a imprensa local.
“Por causa da guerra, a maioria dos parques e jardins foram destruídos”, explicou Yahya Hussein, o professor dos meninos que sobreviveu ao ataque à emissora americana CNN. “As áreas mais bonitas são os santuários para mártires e mesquitas”, disse.
Segundo Hussein, a turma acabara de terminar um curso de religião realizado durante as férias da escola regular e fazia o passeio para comemorar a formatura.
No vídeo, é possível ver os colegas de classe durante a visita ao cemitério. Eles são mostrados recitando versos do Alcorão. No momento em que a aula termina, as crianças correm para brincar.
Osama Zeid Al Homran, que usou um celular para fazer o vídeo, pode ser ouvido gritando para seus amigos: “Espere! Vamos tirar uma foto!”.
Mais tarde no mesmo dia, quando os estudantes voltaram ao ônibus, foram atingidas pelo bombardeio. Ao menos 29 crianças morreram, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
Os rebeldes houthis divulgaram um balanço mais elevado. O ministro da Saúde houthi, Taha el-Moutawakel, anunciou 51 mortos, incluindo 40 crianças, e 77 feridos, a maioria menores de idade.
Funerais
Milhares de iemenitas expressaram nesta segunda (13) sua revolta contra Arábia Saudita e Estados Unidos durante os funerais das crianças mortas no bombardeio. A cerimônia fúnebre aconteceu na cidade de Saada.
Os caixões chegaram a uma grande praça de Saada a bordo de quase 50 veículos cobertos com bandeiras verdes. Os ataúdes, também cobertos de verde e com os retratos das vítimas, foram colocados no chão para a cerimônia funerária.
A multidão gritou frases contra os Estados Unidos e Israel e denunciou “um crime dos sauditas contra a infância iemenita”.
A guerra do Iêmen deixou 10 000 mortos desde a intervenção da coalizão liderada pelos sauditas em março de 2015 e provocou a “pior crise humanitária” no mundo, segundo a ONU.
Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, três dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, apoiam a coalizão saudita em sua campanha conta os rebeldes houthis no Iêmen, mas expressaram sua preocupação com o alto número de vítimas civis deixados nos últimos anos
A ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch criticou que o Conselho não tenha exigido uma investigação imparcial. “A triste realidade é que se deu aos sauditas a oportunidade de investigarem a si próprios e os resultados são ridículos”, afirmou a vice-diretora da HRW para a ONU, Akshaya Kumar.
A coalizão liderada por Riad intervém no Iêmen para apoiar as forças do presidente Abd Rabo Mansur Hadi. O grupo combate os rebeldes houthis que tomaram importantes setores do país, incluindo a capital, Sanaa.