Talibã condena à morte irmão de tradutor que auxiliou militares americanos
Cartas obtidas pela CNN indicam espécie de caçada a afegãos que colaboraram com americanos, indo contra a proposta de "anistia geral" indicada pelo grupo
O grupo islâmico Talibã condenou à morte o irmão de um tradutor afegão, acusando-o de ajudar os Estados Unidos e fornecer segurança ao intérprete, que teria atuado junto a militares americanos, segundo cartas obtidas pela rede americana CNN. De acordo com o veículo, um ex-militar que trabalhou com o tradutor confirmou serviços prestados e a condenação do irmão.
“Você foi acusado de ajudar os americanos”, escreveu um representante do Talibã na primeira das três cartas ao afegão. “Você também é acusado de fornecer segurança a seu irmão, que era intérprete”, diz o documento.
Embora o grupo tente se mostrar mais moderado em relação ao período em que governou o país, de 1996 a 2011, o movimento ainda é visto com muito ceticismo pela comunidade internacional e pelos moradores mais velhos do Afeganistão, que se lembram das visões islâmicas ultraconservadoras que estiveram em vigor.
As cartas obtidas pela CNN indicam uma espécie de caçada a afegãos que trabalharam junto com os americanos, indo contra a proposta de “anistia geral” indicada pelo grupo assim que tomaram a capital, Cabul.
O grupo começou sua investida para retomar o controle do Afeganistão em maio, após o início da retirada das tropas estrangeiras do país, sobretudo americanas. No último dia 11, o serviço de inteligência dos EUA apontou que os extremistas poderiam tomar a capital em 90 dias, porém a sua queda ocorreu mais rápido do que o esperado.
Após conquistar uma série de capitais provinciais na última semana, os fundamentalistas sitiaram Cabul no domingo 14, movimento que fez com que o presidente Ashraf Ghani partisse para o Uzbequistão com sua esposa e dois assessores próximos. Poucas horas depois, o grupo entrou no Palácio Presidencial e fez um pronunciamento à mídia afirmando que tem o total controle sobre o país.
Cartas
Ao todo, a história é contada em três documentos. Em uma primeira carta, escrita à mão, um representante do grupo ordena que o homem compareça a uma audiência. A segunda, também à mão, é um aviso de que ele não compareceu à audiência marcada.
Na terceira e última carta, segundo a CNN, o grupo notifica o homem que, por ignorar os avisos para cessar “servidão aos cruzados invasores” e uma intimação à audiência, ele é “culpado à revelia” e será condenado à morte.
“Essas decisões judiciais são finais e você não terá o direito de se opor”, diz o documento, acrescentando que “você escolheu este caminho para si mesmo e sua morte é iminente”.