Até há muito pouco tempo, viajantes descolados sabiam que certas coisas simplesmente não se levavam na mala –nem escondidas– quando se viajava a Singapura. Drogas e entorpecentes estavam entre os itens proibidos mais óbvios: já no avião rumo ao país os cartõezinhos de imigração vinham com uma advertência em letras grandes e vermelhas que dizia “Aviso: Tráfico ou possessão de drogas são punidos com a pena de morte em Singapura”.
Parece um tanto radical, mas outros objetos –armas, facas, espadas, canivetes, medicamentos sem receita, frutas e pornografia– também eram proibidos e, caso fossem encontrados com o viajante, podiam render de multa pesada a algumas boas chibatadas em praça pública.
Entretanto, um item específico sempre deixou viajantes intrigados: chicletes e gomas de mascar eram estritamente vetados no país. Não podiam passar pela alfândega, não podiam ser comercializados no país e –se por algum milagre– você tivesse conseguido passar com alguma coisa que se assemelhasse a um chiclete esquecido em algum bolso de uma calça usada no fundo da sua mala, você certamente não podia consumir o objeto do opróbrio em público.
Caso fosse pego mascando chiclete no MRT (o moderníssimo, limpíssimo e eficientíssimo sistema de metrô espalhado por todos os pontos da ilha principal da cidade-Estado; há outras 62 ilhotas que também fazem parte do país) –ou comendo ou bebendo qualquer coisa nos vagões– a multa de cerca de 1.000 dólares era certeira. Cuspir o chiclete (ou qualquer outra coisa) no meio da rua podia render, além da multa, de cinco a dez chibatadas em público.
Os chicletes passaram a ser permitidos no país ao longo da última década (drogas continuam sendo proibidas e punidas com a pena de morte), mas Singapura ficou mais pop, mais chique, (muito) mais cara e um tanto mais artificial que no começo dos anos 2000.
Se por um lado o pequeno país de 624 km2 (cerca de um 30% do tamanho da cidade de São Paulo) enveredou pelo caminho da artificialidade que caracteriza Dubai ou Las Vegas, por outro lado, a riqueza cultural e histórica de Singapura garantiu uma certa qualidade orgânica à nação, que só deixou de ser colônia britânica em 1963.
A independência era parcial: originalmente, Singapura e a atual Malásia formaram uma federação chamada de Malaia. As diferenças culturais –a Malásia é extremamente islâmica, enquanto Singapura é mais diversa– fizeram com que a federação fosse dissolvida em 1965 para que seus dois integrantes seguissem rumos independentes.
Se Singapura for sua primeira parada asiática prepare-se para ficar um pouco desorientado: cultura colonial britânica, uma grande população tamil-hindu de origem indiana e cingalesa, além de asiáticos de origem chinesa e malaio-indonésia. Praticamente não há um cidadão que não fale pelo menos duas das quatro línguas oficiais locais.
Com pouco menos de 6 milhões de habitantes, muitos deles expatriados ocidentais trabalhando para filiais de grandes bancos e multinacionais, o país possui uma das maiores rendas per capita do mundo. E para quem não está a trabalho, há uma infinidade de atrações no pequeno território do Sudeste Asiático.
A piscina de borda-infinita do luxuoso hotel Marina Bay Sands já é famosa no mundo todo, mas há parques com borboletas e pássaros silvestres em Jurong, cassinos em navios iluminados que flutuam pelo rio que dá nome ao país, templos hindus e budistas, mesquitas, igrejas e sinagogas históricas, a maior estufa e cachoeira artificial do mundo, e um “pomar” de árvores cibernéticas gigantes.
Ao lado da arquitetura asiática e do hiperfuturismo, relíquias coloniais como o Hotel Raffles dão o toque de realidade que distancia Singapura das mega cidades do Golfo, como Dubai, Doha, Jedá ou Manama.
E a comida em Singapura é um deleite à parte. Os hawker stalls, como são chamadas as barraquinhas de comida dos mercados de rua, ainda são baratos e servem deliciosas porções de comidas fusion, que ao longo dos séculos foram naturalmente mesclando os sabores da Índia, da China, do Sudeste Asiático e do Ocidente.
Em Singapura, assim como no restante da Ásia, prevalece a relação de amor e ódio com o durian (também chamado de durião pelos portugueses). Parente da jaca, a fruta é um pouco menor que seu parente mais conhecido, tem sabor mais delicado, mas um cheiro tão pungente que frequentemente é comparado ao odor de esgotos ou de cadáveres. Obviamente consumir a iguaria em público ou em local que não seja absolutamente privado e vedado é proibido e punido com multas de 500 dólares, em média.
Ao que consta na programação oficial, a fruta não será servida a Donald Trump e a Kim Jong-un durante o breve encontro histórico entre dois dos líderes mais controversos da atualidade. Melhor: o odor inebriante da fruta poderia ofuscar egos, cabeleiras e jornalistas de um encontro crucial para a estabilidade do planeta. É mais seguro garantir sobriedade. Pelo menos para os assessores americanos e norte-coreanos.