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Rússia diz que não pretende derrubar governo da Ucrânia

Mudança de tom acontece após Moscou listar exigências para fim da operação militar, que já entra em sua segunda semana

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 mar 2022, 09h49
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  • No mesmo dia em que a invasão da Rússia à Ucrânia completa duas semanas, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, afirmou que Moscou não tem objetivo de derrubar o governo de Kiev e espera alcançar progressos significativos na próxima rodada de negociações com representantes ucranianos.

    Segundo Zakharova, a Rússia irá alcançar seu objetivo de garantir o status neutro da Ucrânia, mas pretende fazer isso através de conversas, mesmo que a operação militar esteja seguindo “estritamente em linha com os planos”.

    A fala da porta-voz sugere uma mudança de tom dentro do governo russo. Em 25 de fevereiro,  dia seguinte à invasão, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que Moscou combate “terroristas e neonazistas” no país vizinho e disse para soldados ucranianos tomarem o poder, deixando “mais fácil para chegarmos a um acordo”.

    Em falas feitas durante uma reunião do Conselho de Segurança russo, Putin classificou autoridades do governo de Zelensky como “gangue de viciados em drogas e neonazistas”.

    Antes mesmo da invasão, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já afirmava ser o “alvo número 1” da Rússia, podendo ser assassinado “a qualquer momento”, segundo ele. Para Moscou, Zelensky possui ligação com grupos neonazistas, e a operação militar teria objetivo de “desnazificar” a Ucrânia.

    Condições

    Na segunda-feira, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militares na Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo. 

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    A declaração foi a mais explícita por parte da Rússia de que está disposta a encerrar a “operação militar especial” no território ucraniano. Por telefone, o porta-voz disse que o governo da Ucrânia está ciente de todas as exigências desde o último encontro entre as delegações, em Belarus, e que “tudo pode ser interrompido em um momento”.

    Pouco depois, perguntado sobre as condições de Putin para o fim da guerra, Zelensky disse que está “pronto para o diálogo, não para capitalização”. No entanto, em entrevista à rede americana ABC, disse também que “amenizou a situação com a Otan depois que entendeu que a aliança não está pronta para aceitar a Ucrânia”.

    Sobre Luhansk e Donetsk, o presidente ucraniano afirmou que a “a situação é mais complicada do que simplesmente reconhecer” a independência dessas regiões, por se tratar da vida das pessoas que vivem lá, e reforçou seu compromisso com os que querem fazer parte da Ucrânia. Ele ainda saudou a coragem dos ucranianos, que estão servindo ao país, como algo “sem precedentes”.

    “Podemos discutir e nos comprometer em como essas questões seguirão”, disse o presidente ucraniano.

    Na segunda-feira, 7, representantes russos e ucranianos se encontraram para a terceira rodada de negociações. Após dois encontros na semana passada que renderam entendimentos escassos para proteção de civis, a terceira rodada de conversas terminou com “pequenos desenvolvimentos positivos”, segundo um representante ucraniano. Apesar do tom mais positivo, a implementação de corredores humanitários, que têm objetivo de facilitar a retirada de civis e a entrada de itens básicos como remédios, tem se mostrado difícil em cidades afetadas pela guerra.

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    Durante o fim de semana, duas tentativas de retirada de civis fracassaram. Grupos separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia trocaram acusações de violações à ordem de interromper momentaneamente o conflito.

    A Rússia acusa nacionalistas ucranianos de impedir a saída de civis da região, usando a população como ‘escudo humano’. “Devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou de estender o cessar-fogo, as operações ofensivas foram retomadas”, disse o major-general Igor Konashenkov.

    As autoridades da cidade de Mariupol, por sua vez, disseram que a retirada de civis foi adiada porque militares russos não estariam respeitando a trégua. As prefeituras de Mariupol e Volnovakha disseram que as cidades são alvos de bloqueios e ataques russos, impedindo a saída segura dos civis. Mesmo após o acordo, a Ucrânia vinha alegando desrespeito dos russos ao acordo com as regiões sendo alvos de constantes ataques. As duas cidades foram as únicas autorizadas a funcionar como um corredor de fuga para os civis.

    Mais de 2.000 civis foram mortos desde o início da invasão russa à Ucrânia, segundo Kiev, e centenas de estruturas, como instalações de transporte, hospitais, jardins de infância e prédios residenciais foram destruídos, relatou o serviço de emergência ucraniano na quarta-feira. Nesta segunda-feira, a Organização das Nações Unidas relatou que há mais de 1.200 pessoas afetadas, sejam mortas ou feridas, desde o início da guerra na Ucrânia. Ao todo, 406 pessoas teriam morrido, segundo levantamento da organização.

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