Revista alemã ‘Der Spiegel’ foi alvo dos serviços de inteligência dos EUA
A CIA operou grampos eletrônicos contra a redação da publicação alemã para determinar como os jornalistas tinham acesso a informações confidenciais
O serviço secreto dos Estados Unidos (CIA) operou grampos eletrônicos contra a redação da revista alemã Der Spiegel, denunciou nesta sexta-feira a publicação. As escutas teriam acontecido em 2011 e tinham o objetivo de determinar quais eram as fontes do governo alemão que vinham vazando informações confidenciais para os jornalistas que trabalhavam na revista. À época, o chefe do escritório da CIA em Berlim se reuniu com Gunter Heiss, um dos funcionários de maior importância na inteligência do país, para cobrar a adoção de medidas contra a fonte. Hans Josef Vorbeck, vice de Heiss na coordenação do serviço secreto, foi identificado como o responsável pelos vazamentos e, em retaliação, acabou transferido para um posto de menor prestígio. Vorbeck, que administrava as iniciativas de combate ao terrorismo na Alemanha, foi transferido para o departamento de arquivos históricos da agência após a pressão da CIA.
A denúncia feita pela revista foi publicada em um extenso artigo intitulado “Um ataque à liberdade de imprensa: a Spiegel foi alvo da inteligência americana”. Acredita-se que a CIA passou a monitorar a publicação após uma série de reportagens produzidas entre 2004 e 2009 e que expunham controversas operações americanas contra o terror. Após o episódio envolvendo Vorbeck, funcionários da chancelaria alemã passaram a questionar como a CIA descobriu a relação entre o oficial de inteligência e a Spiegel. Foi ventilada a possibilidade de haver um informante dentro da redação da revista ou do ministério de Relações Exteriores da Alemanha, mas a opção foi descartada. A existência de escutas clandestinas passou a ser tratada como a causa mais provável desde então.
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A Spiegel apresentou uma denúncia à procuradoria federal da Alemanha após confirmar as suspeitas de espionagem. O órgão confirmou ter recebido a demanda. O episódio é estudado também pela comissão de investigação parlamentar criada há dois anos para esclarecer práticas dos serviços secretos americanos no país. Revelações feitas pelo ex-técnico de inteligência da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) dos Estados Unidos, Edward Snowden, mostraram há dois anos que Washington espionou as comunicações pessoais da chanceler alemã Angela Merkel. Nesta semana, as relações entre os países voltou a enfrentar um momento delicado após o site WikiLeaks, do hacker Julian Assange, vazar documentos que provam a espionagem americana contra o Banco Central Europeu (BCE) e vários ministérios do governo de Merkel.
Entre as comunicações grampeadas pelo serviço secreto dos Estados Unidos está uma conversa telefônica de Merkel sobre a Grécia, datada de 2011, em que a chanceler expressa suas dúvidas sobre a reestruturação da dívida da Grécia. Na quinta-feira, o embaixador americano em Berlim, John B. Emerson, foi convocado pelo governo alemão para prestar esclarecimentos sobre as novas denúncias. O presidente americano, Barack Obama, tem reiterado repetidas vezes que a NSA interrompeu todas as práticas de espionagem contra governos e chefes de Estado de países aliados.
(Com agência EFE)