Plano de Israel contra Hamas não funciona, diz chefe da diplomacia da UE
Josep Borrell afirmou que bloco europeu deve seguir esforços para criar uma "solução de dois Estados" apesar da oposição de Tel Aviv
O plano israelense de destruir o grupo militante palestino Hamas não está funcionando e a União Europeia deve seguir esforços para criar uma “solução de dois Estados” apesar da oposição de Tel Aviv, disse nesta segunda-feira, 22, o chefe da política externa do bloco europeu, Josep Borrell.
“Quais são as outras soluções que eles têm em mente. Fazer todos os palestinos partirem? Matar todos eles?.. .A maneira como estão destruindo o Hamas não é a maneira de fazê-lo. Eles estão selando o ódio por gerações”, disse Borrell, em referência ao objetivo declarado de Israel de “aniquilar” o grupo militante na guerra que já dura três meses em Gaza.
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Na quinta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou a linha dura contra qualquer Estado palestino, citando um “perigo existencial” a Israel. Segundo ele, Israel continuaria insistindo em controle total sobre todo o território a oeste do rio Jordão, que inclui Gaza e a Cisjordânia ocupada.
“Esta é uma condição necessária e entra em conflito com a ideia de soberania [palestina]. O que fazer? Disse esta verdade aos nossos amigos americanos e também impedi a tentativa de nos impor uma realidade que prejudicaria a segurança de Israel”, afirmou Netanyahu a repórteres, acrescentando que vai prosseguir com a ofensiva em Gaza “até à vitória completa”, o que pode levar “muitos meses”.
Em resposta, um dia depois, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, ressaltou que não pode haver “segurança e estabilidade” no Oriente Médio sem a criação de um Estado palestino.
“Sem o estabelecimento de um Estado palestino independente com Jerusalém Oriental como capital, [respeitando] as fronteiras de 1967, não haverá segurança e estabilidade na região”, disse Abbas segundo seu porta-voz, Nabil Abu Rdeineh, à agência de notícias estatal palestina Wafa.
Desde os ataques de 7 de outubro – os piores da história de Israel, quando militantes do Hamas mataram cerca de 1.200 israelenses e sequestraram 240 pessoas – Washington têm apoiado o seu direito de se defender. Mas à medida que o número de mortos em Gaza aumenta – mais de 25 mil, segundo o Ministério da Saúde de Gaza –, governos ocidentais têm aumentado apelos à contenção.
Os aliados de Israel, incluindo os Estados Unidos – e muitos dos seus inimigos – defendem a “solução de dois Estados”, há muito adormecida, na qual um futuro Estado palestino ficaria lado a lado com um Estado israelense. A esperança era que a atual crise possa forçar as partes em conflito a regressarem à diplomacia, mas, pelos comentários de Netanyahu, a sua intenção parece ser exatamente o oposto.
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Sobre os comentários do premiê israelense, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, reconheceu que os Estados Unidos e Israel “obviamente” veem as coisas de forma diferente.
“Queremos um governo em Gaza que seja representativo das aspirações do povo palestino, que eles tenham voto e voz sobre o que isso significa e que não haja reocupação de Gaza”, disse Kirby.
Em 1967, quando ocorreu a Guerra dos Seis Dias, Israel invadiu e passou a ocupar territórios palestinos de Gaza, Cisjordânia, Península do Sinai e Colinas de Golã. Algumas fronteiras recuaram, mas os palestinos nunca voltaram a ver parte do território perdido.