Papa: estilo de vida ‘irresponsável’ do Ocidente agrava mudança climática
Em uma nova declaração contundente, o chefe da Igreja Católica criticou empresas, líderes mundiais e negacionistas do clima
Em discurso por escrito nesta quarta-feira, 4, o papa Francisco atribuiu a culpa da aceleração da mudança climática às grandes indústrias e aos líderes mundiais, bem como aos estilos de vida ocidentais “irresponsáveis”. A declaração foi a sua mais contundente sobre o assunto até o momento.
O pontífice dirigiu duras críticas aos negacionistas do aquecimento global. De acordo com ele, as alterações nos sistemas de clima provavelmente só vão piorar, e ignorar esses sinais vai aumentar “a probabilidade de fenômenos extremos cada vez mais frequentes e intensos”.
“Apesar de todas as tentativas de negar, ocultar, encobrir ou relativizar a questão, os sinais das mudanças climáticas estão aqui e são cada vez mais evidentes. Ninguém pode ignorar o facto de, nos últimos anos, termos visto fenômenos meteorológicos extremos, períodos frequentes de calor anormal e secas”, escreveu Francisco em uma encíclica, uma espécie de carta da Igreja Católica, chamada Laudate Deum (“Louvado seja Deus”).
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A declaração foi uma continuação da sua carta encíclica Laudato Si (“Louvado sejas”), de 2015, que foi o primeiro texto na história da Igreja completamente dedicado às questões ecológicas, que têm sido uma pedra angular do seu papado. Sua divulgação acontece antes da conferência climática COP28 das Nações Unidas, que começa no final de novembro, em Dubai, onde os países serão submetidos a um “balanço global” para avaliar a velocidade com que estão avançando nas metas climáticos.
“As nossas respostas não têm sido adequadas, enquanto o mundo em que vivemos está em colapso e pode estar se aproximando do ponto de ruptura”, disse o papa. “Alguns efeitos da crise climática já são irreversíveis, pelo menos durante várias centenas de anos, como o aumento da temperatura global dos oceanos, a sua acidificação e a diminuição do oxigênio na água.”
Francisco ainda dirigiu críticas à sua própria igreja, se referindo a “certas opiniões desdenhosas e pouco razoáveis que encontro, mesmo dentro da Igreja Católica”. Porém, ele também apontou o dedo a líderes mundiais e empresas que, segundo ele, priorizam os lucros e ganhos de curto prazo em detrimento do meio ambiente.
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Em especial, o líder do Vaticano apontou dados e destacou a responsabilidade desproporcional dos países ricos pelas mudanças climáticas.
“Se considerarmos que as emissões por pessoa nos Estados Unidos são cerca de duas vezes maiores do que as da China, e cerca de sete vezes maiores do que a média dos países mais pobres, podemos afirmar que uma ampla mudança no estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental teria um impacto [positivo] significativo a longo prazo”, escreveu.