Mesmo preso em um centro de detenção nos arredores de Moscou, o proeminente crítico ao Kremlin Alexei Navalny, continua sendo uma pedra no sapato do presidente russo, Vladimir Putin. No final da terça-feira, 20, primeiro dia do líder da oposição nas infames instalações da prisão de Matrosskaya Tishina, após ser preso assim que retornou à capital, sua equipe divulgou o resultado uma investigação colossal sobre suposta a riqueza do presidente, expondo o que eles alegam ser o “palácio de Putin” no Mar Negro.
Navalny e sua Fundação Anticorrupção (FBK) chamaram o relatório de sua “maior investigação até agora”. O documento contém alegações de vastos esquemas de corrupção relacionados ao que eles dizem ser propriedades de Putin, estimados em cerca de 1,4 bilhão de dólares.
“Eles estão repetindo a velha história. Foi no ano de 2017 ou 2016, se não me engano, que a primeira vez que foi mencionado o chamado palácio de Putin em Gelendzhik. Isso não é verdade. não é palácio, ele não é dono de nenhum palácio “, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à CNN.
“São todos rumores e houve algumas disputas entre os proprietários dessas instalações, mas eles realmente não têm nenhuma ligação com o presidente Putin.”
O vídeo foi gravado por Navalny antes de ser preso no domingo 17, quando chegou a Moscou da Alemanha, onde se recuperava de um envenenamento. De acordo com o serviço prisional russo, o opositor violou as condições da sentença de 2014 enquanto estava na Alemanha, que o obrigam a se apresentar à administração da prisão pelo menos duas vezes por semana.
Ele viajou ao país para tratamento médico após ter subitamente entrado em coma em agosto, voltando de uma viagem à Sibéria. Três laboratórios europeus concluíram que ele foi envenenado com um agente nervoso do tipo Novichok, desenvolvido na época soviética, conclusão confirmada pela Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ).
Apesar de acusações de Navalny, Moscou nega qualquer envolvimento no ato e acusa os serviços secretos ocidentais.
O Palácio
A existência da propriedade foi relatada pela primeira vez há mais de uma década, quando o empresário Sergey Kolesnikov publicou uma carta aberta com vários documentos instando o então presidente Dmitry Medvedev a “parar a corrupção” que financia a construção do suposto palácio.
O relatório e um documentário de quase duas horas oferecem uma visão mais abrangente do interior do palácio. A FBK diz que um empreiteiro envolvido na construção entregou planos detalhados do edifício, juntamente com listas detalhadas de móveis comprados e amostras de padrões de piso. O grupo então usou esses documentos e fotos obtidos dos trabalhadores da construção para criar modelos 3D dos interiores.
O luxuoso complexo, de 17.691 metros quadrados citado pelo opositor incluiria 11 quartos, vinhedos, um estádio de hóquei sobre o gelo, um cassino, várias salas de estar e refeitórios, um teatro particular, um cinema, além de spa.
Nos vinhedos, música clássica seria tocada 24 horas por dia, aparentemente para ajudar a amadurecer as uvas, segundo membros da associação de vinhedos da região que ouviram a música a tocar durante uma visita à quinta, afirma o FBK.
Segundo Navalny e sua fundação, pessoas próximas ao presidente russo, como o chefe da gigante petrolífera Rosneft, Igor Sechin, e o empresário Guennadi Timshenko, o financiaram.
Os quartos, adornados com veludo e tapetes exuberantes, teriam pisos de mármore, colunas e decorações que lembram os palácios reais de São Petersburgo.
Uma parte separada do relatório é dedicada a descrições de móveis incrivelmente caros feitos sob encomenda por uma marca italiana de luxo, incluindo uma mesa de 56.000 dólares e um sofá de 27.000 dólares. Descrito no site do FBK como “a sala mais polêmica do palácio de Putin”, o plano também inclui um lounge para narguilé com o que parece ser um mastro de dança.
De acordo com os vídeos de drones filmados pelo FBK, a propriedade possui um rinque particular de hóquei, igreja particular, anfiteatro e uma estufa de 2.500 metros quadrados. O território é fortemente protegido com vários pontos de controle que conduzem a ele; o terreno em si está listado como zona de exclusão aérea.
Navalny também afirma ter descoberto um esquema complicado para financiar a propriedade e outras despesas pessoais do presidente. O relatório afirma que Putin, no início de sua Presidência, fechou um acordo com oligarcas russos e ricos empresários para “doar” parte de sua renda a uma firma de investimentos. Mas 35% dessas doações iriam então para uma conta bancária na Suíça de uma empresa registrada em Belize, afirma Navalny.