Mariupol: Ucrânia planeja retirada de civis enquanto Rússia aperta o cerco
O exército russo fechou uma área na cidade portuária, potencialmente preparando tentativa de invadir a siderúrgica Azovstal
Uma operação de resgate de civis da usina siderúrgica Azovstal sitiada na Ucrânia está prevista para esta sexta-feira, 29, de acordo com um comunicado do gabinete do presidente Volodymyr Zelensky. Acredita-se que centenas de civis estejam presos no complexo industrial de Mariupol, que enfrenta bombardeios implacáveis da Rússia há semanas.
Sem dar detalhes, o gabinete da presidência da Ucrânia lançou um comunicado afirmando que “Uma operação está planejada hoje para tirar civis da usina” de Azovstal. A gigantesca usina siderúrgica tornou-se reduto da resistência ucraniana na já devastada cidade de Mariupol. Seus túneis subterrâneos abrigam militares feridos e cerca de 1.000 civis há cerca de dois meses, de acordo com oficiais ucranianos.
Apesar de um anúncio de cessar-fogo ter sido emitido pelo Ministério da Defesa da Rússia na segunda-feira 25, o complexo permanece cercado e foi fortemente bombardeado por aviões russos na noite de quarta-feira 27. Segundo o assessor do prefeito de Mariupol, Petro Andrushchenko, Moscou fechou uma área situada ao norte de Azovstal, possivelmente se preparando para uma tentativa de invasão à siderúrgica.
Atendendo a um apelo da vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, as Nações Unidas passaram a mediar a situação, pedindo a abertura de corredores humanitários na cidade portuária.
“Hoje, o povo de Mariupol precisa desesperadamente de tal abordagem. Mariupol é uma crise dentro de uma crise”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, falando em entrevista coletiva ao lado de Zelensky.
Guterres disse que o presidente russo, Vladimir Putin, concordou “em princípio” que a organização e a Cruz Vermelha estariam envolvidas na evacuação de civis da siderúrgica. O secretário das organização internacional acrescentou que também está mantendo “intensas discussões” com o chefe de Estado ucraniano para tornar o resgate uma realidade.
O conselho da cidade de Mariupol disse que cerca de 100.000 moradores em toda a cidade estão “em perigo mortal” por causa dos bombardeios russos e das condições insalubres, e descreveu uma escassez “catastrófica” de água potável e alimentos.
Em entrevista à emissora americana CNN, o comandante Serhiy Volyna, que se encontra abrigado em Azovstal, relatou que há centenas de pessoas dentro da usina, entre elas 60 jovens e crianças. O major afirmou que um recente ataque russo atingiu o hospital de campanha da usina, deixando os sobreviventes sem equipamentos vitais e medicamentos.
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“Estamos cuidando dos feridos agora com todas as ferramentas que temos. Temos nossos médicos do exército e eles estão usando todas as habilidades que têm para cuidar dos feridos”, declarou.
Apesar de manifestar esperança na operação de resgate, Volyna não tem certeza de quanto tempo ele e seus colegas ucranianos podem resistir aos ataques de Moscou.
“Não podemos dizer com certeza por quanto tempo podemos aguentar”, disse ele. “Tudo depende dos movimentos do inimigo e também da sorte. Temos grandes esperanças de que seremos evacuados, de que o presidente consiga nos evacuar ou nos retirar e teremos que esperar e ver se isso acontece.”
Construída em 1933 sob o domínio soviético, a fábrica foi parcialmente demolida durante a ocupação nazista na década de 1940 antes de ser reconstruída. Agora, ela se encontra novamente em ruínas, no interior da já devastada cidade de Mariupol, que é símbolo da destruição da guerra.
Localizada na fronteira da Ucrânia com a Rússia, a região tem interesse estratégico para o Kremlin, sendo último obstáculo para a conclusão da “ponte terrestre” para a Crimeia, anexada por Moscou em 2014. A área também é cobiçada por seu acesso ao Mar de Azov, que se conecta ao Mar Negro – um dos poucos pontos de água navegável da região.