Quem viu neste domingo o maratonista etíope Feyisa Lilesa cruzar seus braços acima da cabeça após terminar em segundo na linha de chegada não entendeu muito bem o que o gesto significava. Uma comemoração? Na verdade, o gesto foi um ato político deliberado e corajoso.
Segundo declarou após a maratona, seu sinal foi um gesto de solidariedade para o povo oromo, seu grupo nativo e um dos maiores grupos étnicos na Etiópia. Ele repetiu o sinal na conferência de imprensa depois da prova. Lilesa disse que o gesto o coloca em perigo e que ele não pode ir para casa. “Eu realmente acho que eu seria morto”, disse, “ou preso” — complementou.
Alguns de seus familiares já estão na prisão e ele se preocupa com a segurança de sua mulher e dois filhos. O maratonista afirmou ainda que pretende ficar no Brasil ou ir para o Quênia ou Estados Unidos, dependendo de onde ele conseguir um visto de residência.
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Os oromos somam, no mínimo, um terço dos 100 milhões de pessoas da Etiópia. Mas eles foram marginalizados durante décadas, com as tensões aumentando recentemente. Protestos enormes dos oromos são cada vez mais frequentes nas ruas de Etiópia e o governo os têm reprendido com violência.
Entidades civis internacionais, como a Anistia Internacional e Human Rights Watch informam que neste ano, mais de 400 pessoas da etnia oromo foram mortas e dezenas de milhares presas. Após a repercussão do protesto, um porta-voz do governo etíope informou que Lilesa “será bem recebido” no país.