Governo Obama sabia de abusos do Fisco antes da eleição
Número 2 do Tesouro soube em junho do ano passado que havia uma investigação em andamento sobre a perseguição a grupos conservadores
A cúpula do governo de Barack Obama foi informada em junho do ano passado, a cinco meses da eleição presidencial, de que havia uma investigação em andamento sobre a perseguição do Fisco americano (Internal Revenue Service, IRS) a grupos conservadores que solicitaram isenção de impostos. A revelação foi feita nesta sexta-feira por J. Russell George, inspetor-geral do Tesouro americano para a administração de impostos. Em uma audiência no Congresso, ele disse ter informado o secretário-adjunto do Tesouro, Neal Wolin, sobre a investigação, mas não sobre seus resultados. Wolin, número dois do Tesouro nomeado por Obama, deverá testemunhar na próxima semana no Congresso.
A declaração de George complica ainda mais Obama, evidenciando que a máquina do governo foi usada para atingir inimigos políticos e comprovando que as investidas do IRS contra grupos de oposição eram de conhecimento do alto escalão.
Os “aloprados” de Obama se movimentaram com desenvoltura. Para complicar a vida de organizações contrárias à reeleição do presidente, os fiscais as submetiam a questionamentos absurdos. Em Iowa, por exemplo, um grupo contrário ao aborto foi solicitado a detalhar “o conteúdo de suas orações”. Em Ohio, a Receita levou apenas 34 dias para processar as informações da fundação Barack H. Obama, enquanto a documentação de grupos conservadores ficou retida por mais de um ano nessa peculiar malha fina. No Texas, a perseguição não se limitou ao Fisco. Uma organização que conta com simpatizantes do Tea Party, a ala mais conservadora do Partido Republicano, foi alvo tanto do IRS como das agências de Álcool, Tabaco e Armas de Fogo (ATF), Saúde e Segurança Ocupacional (OSHA) e até do FBI, a polícia federal americana.
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“Erros bobos” – Steven Miller, que cumpre seus últimos dias de trabalho depois de ter sido forçado a renunciar, também prestou esclarecimentos aos parlamentares. Ou melhor, o chefe demissionário irritou os congressistas, ao se negar a identificar quem são os responsáveis pela conduta irregular do órgão e ao defender, contra todas as evidências, que as irregularidades decorreram de falhas de gestão e não de interesses políticos. “Eu acho que o que aconteceu foram erros bobos cometidos por pessoas que tentavam faz:er seu trabalho de modo mais eficiente”, disse Miller, que deixará o posto na próxima semana.
Tom Reed, republicano de Nova York, foi o mais duro inquiridor de Miller. “É uma ofensa ouvir esse testemunho”, disse ele. O próprio Miller soube no ano passado que o Fisco havia posto sob sua mira opositores de Obama. Pouco depois, escreveu a um congressista para explicar o processo de revisão dos pedidos de isenção – sem mencionar que opositores do governo eram tratados com rigor extraordinário. Nesta sexta, ele disse que não enganou os parlamentares ao não falar sobre o assunto: limitou-se a responder o que lhe haviam perguntado. Disse ainda que o IRS teve problemas para analisar 70.000 solicitações de isenção de impostos recebidas nos últimos anos, e pediu recursos para que mais analistas sejam contratados. Em resposta, vários republicanos disseram que o Fisco deveria ter seu poder reduzido.
Obama – Pressionado pelas sucessivas revelações de irregularidades no IRS, Obama disse na quinta-feira que os envolvidos no escândalo devem ser responsabilizados. Solicitou, além disso, que o substituto de Miller, Danny Werfel, faça uma “revisão completa” das atividades do órgão e lhe envie um relatório em 30 dias. Ele terá de informar as medidas adotadas para responsabilizar os envolvidos no escândalo e corrigir o que os representantes do governo têm procurado qualificar como “falhas”.
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(Com agência Reuters)