EUA: Mubarak fica no cargo para comandar transição
Casa Branca classifica renúncia da cúpula do partido governista como um 'passo positivo', mas ressalta que o ditador deve guiar o processo de mudança
“Ele dedicou 60 anos de sua vida a serviço do país, este é o momento ideal para ele mostrar o caminho a seguir”
Frank Wisner, enviado dos EUA ao Egito, sobre o papel de Mubarak
Um dia após pedir o início imediato de um processo de transição no governo do Egito, os Estados Unidos disseram que as mudanças devem ser comandadas pelo ditador Hosni Mubarak. O enviado especial da Casa Branca para o país árabe, Frank Wisner, disse neste sábado que Mubarak “deve permanecer em seu cargo, a fim de orientar o processo de transição”.
A possibilidade de queda do ditador ganhou força durante o dia, quando a cúpula do partido governista, o Partido Nacional Democrático, renunciou a seus cargos. Mubarak perdeu, portanto, dois importantes aliados: o secretário-geral do partido, Safwat el-Sharif, e Gamal Mubarak, filho do ditador, que presidia o comitê político da legenda. Acredita-se, porém, que as renúncias tenham sido uma maneira de acalmar a população do país, que segue com seus protestos anti-governo neste sábado.
O governo americano classificou como “um passo positivo” a renúncia de integrantes do partido do ditador. A Casa Branca já havia dado sinais de que aumentaria a pressão para que haja uma transição ordenada de poder no Egito. Na sexta-feira, o presidente Barack Obama disse que as negociações para a uma mudança de regime no país já foram iniciadas. Segundo ele, a transição deve começar imediatamente e incluir representantes da oposição. Obama evitou culpar Mubarak pela violência no país árabe, mas afirmou que o governo egípcio é responsável pela segurança de seu povo.
“Necessitamos chegar a um consenso nacional em torno das condições prévias para dar um próximo passo à frente. O presidente deve permanecer em seu cargo para liderar essas mudanças”, disse Wisner a representantes internacionais presentes a um encontro sobre segurança em Munique, sul da Alemanha, através de uma videoconferência. “A continuidade da liderança de Mubarak é decisiva”, acrescentou.
Ainda segundo o enviado especial de Obama, que nesta semana reuniu-se com Mubarak, para o presidente egípcio esta “é a oportunidade de escrever seu próprio legado. Ele dedicou 60 anos de sua vida a serviço do país, este é o momento ideal para ele mostrar o caminho a seguir”. Mubarak é um aliado de longa data dos EUA no Egito. O Ocidente teme que o governo do ditador possa ser sucedido por outra ditadura, desta vez comandada por fundamentalistas islâmicos.
‘Tranquilidade’ – Mais cedo, o primeiro-ministro egípcio, Ahmed Shafiq, declarou que o país se encontra em vias de recuperar a estabilidade institucional. “Devemos ser otimistas. As instituições do estado recuperam a normalidade e a situação é melhor agora”, assegurou Shafiq.
O premiê reuniu-se com Mubarak, quatro ministros encarregados de assuntos econômicos e o chefe do Banco Central, Farouk Oqda para discutir a situação no país. Para Shafiq, o “Dia da Partida” – manifestação que reuniu mais de 100.00 pessoas na sexta-feira para pedir a renúncia de Mubarak – fracassou. Segundo ele, a situação na praça Tahrir é “tranquila e não há detenções de manifestantes”. Quanto às conversas com os partidos da oposição, Shafiq disse que elas continuam, “apesar das diversas forças políticas com as quais se dialoga e de suas diferentes posições”, mas expressou a disposição do Executivo de “falar com todos”.”Tudo indica que em breve superaremos esta crise”, concluiu.
Terror – Apesar do discurso otimista de Shafiq, uma explosão atingiu um dos principais gasodutos da cidade de Arish, no norte da península egípcia do Sinai, a cerca de 70 quilômetros da Faixa de Gaza, neste sábado. Não há informações sobre vítimas. A emissora de TV pública egípcia levantou a possibilidade de a explosão ser consequência de um ataque, no entanto não há informações oficiais sobre o incidente até o momento. O gasoduto fornece gás natural para Israel e Jordânia.
Desde que tiveram início os protestos políticos contra o regime de Hosni Mubarak, a Península do Sinai foi um dos pontos de instabilidade, com duros enfrentamentos entre os beduínos e a polícia. Na sexta-feira, um grupo de beduínos lançou granadas contra um quartel da segurança do estado na cidade de Arish.
(Com agências France-Presse e EFE)