A documentarista brasileira Emilia Mello, que foi deportada da Nicarágua após ter sido detida no sábado 25, denunciou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) que sofreu “maus-tratos psicológicos” na prisão, segundo informou a entidade.
“A brasileira-estadunidense Emilia Mello relata que sofreu um longo interrogatório e maus-tratos psicológicos por parte das autoridades na Nicarágua. Ela foi deportada ontem à tarde em um voo que saiu para El Salvador. Seguiu para a Cidade do México e hoje irá para Nova York”, afirmou pelo Twitter o secretário executivo da CIDH, Paulo Abrão.
Emilia Mello foi detida no sábado passado no município nicaraguense de San Marcos, quando viajava junto com um grupo de estudantes para a cidade colonial de Granada, onde participariam de uma manifestação contra o governo.
A documentarista, que gravaria o protesto para um projeto audiovisual, foi detida e levada à prisão El Chipote, sede da Direção de Auxílio Judicial, de acordo com a Coordenadoria Universitária pela Democracia e a Justiça (CUDJ), organização universitária de oposição ao presidente Daniel Ortega que denunciou a prisão.
Tanto a brasileira como os outros dezenove nicaraguenses, entre eles dois documentaristas locais, foram liberados horas depois, da mesma forma que um médico e um advogado. Emilia possui nacionalidade brasileira e americana.
Em sua conta no Twitter, a CUDJ afirmou que os estudantes foram intimidados pelas forças de segurança locais. “O tempo todo estivemos rodeados de agentes fortemente armados que zombavam de nós, tiravam fotos e nos intimidavam”, relatou a organização.
De acordo com a postagem, uma das estudantes presas sofreu um ataque de epilepsia e outra uma crise de asma, mas a polícia não prestou atendimento.
A CIDH exigiu no domingo que o Estado da Nicarágua respeite a liberdade de expressão e o direito ao protesto em meio à crise no país.
Desde abril, milhares de nicaraguenses saíram às ruas para protestar contra Ortega durante uma crise que já deixou entre 322 e 448 mortos, segundo organizações humanitárias internacionais e locais. O governo reconhece 198 mortes e denuncia uma tentativa de golpe de Estado.
No fim de julho, a brasileira Raynéia Gabrielle Lima morreu com um tiro em Manágua, capital da Nicarágua. O ex-militar Pierson Gutierrez Solis confessou o assassinato e está sendo processado pela Justiça.
Segundo a versão apresentada pela Promotoria local, ele atirou contra a brasileira porque se sentiu ameaçado por ela e acreditou que “corria perigo”. O relato foi considerado inverossímil pela imprensa.
Raynéia era estudante do 6º ano do curso de medicina da Universidade Americana (UAM). Inicialmente, o reitor da faculdade havia culpado grupos paramilitares pelo assassinato.
(Com EFE)