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Covid-19 pode ajudar ou atrapalhar Trump? O que dizem os analistas

Saída à francesa de debates presidenciais e empatia do eleitorado podem favorecer republicano; por outro lado, volta da pandemia aos holofotes ajuda Biden

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h07 - Publicado em 2 out 2020, 17h31
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  • A um mês antes da eleição presidencial dos Estados Unidos, o diagnóstico de Covid-19 de Donald Trump trará impactos de consequências imprevisíveis nas urnas. O presidente enfrentará uma guinada  drástica na agenda de campanha, ficando excluído de comícios, debates e pronunciamentos. 

    Apesar da ameaça da doença para Trump – que, com 74 anos e acima do peso, está na categoria de alto risco, o cenário político pode ser positivo para o republicano. O segundo debate presidencial, marcado para o dia 15 de outubro, não deve acontecer presencialmente e, caso precise de repouso, o presidente pode escapar até de uma versão remota.

    Segundo o jornal americano The New York Times, republicanos expressaram esperança de que saída de cena em um momento estratégico possa favorecer Trump, já que pesquisas conduzidas após o primeiro e caótico debate mostraram que os eleitores viram o democrata Joe Biden como vencedor. Seu silêncio pode fazer com que a eleição não seja, majoritariamente, um referendo sobre seu comportamento.

    Ao mesmo tempo, o coronavírus pode aumentar a popularidade do candidato republicano por meio da empatia. Em 1981, a aprovação de Ronald Reagan cresceu 11 pontos percentuais após uma tentativa fracassada de assassinato durante seu primeiro mandato. E o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, ganhou 17 pontos a mais de aprovação após seu próprio diagnóstico de Covid-19 em março, segundo levantamento da Ipsos.

    Mas há ressalvas. O efeito tem tudo para ser limitado, já que Biden vem mantendo margem estável de 7 pontos percentuais desde que tornou-se candidato oficial.

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    A doença também neutraliza ataques do adversário contra ele. Qualquer crítica ou desejo do mal ao presidente será aproveitado pelos republicanos como um sinal de crueldade e oportunismo político. Biden terá que fazer alguns malabarismos, já que o coronavírus e a má gestão da pandemia são os focos da campanha democrata.

    Por outro lado, o diagnóstico pode tornar-se imensamente prejudicial ao candidato à reeleição. Em primeiro lugar, a principal arma do Trump é aparecer em público. Apesar da ameaça contínua do vírus, ele aumentou a frequência de comícios e viagens nos últimos meses, enquanto procurava tranquilizar o país de que a luta contra o vírus estava sendo vencida.

    Seus eventos são essenciais para entusiasmar eleitores e angariar dinheiro, diz a emissora Bloomberg. Em setembro, a campanha de Biden ultrapassou 365 milhões de dólares arrecadados, enquanto Trump continua mais de 150 milhões de dólares abaixo. A ideia de realizar mais encontros cara a cara para preencher essa lacuna – seu almoço em Nova Jersey, nesta quinta-feira 1, arrecadou 5 milhões de dólares – foi frustrada pelo teste positivo.

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    Contudo, o principal ponto negativo de seu diagnóstico para a campanha do republicano é que a pandemia de coronavírus volta aos holofotes com todas as forças, após repetidas tentativas do presidente de mudar o foco para assuntos mais interessantes a ele – o discurso da “lei e da ordem”, a nomeação de uma nova juíza à Suprema Corte ou a recuperação econômica.

    “O coronavírus e a forma como o presidente está lidando com isso vão para o topo da agenda”, disse Chris Wallace, jornalista da Fox News que mediou o primeiro debate presidencial na terça-feira 29. “O sentimento geral da parte de algumas pessoas é que o presidente não foi cauteloso o suficiente e que Biden foi cauteloso demais. Isso vai ser um problema agora”, completou.

    Trump ignorou orientações básicas de saúde, como o uso de máscaras, e sucessivamente questionou a ciência durante a resposta à pandemia. Uma pesquisa da Reuters, divulgada no início desta semana, mostra que apenas 41% dos eleitores aprovam sua gestão da pandemia. 

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    Enquanto ações se desvalorizaram durante a madrugada desta sexta-feira 2, estrategistas democratas e republicanos disseram que o presidente enfrentaria um julgamento severo dos eleitores por colocar o país em maior incerteza após um dos anos mais difíceis da história americana.

    A Fox News reportou que o caso do presidente de que o país está “virando a esquina” na batalha contra o surto e que é hora de reabrir a economia fica enfraquecido. Além disso, é provável que eleitores tenham mais dificuldade de minimizar a seriedade do vírus, caso ele desenvolva um quadro sério.

    Segundo o Times, assessores de Trump reconheceram que o teste positivo lembraria os eleitores de sua indiferença, não apenas por negligenciar a segurança, mas também por suas avaliações excessivamente otimistas sobre uma pandemia que matou mais de 200.000 pessoas nos Estados Unidos. 

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    Apesar de todas as especulações, os efeitos são difíceis de prever. Afinal, semanas antes da eleição de 2016, um vídeo em que Trump falava sobre agarrar órgãos genitais femininos viralizou – o famoso grab her by the pussy”, do Access Hollywood –, sem que o candidato fosse prejudicado.

    Ou seja, tudo pode acontecer.

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