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Coronavírus: China sob pressão após reabrir mercados de produtos frescos

Chamados de 'mercados molhados', locais são a principal fonte de comida barata do país e fazem parte de tradição milenar

Por Ernesto Neves Atualizado em 21 abr 2020, 16h11 - Publicado em 21 abr 2020, 13h32

Realizada ao longo do mês de abril, a reabertura dos mercados de produtos frescos da China, conhecidos como wet markets (mercados molhados) é fonte de crescente pressão internacional. Isso porque estudiosos do novo coronavírus acreditam que um destes locais, especificamente o da cidade de Wuhan, foi o ponto de início a pandemia. Além de vegetais, frutas e legumes, essas feiras também vendem carnes e animais vivos, incluindo espécies selvagens. Esses bichos carregam patógenos que podem, eventualmente, migrar para os seres humanos. No caso da Covid-19, a hipótese mais provável é que o coronavírus veio de pangolins, um mamífero de pequeno porte, ou de morcegos.

O resultado é que a agora as autoridades de países como os Estados Unidos e a Austrália pedem que a Organização Mundial de Saúde (OMS) se posicione contrariamente à continuação dos mercados molhados chineses. “Após esse devastador surto de coronavírus, a Austrália e o mundo vão atuar junto à OMS para garantir que as lições foram aprendidas”, disse o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison.

Diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos desde 1984, o médico Anthony Fauci foi mais longe e pediu a extinção dessas feiras. “É espantoso que, com a quantidade de doenças que emanam dessa proximidade entre humanos e animais, [as autoridades chinesas] simplesmente não fechem esses lugares”, disse Fauci, um dos principais especialistas do mundo em epidemias.

O médico frisou que a mesma situação se deu em 2003, quando um coronavírus também se espalhou a partir de um mercado molhado, originando a pandemia da síndrome respiratória aguda, a Sars.

(Reprodução/Instagram)

A questão, no entanto, é de complexa solução. Conhecidos como “mercados molhados” devido ao piso sempre úmido pela lavagem de peixes e hortaliças, eles são a espinha dorsal do milenar sistema de distribuição de alimentos da China. Só em Xangai, calcula-se que existam ao menos 1.000 estabelecimentos do tipo.

Seja nos grandes centros, seja no interior, os chineses rejeitam a compra de alimentos em supermercados no estilo ocidental. Tanto que, no início dos anos 2000, o governo comunista tentou implementar uma política de substituição das feiras por redes ocidentalizadas. Parte de um esforço para modernizar o país, a medida, entretanto, fracassou. Isso porque os “mercados molhados” fornecem não só alimentos frescos, como também preços muito acessíveis. E são parte da vida social, com o estreito relacionamento entre produtores e consumidores.

Pesquisadores chineses também afirmam que esses locais oferecem fonte de excelente nutrição para a população. Segundo pesquisa conduzida por nutricionistas do país, famílias com acesso aos “mercados molhados” têm crianças mais saudáveis, já que comem menos alimentos industrializados carregados em sal e açúcar.

Os problemas começam, entretanto, quando se introduz a venda de animais silvestres nos mercados populares. A China proibiu a venda e o consumo de animais selvagens desde o dia 25 de fevereiro, no auge da epidemia. Mesmo assim, o problema é de difícil fiscalização. Sem qualquer higiene ou supervisão, os bichos continuam a ser vendidos amplamente. Eles integram não só a alimentação local como também são utilizados como ingredientes na milenar medicina chinesa. Só em 2017, o governo chinês calcula que o comércio da fauna silvestre tenha movimentado 73 bilhões de dólares.

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Para mitigar o problema, de acordo com o World Wide Fund for Nature (WWF), organização não-governamental que atua na área de conservação, será preciso não só impedir a venda de animais selvagens nesses mercados como também desarticular as redes de tráfico. Se isso não acontecer, diz o WWF, os traficantes encontrarão outros locais para ofertar os bichos capturados.

“Esta crise de saúde deve servir como alerta para que se acabe com o uso insustentável de animais ameaçados de extinção, o que inclui a captura para que virem pets, para consumo e para ingrediente medicinal”, disse a organização. 

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