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Como a Fox News passou de queridinha a vilã entre apoiadores de Trump

Na frente da sede do governo do Arizona, manifestantes pró-Trump chegaram a protestar contra emissora, algo inimaginável há poucos dias

Por Caio Saad Atualizado em 5 nov 2020, 12h19 - Publicado em 5 nov 2020, 12h07

Com os eleitores da Flórida contrariando as pesquisa de opinião e dando seus votos para o presidente Donald Trump na noite de terça-feira, 3, o republicano e seus assessores imaginavam uma repetição da noite de 2016, quando uma vitória no estado abriu caminho para conquistar a Casa Branca

A sensação de um possível triunfo, no entanto, murchou quando a Fox News, rede notoriamente alinhada ao governo, deu ao vivo a notícia de que o ex-vice-presidente Joe Biden venceu no Arizona, com apenas 73% das urnas apuradas no estado. A vitória do democrata foi importante, pois o estado votou no Partido Republicano nas últimas cinco eleições, confiando em Trump em 2016. 

A decisão editorial foi rapidamente alvo de ataques nas redes sociais por parte de conservadores ligados ao presidente, que usavam o termo “fake news“, normalmente usado para descrever as emissoras adversárias. Segundo o New York Times, Jared Kushner, genro e assessor de Trump, chegou a ligar para o dono da Fox, Rupert Murdoch, pedindo para a rede voltar atrás em sua projeção envolvendo o Arizona. Sem sucesso, o próprio presidente teria ligado para o chefão, de acordo com a revista Vanity Fair

Reunidos na frente da sede do governo do Arizona, em Phoenix, alguns manifestantes pró-Trump chegaram a gritar algo como “Vergonha para a Fox”, algo inimaginável há poucos dias. Ao menos um deles carregava um rifle de estilo militar, segundo vídeo publicado pelo jornalista Simon Romero, do New York Times.

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“Fontes da campanha de Trump e da Casa Branca estão furiosas agora com a Fox pela declaração do Arizona”, escreveu o jornalista Jonathan Swan, do portal Axios.

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Em setembro, a revista já havia relatado que Trump chegou a reclamar com a chefia da emissora sobre as pesquisas de opinião veiculadas em programas, que não eram favoráveis a ele. Murdoch já apostava há meses, segundo a imprensa americana, que o presidente não seria reeleito. 

Alguns republicanos ainda culpam a Fox News por montar o palco para a narrativa de que Trump perdeu, o que ainda não é verdade, já que cédulas estão sendo apuradas e nenhum dos dois candidatos chegou aos 270 votos necessários no sistema do Colégio Eleitoral. Biden soma 264, enquanto Trump tem 214, de acordo com projeções que dão o Arizona para o democrata. Sem considerar o estado, Biden tem 253 delegados no momento.

“A Fox News cometeu negligência jornalística e supressão eleitoral ontem à noite”, disse Sam Nunberg, ex-assessor do presidente, à Vanity Fair. “Chris Wallace não calou a boca durante a noite! Eu troquei para a CNN em todos os momentos em que ele aparecia”, revelou, citando um dos mais conhecidos âncoras do canal, e uma rede que é considerada pró-democratas. 

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Quando Trump proclamou vitória pela primeira vez durante a madrugada, dizendo ter vencido em estados onde na verdade não venceu, Chris Wallace já havia criticado as falas “extremamente inflamatórias” feitas pelo presidente americano.

Embora longe de entrar em detalhes e criticar o presidente de forma mais veemente, o proeminente comentarista Tucker Carlson afirmou na quarta-feira que, “infelizmente, o que aconteceu na última noite não poderia ser pior para o nosso país”, citando a judicialização do processo eleitoral. Trump entrou com processos em diversos estados para pausar a contagem de votos ou invalidar resultados que poderiam custar sua reeleição, à medida que segue atrás de Biden. A estratégia legal, com base em acusações infundadas de fraude, se soma às estratégias do presidente para minar a integridade dos votos pelos correios, que tendem a favorecer o democrata.

Tradicional aliada

A Fox News sempre foi uma rede de notícias partidária. Criada em 1996, mostrou-se infinitamente mais amigável com George W. Bush do que com Barack Obama. Desde que Trump assumiu a presidência em 2017, contudo, a rede praticamente transformou-se em um braço de sua administração, influenciando profundamente a sociedade americana.

Bret Baier, um dos principais âncoras da Fox, disse que “dói” saber que o canal se tornou uma “TV estatal” para o governo Trump. A organização sem fins lucrativos Media Matters, que pesquisa desinformação nos Estados Unidos, descreveu alguns apresentadores como “propagandistas pessoais” do presidente.

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“Grande parte da presidência de Trump foi uma mitologia baseada na desinformação. A Fox News desempenhou um papel fundamental na disseminação dessa desinformação”, diz Jean-Pierre Dubé, professor de ciências do Marketing da Universidade de Chicago.

Um ex-funcionário da rede, segundo reportagem do jornal The Daily Beast, disse que seus dirigentes não estão interessados ​​em fatos. “Eles estão decididos a veicular histórias que incluam Blue Lives Matter [Vidas dos Policiais Importam], qualquer coisa relacionada à antifa, impactos negativos dos protestos do Black Lives Matter [Vidas Negras Importam] que coloquem manifestantes em uma luz negativa, supostas ameaças ao cristianismo e qualquer apoiador de Trump injustiçado”. A opinião foi ecoada por seus ex-colegas.

Agora, a rede parece se distanciar do que ajudou a construir, pelo menos por ora.

“A Fox está saindo de fininho de perto de Trump com alguém em uma festa que se afasta de uma pessoa que está fedendo”, ironizou o correspondente Gabriel Sherman, da Vanity Fair. “Os âncoras estão fritando Kayleigh McEnany. Basicamente dizendo que não há maneira de Trump conseguir os votos”, completou, em referência à porta-voz da Casa Branca.

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