‘Cobrei Lula por ajuda’, diz a VEJA irmã de brasileiro detido pelo Hamas
Mary Shohat, irmã de Michel Nisenbaum, desaparecido desde os ataques de 7 de outubro em Israel, foi recebida pelo presidente na segunda-feira 11
Mary Shohat, irmã do brasileiro Michel Nisenbaum, que o governo brasileiro reconheceu há poucos dias ter sido sequestrado pelo Hamas, disse a VEJA nesta terça-feira, 12, que a conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi “produtiva” e que ela cobrou ajuda do petista para trazer seu irmão de volta para casa.
Desaparecido desde os atentados de 7 de outubro cometidos pelo Hamas, o brasileiro-israelense Michel, 59 anos, segue em cativeiro na Faixa de Gaza. Passadas nove semanas desde então, a família não obteve nenhuma notícia sobre sua situação. Agora, Mary termina em São Paulo um périplo pela América Latina, que também incluiu passagens pela Argentina e pelo Uruguai, para reforçar a causa pela libertação dos reféns.
“Hoje me perguntaram se eu vejo uma luz no fim do túnel. Eu disse que sim. A luz, que estava muito longe, se acercou um pouquinho. Em todos os lugares que estivemos, nos escutaram e apreenderam o que viemos para falar. É o mais importante”, disse ela a VEJA.
Mary e sua sobrinha, Hen Mahluf, uma das filhas de Michel, encontraram-se na véspera com Lula em Brasília, após uma visita ao Senado Federal. Há um mês, Mary e o presidente tiveram uma conversa por Zoom, mas a família ficou sem contato com a diplomacia brasileira desde então. O primeiro contato veio em 29 de novembro, quando foi marcada uma reunião com o embaixador brasileiro em Tel Aviv.
Segundo ela, na conversa com Lula em Brasília, ela explicou que Michel tem Crohn, uma doença crônica. “Não temos como saber se ele tem acesso a medicamentos. Isso pode levá-lo à morte”, afirmou a VEJA.
“Lula havia prometido que fará esforços para trazer de volta todos os brasileiros. Ele nos perguntou: ‘O que acham que eu posso fazer para isso acontecer?’. E nós respondemos que ele precisa fazer pressão para que a Cruz Vermelha possa entrar nas áreas onde os refugiados estão detidos. Qualquer tipo de ajuda médica humanitária. Porque não sabemos nada deles. E isso não tem acontecido. A Cruz Vermelha não ajuda porque o Hamas não deixa”, relatou Mary, ressaltando que isso foi um desrespeito ao acordo de trégua, que previa a assistência.
Mary também afirmou que cobrou Lula para intervir mais uma vez no Catar.
“Queremos que o presidente fale novamente com o emir, para pedir ajuda. Queremos que ele fale com todas as pessoas que ele acha que podem intervir neste assunto, para resgatar o Michel e também todos os outros sequestrados”, declarou ela a VEJA.
Quem é Michel Nisenbaum?
O brasileiro Michel Nisenbaum, 59, está desaparecido desde os atentados de 7 de outubro cometidos pelo Hamas. Sua família, porém, não obteve nenhuma notícia sobre sua situação desde então.
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Em entrevista a VEJA, Mary, a irmã de Michel, afirmou que, naquele dia, pouco antes das 7h da manhã, Michel saiu de casa para buscar sua netinha. Ele deveria dirigir de Sderot, onde mora, para Ashkelon, a 70 quilômetros de distância.
“Às 7h13, quando já estava claro que havia uma invasão terrorista, a filha de Michel ligou para ele, mas ninguém atendeu. Dez minutos depois, retornaram do telefone do Michel para ela, gritando em árabe”, afirmou ela a VEJA. “A única coisa que dava para entender era a palavra Hamas. Desde então, não tivemos mais nenhuma notícia”, completou.
Mary contou que conversou pela última vez com Michel no dia 5 de outubro, portanto, 48 horas antes dos atentados.
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Na semana passada, a família foi procurada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI), porque o carro de Michel foi encontrado, em paradeiro não informado pelo governo. Segundo Mary relatou a VEJA, o veículo estava incendiado, mas foi possível reconhecê-lo pelo número do chassi.
Michel e Mary imigraram com os pais para Israel há 45 anos. Ele trabalha como técnico de computador e, mais recentemente, iniciou a carreira de guia turístico numa fazenda especializada no cultivo de verduras que fica nas proximidades de Gaza.
Informações conflitantes
O Hamas sequestrou cerca de 240 pessoas, segundo autoridades israelenses, durante a invasão no início de outubro. Dias depois, o Ministério da Defesa de Israel informou que havia brasileiros entre as pessoas mantidas como reféns pelo grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. O anúncio foi feito por Jonathan Conricus, porta-voz do Exército israelense.
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“Temos (entre os reféns) americanos, britânicos, franceses, alemães, italianos, brasileiros, argentinos, ucranianos e de diversos outros países”, disse ele em vídeo. “Estamos comprometidos a trazê-los de volta.”
O governo brasileiro, porém, não confirmou a informação até o dia 30 de novembro.