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Boko Haram, o terror que ameaça a maior economia da África

O maior PIB do continente tropeça na corrupção e na ineficiência e fica à mercê dos terroristas que sequestraram mais de 200 estudantes no norte do país

Por Edoardo Ghirotto
10 Maio 2014, 10h29
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  • A comemoração da notícia de que a Nigéria havia superado a África do Sul e se tornado a maior economia do continente durou pouco. Menos de dez dias depois, o país mais populoso da África foi abalado pelo sequestro de mais de 200 estudantes no estado de Borno, nordeste do país. O grupo terrorista Boko Haram assumiu a autoria do rapto que mobilizou governos e personalidades de vários países em torno da campanha #BringBackOurGirls (‘Devolvam nossas Meninas’). Em vídeo, o chefe da organização, Abubakar Shekau, ameaçou vender as jovens e obrigá-las a se casar. O fato de Shekau ainda fazer propaganda do movimento é uma prova da incompetência do governo nigeriano em lidar com o problema, uma vez que o terrorista havia sido dado como morto pelo Exército em duas ocasiões.

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    “O Boko Haram foi de um grupo de pregadores, a um grupo armado, a um grupo terrorista, a insurgente, e agora quer se firmar como governo. Um dos principais problemas é que a resposta do governo para combatê-lo não está evoluindo tão rápido quanto o Boko Haram”, disse ao site de VEJA Adunola Abiola, fundadora do centro Think Security Africa, sediado em Londres.

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    O Boko Haram foi criado em 2002 pelo clérigo muçulmano Mohammed Yusuf, que fundou um complexo religioso em Maiduguri, também no nordeste do país, onde a resistência da população à educação ocidental é grande. Os muçulmanos da região ainda se recusam a matricular suas crianças em escolas públicas e muitas famílias enviaram seus filhos para a escola islâmica que faz parte do complexo e que serve como um campo de recrutamento de jihadistas, como apontou a rede britânica BBC.

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    Boko Haram significa “a educação não islâmica é pecaminosa” e foi assim que o grupo ficou conhecido, apesar de seu nome completo dar uma ideia melhor de seus objetivos: ‘Pessoas Comprometidas com a Propagação dos Ensinamentos do Profeta e da Jihad’. A organização, de fato, não está interessada apenas em barrar a educação ocidental. Sua meta é implantar um estado islâmico na Nigéria. Este objetivo passou a ser buscado por meio da violência a partir de 2009, ano em que Yusuf foi capturado e morto. Desde então, tendo Shekau como novo chefe, os radicais já foram responsáveis por mais de 3.000 mortes. Eles são especialistas em matar “infiéis” – o que inclui policiais, políticos e clérigos de outras tradições muçulmanas, além de cristãos – e incendiar igrejas e instalações militares, não apenas no norte do país, mas em várias regiões, incluindo a capital, Abuja.

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    A base de ação, no entanto, está mesmo no norte, onde a defesa da sharia é algo presente. Contudo, mesmo as pessoas favoráveis a ela também são atingidas pela violência do Boko Haram e não acreditam que a conduta do grupo esteja de acordo com a lei islâmica. Além disso, a corrupção “aliena o governo, o Boko Haram e seus patrocinadores do espectro da população”, afirma Adunola.

    O medo como arma – Na atual crise provocada pelo rapto das estudantes, o governo nigeriano mostrou mais uma vez despreparo para lidar com o terror. O Exército anunciou que as meninas haviam sido resgatadas, informação que foi desmentida pelos familiares das vítimas. Em outra declaração desastrada, antes do rapto das jovens, o presidente Goodluck Jonathan tentara minimizar a gravidade do terrorismo no país ao afirmar que Boko Haram era um “desafio temporário”. Até agora, as autoridades do país tiveram como foco derrubar linhas de comunicação e minar a habilidade operacional da organização. Em maio do ano passado, um estado de emergência foi declarado em três estados do norte onde a presença dos terroristas é mais forte: Borno, Yobe e Adamawa.

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    HO/Boko Haram/AFP

    O terrorista Abubakar Shekau aparece discursando em um vídeo divulgado pelo Boko Haram
    O terrorista Abubakar Shekau aparece discursando em um vídeo divulgado pelo Boko Haram (VEJA)

    “O Boko Haram opera clandestinamente e desencadeia um ciclo vicioso de violência. E o governo tem utilizado meios opressivos e indiscriminados para lidar com o grupo, o que muitas vezes resulta em mortes de civis”, alertou Rona Peligal, vice-diretora da divisão africana na ONG Human Rights Watch (HRW). O grupo tem ainda outra arma perigosa em mãos: o medo. Segundo Adunola, a tática dos terroristas é subjugar a população civil com a ideia de que o governo não tem como protegê-la. “A luta real está em andamento nos corações e nas mentes dos civis e o governo não parece estar respondendo de forma eficiente a isso”.

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    Impacto econômico – Tendo o petróleo como a principal fonte de recursos, a Nigéria tem na falta de segurança um entrave para novos investimentos no setor. A agricultura é outro componente crucial para a economia e tem apresentado crescimento. E é da agricultura que vem a riqueza da maior parte da população nas regiões onde o Boko Haram se faz mais presente. “As pessoas não podem cuidar de suas fazendas devido à violência recorrente, e têm seu gado roubado por integrantes do grupo e outros bandidos”, lamenta Adunola.

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    Nesta semana, a capital Abuja foi sede do Fórum Econômico para a África, iniciado com um minuto de silêncio em apoio às famílias das vítimas. Na primeira sessão plenária do encontro, o presidente Jonathan agradeceu os países que se comprometeram a enviar especialistas para ajudar a resgatar as adolescentes e declarou que o sequestro “marca o início do fim do terrorismo na Nigéria”. Para o bem das estudantes, de suas famílias e do país, é bom que dessa vez a declaração do governante se confirme.

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