Apesar de promessa, Rússia está reagrupando forças para ataques, diz Otan
Segundo chefe da aliança militar, Moscou não cumpre cessar-fogo parcial prometido nesta semana e há movimento para reagrupar e reforçar ofensiva
As forças militares da Rússia na Ucrânia não estão em retirada, e sim em movimentação para reagrupamento, afirmou nesta quinta-feira, 31, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, em referência aos anúncios recentes de Moscou de reduzir operações militares em torno de Kiev.
À agência de notícias Reuters, o chefe da principal aliança militar ocidental afirmou que ainda é preciso certeza de que a Rússia está negociando de boa fé nas conversas de paz, como a ocorrida nesta semana na Turquia, já que não há sinais de que o objetivo militar de Moscou desde sua invasão à Ucrânia sofreu alterações.
“De acordo com nossa inteligência, unidades russas não estão em retirada, mas em movimento de reposicionamento. A Rússia está tentando reagrupar e reforçar sua ofensiva na região de Donbas”, alertou, em referência à região onde ficam as repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Moscou poucos dias antes do início da invasão à Ucrânia, em 24 de fevereiro.
As autoproclamadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk são em boa parte controladas por separatistas pró-Moscou desde 2014 e palco de uma guerra que já deixou cerca de 15.000 mortos.
“Ao mesmo tempo, a Rússia mantém pressão sobre Kiev e outras cidades. Assim, podemos esperar ações ofensivas adicionais, trazendo ainda mais sofrimento… Não temos uma mudança real no verdadeiro objetivo russo… Eles continuam buscando um resultado militar”, disse Stoltenberg.
Na terça-feira, 29, após conversas em Istambul, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou o primeiro cessar-fogo sem motivação humanitária desde o começo da invasão. Embora a pasta tenha falado em uma “redução drástica nas atividades militares em torno de Kiev e Tchernihiv”, a declaração não se provou verdadeira.
No dia seguinte, o prefeito de Tchernihiv, Vladyslav Atroshenko, afirmou à CNN que a cidade sofreu um “ataque colossal” de forças russas. Tratando a promessa de Moscou com ceticismo, o político afirmou que a hostilidade dos ataques na verdade aumentou desde o anúncio de cessar-fogo e já havia ao menos 25 civis hospitalizados.
Fazendo coro a Atroshenko, o governador da região de Tchernihiv, Viatcheslav Tchaus, confirmou os bombardeios. Em entrevista à BBC, Tchaus disse: “Agora mesmo, enquanto falamos, posso ouvir o que acho que são morteiros”. Ele acrescentou que a cidade de Nizhyn também foi afetada.
A desconfiança em relação ao discurso do Kremlin também esteve presente no pronunciamento de Oleksii Arestovich, conselheiro do presidente Volodymyr Zelensky, na TV ucraniana. Arestovich disse que a ação de Moscou não é um recuo, e sim um processo de transferência de forças do norte da Ucrânia para o leste.
“Embora os russos estejam retirando algumas tropas de Kiev, eles ainda deixarão certa quantidade de forças para manter nossas tropas aqui”, disse Arestovich.
O cessar-fogo era uma exigência de Kiev para que negociações seguissem adiante. A condição de Vladimir Putin para o cessar-fogo seria a aplicação do estatuto de neutralidade à nação ucraniana.
As exigências de Moscou para encerrar a invasão ao país vizinho foram explicitadas recentemente quando o porta-voz Dmitry Peskov listou as condições para que a Rússia interrompa suas operações militares na Ucrânia. Em entrevista à agência Reuters, Peskov disse que o Kremlin exige que Kiev encerre sua ação militar, mude sua Constituição para a neutralidade, de modo que o país garanta que jamais irá fazer parte da Otan ou da União Europeia, e reconheça a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, além de enxergar a Crimeia como um território russo.