BC sofre asfixia financeira e administrativa, afirma Campos Neto
Presidente do Banco Central citou dificuldades da autoridade monetária, que conta com autonomia de decisões desde 2021, mas sem independência financeira
O Banco Central sofre atualmente uma asfixia financeira e administrativa que atrapalha muito a autoridade monetária, afirmou nesta sexta-feira, 17, o presidente da entidade, Roberto Campos Neto, durante a Conferência Anual do BC com participação dos ex-dirigentes Gustavo Loyola, Gustavo Franco, Persio Arida e Pedro Malan.
“O Banco Central sofre asfixia financeira e administrativa que nos atrapalha muito e que é um grande problema. Eu vejo isso como um grande problema, um dos grandes desafios”, disse ele, ao agradecer as menções dos participantes sobre a autonomia do BC. “Se por um lado tivemos ganhos institucionais, alguns problemas crônicos não foram resolvidos.”
Durante a apresentação realizada hoje, os ex-presidentes do BC teceram comentários sobre as dificuldades enfrentadas durante a implementação do Plano Real para controle da inflação — um desafio que permanece sendo relevante, segundo eles, até hoje.
“Espero que tenhamos ficado livres para sempre de tentativas de adotar comportamentos lenientes em relação à inflação. É uma tarefa inesgotável. A agenda para o país após derrota da inflação se confunde com a prória agenda de desenvolvimento econômico, social e institucional do país”, afirmou Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e presidente do BC durante o governo de Itamar Franco.
Para Persio Arida, ex-dirigente do BNDES e do BC também na década de 90, “certamente o entendimento mudou” e hoje o Brasil tem um BC independente, “uma consolidação e inspiração antiga, que vem desde a concepção do Plano Real”. De acordo com ele, porém, o que o país ainda enfrenta é o risco populista fiscal.
“Nosso tripé macro é manco porque a perna fiscal sofreu e as perspectivas não são boas. Sempre há perspectiva de que será diferente, e existe uma esperança de que em 2026 ou 2027 tenhamos uma postura fiscal radicalmente diversa da atual, mas é difícil pensar numa estabilização [da inflação] com déficits crescentes e ameaça populista por um período longo de tempo”, disse.