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Juros: decisão do BC mostra preocupação com cenário externo

Interrupção do ciclo de corte da taxa de juros pode colocar freio no já enfraquecido processo de retomada do crescimento econômico

Por Fabiana Futema e Ricardo Rossetto
Atualizado em 16 Maio 2018, 20h07 - Publicado em 16 Maio 2018, 19h52
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  • A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, de manter a taxa básica de juros em 6,50% ao ano mostrou ao mercado financeiro que o órgão está atento ao impacto das turbulências internacionais para a economia do país. Se por um lado reforçou a confiança do mercado na política econômica, a decisão também pôs um freio no já enfraquecido processo de retomada do crescimento.

    “O mercado fica seguro de que o BC está preocupado com a inflação e foi prudente. Isso é muito importante para a formação de expectativas, o que é positivo”, diz Ricardo Balistiero, mestre em economia e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia.

    A manutenção da Selic em 6,50% interrompeu o processo de redução da taxa de juros iniciado em 2016 e surpreendeu parte do mercado, que apostava em um corte de 0,25 ponto porcentual na reunião desta quarta-feira. O que pesou na decisão do Copom foi o cenário internacional. “A crise cambial da Argentina acendeu o alerta dos economistas de que o cenário atualmente para a política monetária deve ser cauteloso”, afirma André Diz, professor de macroeconomia do Ibmec/SP.

    Segundo ele, o Copom passou o recado de que está preocupado com o efeito da valorização do dólar sobre a inflação. “Foi uma decisão muito acertada e passa o recado de precaução, ainda mais em uma época em que o câmbio está sofrendo bastante pressão e o real se desvaloriza cada vez mais frente ao dólar.”

    A questão para o setor produtivo é que a interrupção do corte de juros desacelera o processo de retomada da economia, que vem em um ritmo menor que o desejado. “Do ponto de vista da retomada, a notícia não é boa. Toda vez que não se corta juro, a economia não se acelera, pois impacta no crédito. Os dados econômicos autorizariam o BC a fazer mais um corte de juro”, diz Balistiero.

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    Em nota, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou a decisão do Copom. “Corremos o risco de ver morrer a retomada da economia, num momento em que o Brasil tenta sair de sua pior crise. O crescimento ainda é muito frágil – e só vai ganhar força se ficarem em nível razoável os juros para quem quer investir e consumir.”

    A economia brasileira recuou no primeiro trimestre, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que registrou queda de 0,13% nos primeiros três meses deste ano na comparação com quarto trimestre de 2017 (outubro a dezembro). Conhecido como “prévia do BC para o PIB”, o IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses.

    Na opinião de Diz, o efeito sobre a retomada do crescimento é mínimo. “A nossa economia ainda não está com um movimento forte de recuperação. Nossa retomada é lenta e repleta de solavancos. Então cortar 0,25 agora ou daqui a 45 dias poderia ter o mesmo efeito, praticamente ainda pequeno, para o crescimento econômico.”

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    O cenário eleitoral, mesmo sem ser mencionado pelo Copom, é outro fator que preocupa o mercado financeiro. “A economia, tanto a nacional quanto a internacional, está bastante turbulentas Internamente, nos aproximamos cada vez mais das eleições, e ainda é difícil conseguir analisar as propostas econômicas dos candidatos mais competitivos”, afirma o professor do Ibmec/SP.

    Para Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, a retomada sustentável da economia depende não só da política monetária, mas também da aprovação de reformas macroeconômicas e microeconômicas que estimulem a atividade comercial no país e corrijam nosso déficit fiscal. “Mas essas pautas estão paradas no Congresso há alguns meses. Então, o corte de 0,25, se tivesse ocorrido, poderia provocar alguma continuidade na atividade econômica.”

    O fato de o Copom ter citado a frustração com continuidade da agenda de reformas não justifica a decisão de hoje. “Esse já era um assunto passado. Pelo menos desde o início da intervenção militar no Rio de Janeiro não se fala do impacto do enterramento da reforma da Previdência para a economia do país. Então não faz muito sentido.”

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    Em nota, o Copom sinalizou que o ciclo de redução se corte da taxa de juros foi finalizado. “Para as próximas reuniões, o Comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.”

     

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