O Banco Central Europeu (BCE) manteve sua principal taxa de juros na mínima recorde de 0,75% nesta quinta-feira. A decisão indica que nem mesmo a principal autoridade monetária e financeira da região do euro tem clareza sobre a recuperação das economias do bloco.
Aos olhos do mercado, o BCE está esperando para ter certeza do rumo que a economia da região vai tomar: se se estabiliza ou se a série recente de dados econômicos fracos concretizará o início de uma nova contração.
A decisão desta quinta-feira marca o nono mês seguido em que o BCE não mexe na taxa de juros. A autoridade monetária também deixou a taxa de juros sobre depósitos em 0% e a de empréstimos (taxa de empréstimo emergencial para países em dificuldade) em 1,5%.
O presidente do BCE, Mario Draghi, disse nesta manhã de quinta-feira, após o anúncio da decisão sobre juros, que o banco irá manter o olhar atento sobre dados econômicos e monetários nas próximas semanas para julgar o impacto que terão sobre a inflação.
“As taxas de inflação caíram ainda mais como esperado e os preços a médio prazo deverão continuar contidos. As dinâmicas monetária e de crédito continuam reprimidas”, disse Draghi, acrescentando que a política monetária acomodativa permanecerá enquanto for necessário.
Leia também:
Contração da indústria da eurozona se aprofunda em março
Para presidente do BCE, 2012 foi ano do relançamento do euro
Contexto – Um possível corte nos juros era esperado por parte dos analistas que acompanham os movimentos do banco. Isso porque, ao contrário do Brasil que vive uma escalonada de preços, a inflação na zona do euro está recuando. Na quarta-feira, o escritório de estatísticas da União Europeia, Eurostat, mostrou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da região passou de 1,8% em fevereiro para 1,7% em março. Esta é a menor alta dos preços desde o ganho de 1,6% registrado em agosto de 2010.
O que pode parecer razoável para uma economia regional que ainda não consegue se livrar da crise econômico-financeira, indica, contudo, que o consumidor não está comprando e, por isso, os preços não estão subindo – a inflação é vista principalmente quando a demanda (consumo) se sobressai a oferta (produção). O problema é que esse cuidado que o europeu está com o que gasta pode levar a uma estagnação mais prolongada da economia do euro, ainda mais diante de cortes de gastos públicos, empresas receosas em investir e aumento do desemprego, que chega a ser alarmante em alguns países como a Espanha.
Também segundo a Eurostat, o desemprego na zona do euro atingiu 19,071 milhões de pessoas em fevereiro nos 17 países que adotam o euro como moeda. Trata-se do mais alto número de desocupados desde o início da série, em 1995. No segundo mês do ano, a taxa de desemprego ficou estável na comparação com a taxa revisada para cima de janeiro, em 12% – também um recorde. A Grécia e a Espanha são os países com maiores índices de desempregados: 26,4% e 26,3%, respectivamente.
A agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P) divulgou relatório em março dizendo que acredita ser alto o risco de que Espanha, Itália, Portugal e França não serem capazes de realizar as reformas econômicas de que precisam, uma vez que o desemprego se agrava e prejudica a capacidade desses países de seguir em frente com as medidas de austeridade necessárias. “O alto desemprego na Espanha, Itália e França é socialmente explosivo”, disse o chefe da S&P na Alemanha, Torsten Hinrichs ao jornal local Neue Osnabrücker Zeitung. “Precisa haver um consenso social para medidas de poupança. Alto desemprego não ajuda.”