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Puxados por ‘Bridgerton’, romances de época viram febre no Brasil

Trama açucarada da Netflix reforça tendência de obras que retratam nobres apaixonados – e haja duques e duquesas para preencher tantos livros e séries

Por Tamara Nassif Atualizado em 14 jul 2021, 17h29 - Publicado em 14 jul 2021, 10h13

Desde a estreia de Bridgerton, em dezembro do ano passado, o cobiçado – e bonitão – Duque de Hastings segue arrancando suspiros por aí. E não é para menos: o personagem vivido pelo britânico Regé-Jean Page entrou para o panteão de mocinhos ficcionais que, entre um e outro conflito interno, carregam um velho título nobiliárquico como atributo. E que baita atributo. Com Hastings puxando a fila, uma verdadeira febre por duques foi instaurada aqui no mundo real, onde livros com títulos como Projeto Duquesa e O Duque que Eu Conquistei, por exemplo, voam das prateleiras e conquistam um sólido posto no coração de leitores. Não raro, conquistam espaço também na lista de mais vendidos de VEJA, na qual digladiam com O Duque e Eu, de Julia Quinn, romance que inspirou a série da Netflix. 

O filão do qual Bridgerton faz parte nada mais é  que uma promessa de escapismo para um mundo em que saem de cena os trogloditas e boys-lixo da vida real e entram lordes, condes, duques, príncipes e reis. Para além dos atrativos idealizados até não mais poder, eles também têm corações facilmente conquistados por mocinhas comuns – espelhadas naquelas mundanas que devoram esse tipo de romance – e uma vontade acachapante de mimá-las com tudo que a realeza dá direito. Para coroar (com perdão pelo trocadilho) seu charme, estão dispostos até a abrir mão da opulência se for o que a amada deseja. Faz séculos, claro, que obras desse tipo fazem sucesso (O Diário da Princesa, de 2000, que o diga). Mas talvez elas nunca estiveram tão em alta – e é até possível que o casamento do Príncipe Harry com Meghan Markle, que era atriz antes de ser a Duquesa de Sussex, tenha um dedinho nisso. 

Quer seja por uma decepção com os homens de hoje, quer seja por uma pandemia viral que expulsou qualquer vislumbre de normalidade no horizonte próximo, fato é que as audiências são atraídas para o glamour da realeza. A fantasia de uma vida cravejada de pedras preciosas e romances açucarados cativa até a mais cética das mocinhas – afinal, o que é a ficção (e o chick-lit, por extensão) se não um passaporte para uma vida tão improvável quanto desejável? O fascínio por romances de época chegou a tal ponto que está saindo do forno um reality-show de encontros amorosos baseado na temática do célebre Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Em produção nos Estados Unidos, Pride & Prejudice: An Experiment in Romance terá “uma heroína em busca de seu duque”, cujos pretendentes terão que escrever cartas de amor à mão e competir com arco-e-flecha, em pleno século XXI. A grande Jane Austen já viu sua obra dar mote até a tramas com zumbis – mas não merecia, pobrezinha, que seus romances de fina observação social e esmero literário fossem reduzidos a histórias de princesa (que nem há neles!). 

Cena de 'Orgulho e Preconceito', longa inspirado no romance homônimo de Jane Austen
Cena de ‘Orgulho e Preconceito’, longa inspirado no romance homônimo de Jane Austen (Universal/Divulgação)

Nessa toada, o entretenimento elevou o mundo monárquico a um patamar tão inacreditável de idealização que dezenas de traços históricos acabam atropelados pelo caminho. Em Bridgerton, negros, brancos e asiáticos circulam pelo alto-escalão da corte, em uma sociedade em que racismo e escravidão são inexistentes (igualzinha à Inglaterra do século XVIII, óbvio). Aliás, o próprio Duque de Hastings é negro, vale ressaltar. Na trama de Projeto Duquesa, da editora Arqueiro, a mãe do protagonista se casa três vezes, com três duques, em uma época em que “feminismo” seria considerado um palavrão. Apesar dos anacronismos e incongruências históricas, isso não é de todo ruim: mostra que as audiências de hoje estão não só mais atentas, mas demandando que romances, mesmo os de época, estejam em sintonia com os dias de hoje. 

Prova disso é que essa seara revela-se forte entre leitores infanto-juvenis. As incontáveis Cortes, de Sarah J. Maas, são sucesso absoluto, ao lado de A Seleção, de Kiera Cass. Nas tramas, as personagens femininas levantam a voz, questionam, se impõem e retratam um tipo de empoderamento até então inalienável a uma vida na nobreza. O pop Vermelho, Branco e Sangue Azul, de Casey McQuiston, transporta a narrativa da realeza para um romance gay – coisa em voga nas telinhas também com a série Young Royals, da Netflix. 

Em meio ao mal-estar que abateu grande parte da população brasileira em 2021, cai bem um mundo em que reis e rainhas governem com benevolência, e duques de todas as etnias protagonizem amores açucarados. Nele, ninguém precisa se preocupar com pandemias letais, escândalos de corrupção e democracias em risco. A única ruga na testa é provocada pela dúvida eterna: o mocinho ficará com a mocinha (ou com o outro mocinho) no final? Como é de praxe no filão, sabemos que a resposta é um “sim” retumbante. 

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