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Itália usou bactérias para limpar esculturas de Michelangelo

Museu aplicou agente biológico em manchas criadas por decomposição de corpo enterrado no local há séculos

Por Amanda Capuano Atualizado em 31 Maio 2021, 12h10 - Publicado em 31 Maio 2021, 11h51
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  • No final de 2020, com a segunda onda da pandemia se alastrando pela Europa, pesquisadores italianos colocaram em prática um plano curioso: liberaram uma colônia de bactérias dentro da Capela dos Médici, em Florença, para que elas fizessem a limpeza de obras conhecidas de Michelangelo. “Era um grande segredo”, contou a restauradora Daniela Manna ao The New York Times, que noticiou o experimento no domingo, 30.

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    O processo começou em 2019, quando o museu convocou o Conselho Nacional de Pesquisa da Itália para fazer uma análise no local. Eles usaram uma tecnologia infravermelha que revelou materiais orgânicos remanescentes nas esculturas de duas tumbas na Nova Sacristia, reduto para o qual Michelangelo serviu de arquiteto e escultor. Com o raio-x da área, a bióloga Anna Rosa Sprocati passou a fazer testes para escolher a bactéria mais adequada entre mais de 1.000 espécies, a maioria usada para conter derramamentos de petróleo e diminuir a toxidade de metais pesados. Nenhuma delas foi escolhida, e testes adicionais foram realizados com mais oito variedades aplicadas com sucesso em uma área delimitada atrás do altar.

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    Depois de certificada a segurança do procedimento, a primeira obra a receber a limpeza curiosa foi a tumba feita por Michelangelo para Giuliano di Lorenzo, adornada por duas figuras humanas: um corpo masculino, representando o dia, e um feminino, como símbolo da noite. No “cabelo”, a equipe aplicou a bactéria Pseudomonas stutzeri CONC11, encontrada em curtições de couro em Nápoles, as orelhas foram limpas com cepas de Rhodococcus sp. ZCONT, presentes em solos contaminados com diesel, e o restante do rosto, assim como a cabeça de Giuliano, receberam um tratamento a base de goma xantana, derivada da bactéria Xanthomonas campestris.

    Com a chegada da pandemia no início de 2020, o museu foi fechado e o projeto suspenso, mas as bactérias voltaram aos sarcófagos em outubro, quando a visitação foi retomada em horários reduzidos. Dessa vez, a bactéria escolhida foi a SH7, encontrada em solo contaminado por metais pesados ​​em um sítio mineral na Sardenha. A variedade foi aplicada no sarcófago manchado de Lorenzo di Piero, enterrado junto do seu filho assassinado Alessandro.

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    É a Alessandro Médici, aliás, a quem se credita boa parte do problema: segundo Daniela, o homem foi enterrado no mausoléu sem ser devidamente esviscerado — seu corpo esfaqueado foi jogado no local enrolado em um lençol e os produtos de sua decomposição se infiltraram no precioso mármore de Michelangelo ao longo dos séculos, criando manchas profundas e escuras. “SH7 comeu Alessandro”, brincou Monica Bietti, ex-diretora do museu das Capelas Medici, citando o nome da bactéria ao NYT.

    Em 2013, o então diretor do museu notou uma grande deterioração desde a última restauração, em 1988. Na ocasião, o museu limpou a umidade das paredes e marcas de mãos e restaurou as estátuas da área. Nada, porém, era capaz de remover as manchas do sarcófago de Lorenzo di Piero, até o surgimento da opção biológica. Os resultados oficiais do projeto serão divulgados em junho, mas os turistas que visitarem o local já podem checar a diferença.

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