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Damien Hirst, da capa do disco de Drake a projeto megalomaníaco de NFT

Autor da capa de 'Certified Lover Boy', o controverso artista está testando os limites da arte digital com quadros de valor atrelado a algoritmos

Por Amanda Capuano Atualizado em 14 set 2021, 16h40 - Publicado em 14 set 2021, 10h06

Lançado no dia 3 de setembro, o álbum Certified Lover Boy, do rapper Drake, cravou nessa semana, nas paradas americanas, um lugar entre os discos mais bem-sucedidos do ano. Antes mesmo de chegar aos ouvidos do público, porém, o álbum causou burburinho nas redes sociais por estampar em sua capa uma sequência de emojis de mulheres das mais diversas etnias grávidas e vestidas em roupas coloridas. Qual não foi a surpresa quando se descobriu que o desenho aleatório, e aparentemente saído direto do celular do próprio Drake, é, na verdade, uma obra de Damien Hirst — um dos artistas britânicos mais polêmicos e populares do século XXI.

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Damien Hirst e a imagem que estampa capa do novo álbum de Drake (Damien Hirst/Instagram)

Embora o artista tenha sido catapultado à geração Z pela participação no trabalho do rapper popular, quando Damien Hirts fez sua primeira exposição, em 1988, Drake ainda usava fraldas. Rosto principal dos chamados YBA — do inglês young britsh artists, um grupo de jovens britânicos que marcou a arte contemporânea inglesa nos anos 90 — Hirst ficou famoso com uma arte provocativa que brinca com a relação entre a vida e morte. Seu trabalho mais notório e controverso, a série História Natural, expõe ao público uma coleção de animais mortos preservados em tanques de vidro, e tem como peça central um famoso tubarão branco batizado com o singelo título de A impossibilidade física da morte na mente de alguém que vive (1991). A lista de trabalhos notáveis inclui ainda uma caveira cravejada de diamantes e esculturas contemporâneas.

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Obra de Damien Hirst em exposição no Tate Modern art gallery, em Londres, em 2012 (Oli Scarff/Getty Images)
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A Virgem Maria de Damien Hirst em exibição na Royal Academy em 2006 (Christopher Hunt/Getty Images)

Nos últimos anos, porém, a veia filosófica de Hirst deu lugar a pinturas um tanto quanto genéricas com uma série de pontilhados coloridos aparentemente sem significado. Vendidas por cifras milionárias, as obras causaram estranheza no mundo da arte, mas se revelaram como um ambicioso projeto do artista.  Batizado como The Currency, o projeto é um experimento complexo sobre a arte digital, cada vez mais em alta nos dias de hoje. Segundo a descrição do site, o objetivo é “explorar os limites da arte e da moeda — quando a arte muda e se torna uma moeda, e quando a moeda se torna arte”.  Para tanto, o artista pintou 10.000 quadros do tamanho de uma folha de sulfite cobertos com o seu estranho pontilhismo. Em julho deste ano, ele disponibilizou as peças para venda, mas há um porém: cada um dos quadros tem um equivalente em NFT, versão digital certificada da obra, que é enviada aos compradores no momento da aquisição. Daí em diante, eles tem até julho de 2022 para decidir se querem a obra física ou a digital — qualquer que seja a escolhida, a outra opção é automaticamente destruída.

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Obras de Damien Hirst disponíveis para revenda como parte do projeto The Currency (OpenSea/Reprodução)

Com a escolha obrigatória atrelada a compra, o encerramento do projeto, em 2022, deve dar uma ideia significativa do peso da arte digital e física no mercado artístico de hoje em dia — afinal, quem ganhará a disputa? Enquanto a resposta não chega, Hirst brinca com o mundo digital com uma espécie de simulação milionária do mercado artístico, com os 10.000 NFTs funcionando como ações na bolsa de valores, ou uma moeda própria. Quando foram lançados, todos eles valiam 2.000 dólares, fazendo com que o valor total do projeto chegasse a 20 milhões de dólares. Desde que um mercado secundário foi aberto, no dia 29 de julho, foram 2.077 revendas, totalizando 50 milhões de dólares transacionados segundo a publicação especializada FAD Magazine, que estima que o valor de mercado total do projeto chegue à casa dos 500 milhões.

O pulo do gato para a valorização é que embora todas as unidades tenham sido vendidas a um preço inicial igual, cada uma das pinturas é analisada por um algorítimo que classifica as obras em um ranking de raridade a partir da densidade dos pontos, das cores usadas e das palavras presentes em cada título. Quanto mais rara uma peça é considerada pelo algoritmo, mais os colecionadores estão dispostos a pagar por ela — mesmo que a olho nu a identificação seja praticamente impossível.

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Na última atualização do site, a oferta mais barata está em 34.965,78 dólares, enquanto a venda mais cara já realizada arrecadou 120.614 dólares pela peça intitulada como YES. Há até quem peça cifras bilionárias pelos exemplares melhores ranqueados, mas esses ainda não foram bem sucedidos na revenda. No fim do dia, Hirst parece ter exposto que o que vale no mercado digital pode não ser exatamente o valor artístico da obra, mas o seu potencial de lucro.

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