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Censura ideológica: escritores reagem a livros banidos em escolas nos EUA

Obras conceituadas, de autores como Margaret Atwood e Art Spiegelman, caíram na guerra da polarização política

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 mar 2022, 12h10

Única história em quadrinho a ganhar o Pulitzer, o livro Maus: A História de um Sobrevivente, lançado originalmente em 1980, foi recentemente banido das escolas de um condado do estado americano Tennessee, considerado impróprio para adolescentes de 14 anos. A obra de autoria do sueco Art Spiegelman, 74 anos, é uma denúncia aos horrores do Holocausto – os pais do cartunista, que eram judeus poloneses, sobreviveram ao campo de concentração de Auschwitz. Apesar de sua evidente contribuição para a história, Maus foi censurado, segundo o conselho escolar do condado, pelo uso de oito palavrões e uma cena de quase nudez.

Sabendo da proibição, o dono de uma loja de HQs no Estado levantou doações e comprou milhares de exemplares de Maus e os distribuiu para estudantes. Spiegelman falou sobre o caso ao jornal The Guardian. “Essa ação mostra que não se pode banir livros, a não ser que eles sejam queimados junto com seus leitores e escritores”, disse. O cartunista ainda afirmou que o momento atual em que vivemos é a versão “mais orweliana da sociedade”, em referência à distopia clássica 1984, de George Orwell. “Não é simplesmente esquerda versus direita. É uma guerra cultural fora de controle. Como um defensor da liberdade, eu acredito que todos têm o direito de ler tudo, juntamente com um material de apoio apropriado. Se um jovem quer ler Mein Kampf (polêmico livro de Hitler), é melhor que ele o faça na escola com uma explicação adequada, em vez de pegar o livro na estante do pai e ficar traumatizado.”

Outra HQ banida em uma escola americana, dessa vez no Texas, foi a versão ilustrada de O Conto da Aia, best-seller da canadense Margaret Atwood. A razão seria ofensas ao cristianismo e conteúdo sexual. Na trama, uma ditadura religiosa impõe que mulheres férteis sejam usadas como escravas por homens da elite – todo mês, elas passam por uma cerimônia sexual, com o intuito de dar filhos ao casal que lhe mantém como aia. Sobre o caso, Margaret respondeu com uma carta aberta que já havia sido escrita por ela em 2006, quando outra controvérsia do tipo surgiu. “Primeiramente, um detalhe, me choca que destaquem como problema ‘ofensas ao cristianismo’. Em nenhum momento, o regime ditatorial do livro é definido como cristão. Sobre conteúdo sexual, O Conto da Aia é bem menos interessado em sexo do que a Bíblia.”

O imbróglio parece longe de ter fim. Se do lado dos estados republicanos, livros estão sendo banidos por conteúdos rechaçados pelos mais conservadores, do outro, entre os mais progressistas, títulos clássicos como O Sol É para Todos, de Harper Lee, e As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, foram “cancelados” por seu conteúdo acusado de racista. A diferença entre os dois lados, porém, é que os republicanos usam recursos legais e angariam o apoio das autoridades para censurar as obras. Segundo a Associação de Bibliotecas Americanas, entre setembro e novembro do ano passado, 330 casos de censura foram reportados – o número é o dobro do total do ano inteiro em 2020. Medidas, como um fundo milionário contra a proibição de livros, estão sendo criadas para combater a censura no país.

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