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Por Kelly Miyashiro
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Como se tornar o pior filme da história – e cair na lama da polarização

Detestado pela direita e pela esquerda, longa de 2017 com Danilo Gentili e Fabio Porchat é medíocre - mas não é uma apologia à pedofilia

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 mar 2022, 12h44

Lá em 2009, o humorista Danilo Gentili lançou um livro batizado Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola. Tratava-se de um manual irônico e politicamente incorreto sobre sua própria experiência na escola (péssimo aluno, como o próprio diz, Gentili chegou até a ser expulso de um colégio). Quase dez anos depois, o livro foi adaptado para o cinema – e o que era uma ideia apalermada se tornou um filme vexatório, de roteiro fraco e excesso de testosterona adolescente desgovernada. Desde seu lançamento, em 2017, Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola foi carimbado com o selo de filme ruim. Na época, a polarização política ainda jogou a produção – assinada por Gentili, um reconhecido anti-petista – na conta da cultura vinda da direita. Aqueles que ousaram criticar o filme foram chamados de “mortadela”, apelido pejorativo destinado à esquerda, xingamento que até essa repórter que aqui escreve recebeu na época (apesar de não ser petista, mas gostar de mortadela). Agora, a produção, quem diria, virou uma peça de exploração eleitoreira das milícias digitais pró-Bolsonaro.

Nesta semana, um trecho do longa, que entrou recentemente para o catálogo da Netflix, passou a ser compartilhado pelas redes sociais e especialmente por barulhentos bolsonaristas – entre eles Mario Frias, o famigerado Secretário Nacional de Cultura. Na cena, Fábio Porchat, que faz um dos muitos personagens asquerosos do filme, sugere um ato sexual a dois adolescentes. O recorte sem contexto (o momento se passa bem no começo do longa) viralizou subitamente nas redes e Porchat foi “acusado” de pedofilia e encaixado no “time da esquerda”. O próprio soltou um comunicado óbvio: “Esse cara é um vilão, ele faz maldades, é um personagem”. Mas distinguir realidade de ficção não parece ser algo tão óbvio em um mundo de discursos rasos.

Dito isso, vale ressaltar: pedofilia é crime. Nenhuma pessoa em sã consciência ou de qualquer lado do espectro político defenderia em público a prática. O filme, aliás, não faz isso. Ao contrário do que a polêmica sugere, os dois adolescentes do filme respondem com asco à proposta e insinuação do personagem pedófilo, e saem correndo quando percebem que não deveriam ter entrado na casa de um estranho. Fica aí, aliás, uma lição: jovens, não entrem na casa de estranhos.

Nesta terça-feira, 15, o Ministério da Justiça publicou um despacho exigindo a censura do filme e impôs uma multa de 50 000 reais caso a Netflix não retire a produção de seu catálogo. A controvérsia segue um modelo estabelecido pelos seguidores de Bolsonaro. A fórmula é simples: afirmar que a integridade das crianças ou da família está em perigo para, em seguida, se apresentar como a única solução. E, sem aprofundar a conversa, o clamor histérico é sempre a mesmo: proibir e censurar. Como se, ao impedir a Netflix de exibir o filme, o Brasil pudesse ficar livre do fantasma da pedofilia. Assim, em uma era de tanta gritaria oportunista e pouca razão, vale colocar mais uma vez os pingos nos is: Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola é nada mais que um filme medíocre – mas censurá-lo por causa de um vilão asqueroso é uma resposta não menos tacanha. E inaceitável numa democracia.

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