Para o brasileiro Carlos Saldanha, a indicação de Touro Ferdinando ao Oscar foi a “cereja do bolo” de um longo processo. Com uma extensa carreira em Hollywood, o diretor concorrerá à estatueta de melhor animação no próximo dia 4 de março, ao lado de Viva – A Vida É Uma Festa, Com Amor, Van Gogh, O Poderoso Chefinho e The Breadwinner.
Esta será a segunda vez do diretor no tapete vermelho do prêmio da Academia de Hollywood. Em 2002, Saldanha concorreu à estatueta de melhor curta de animação com Aventura Perdida de Scrat, de A Era do Gelo, franquia também assinada por ele.
Em entrevista a VEJA, o diretor comentou a indicação, o Oscar e a indústria cinematográfica brasileira:
Como foi receber a segunda indicação ao Oscar? A indicação por Touro Ferdinando veio com um gostinho especial, por ser um longa-metragem. Foram sete anos de trabalho em cima dele (três de desenvolvimento, quatro de produção). Receber essa nomeação depois de tanto trabalho foi a “cereja do bolo”, catártico, a confirmação de um trabalho bem feito.
O que você acredita que chamou a atenção da Academia em Touro Ferdinando? Eu sempre tive muita confiança nesse projeto. Adoro a mensagem, a história. No geral, ele muito diferente de tudo que eu já fiz, e do que tem por aí no mercado de animação. Eu me preocupei muito também em levar o público do livro, que deu origem à história, para o cinema. Por esses e outros motivos, eu acredito que ele se destacou.
Se o Oscar de melhor animação não for para você, para qual dos outros concorrentes gostaria que fosse? Dois filmes independentes muito bonitos estão concorrendo na categoria, The Breadwinner e Com Amor, Van Gogh. Eu espero que os jurados deem a devida atenção a eles e os analisem por seu mérito próprio, não só pela popularidade.
Os brasileiros, no geral, esperam bastante estar entre os indicados ao Melhor Filme Estrangeiro, e acabam esquecendo um pouco as animações, que vêm representando muito bem o Brasil no Oscar. Você acredita que existe uma subvalorização da animação no cinema brasileiro? Acho que é mais questão de investimento e preparação. Falta uma estrutura no Brasil que ofereça ferramentas para os artistas produzirem animações. Fazer um filme live-action com pouco orçamento é possível, existem diversos bons filmes independentes feitos por um grupo de amigos com uma câmera na mão. Já animação é mais complicado, não dá para fazer sozinho, demora muito tempo e custa caro. Mas, no geral, o Brasil tem feito bastante progresso nesse setor. Em 2017, tivemos Lino, que reuniu todo um esforço para fazer um filme em 3D. Recentemente também teve O Menino e o Mundo, do Alê Abreu, que concorreu ao Oscar em 2016.
Qual filme você espera que ganhe o Oscar de melhor filme? Eu gostaria de poder dividir o prêmio em três: A Forma da Água, Três Anúncios para um Crime e Me Chame pelo Seu Nome. Mas, particularmente, eu acho que só estar entre os indicado já é um prêmio. Um deles vai ganhar, mas não quer dizer que os outros são piores. Todos já chegam à premiação como vencedores.
Quais seus projetos agora, depois de Touro Ferdinando? Eu estou com vários projetos de animação em andamento, esperando o “sinal verde” para começar a produzi-los, de fato. Enquanto isso, queria aproveitar esse ano para trabalhar em um filme de live-action (com atores). Desde Era do Gelo, eu pulei de uma animação para a outra, e não tive um momento para investir em outros setores. Sair um pouco da minha linha de produção agora seria bom para dar uma reciclada na minha cabeça, renovar minhas energias. Estou com alguns projetos no Brasil, outros aqui nos Estados Unidos.