Desde o início da carreira, na década de 1980, Madonna dizia que dominaria o mundo. Conseguiu. Pelo menos dois “mundos”, em que se tornou uma rainha incontornável: na música pop e na moda. Foi ela que abriu as portas do universo fashion para estrelas como Beyoncé, Lady Gaga e Taylor Swift. Se não fosse Madonna, provavelmente não teriam nenhuma influência em tendências relacionadas a roupas, sapatos, acessórios e joias.
Isso porque a rainha do pop, que está no Brasil para o último show de sua Celebration Tour, que comemora seus 40 anos de carreira, no sábado 4, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, intuiu lá atrás que pela moda poderia fazer barulho. Não foi à toa que, em sua primeira aparição de impacto, no Video Music Awards, premiação da MTV, nos Estados Unidos, em 1984, resolveu sair de um bolo enorme com um vestido de noiva rendado, adornado por um cinto no qual se lia a inscrição boy toy (brinquedo de menino) e um imenso crucifixo, símbolo maior do cristianismo. Ali, ela entendeu que mais do que a letra polêmica do clássico Like a Virgin, poderia usar o efeito imediato da moda como aliado para projetá-la no universo musical.
E não deu outra – a partir disso, absolutamente tudo o que Madonna usava virava febre nas ruas. As cruzes, por exemplo, se tornaram objetos de desejo, com cantores como Prince e George Michael adotando o visual. Como parte essencial do estilo maddoniano nos anos 1980, ela também impulsionou a moda como um meio de comunicação e manifesto, para transmitir mensagens sociais e políticas.
Assim, em 1990, ao lançar sua turnê Blond Ambition, voltou a usar a moda para levantar a bandeira do feminismo e da liberação sexual, no figurino que se tornaria a mais famosa imagem de sua carreira: o icônico corset em formato de cone, assinado pelo estilista francês Jean-Paul Gaultier, de quem se tornou uma espécie de fada-madrinha para suas criações contestadoras e fetichistas. Ali, ao surgir no palco com o espartilho, peça que representava a opressão feminina, por cima de uma calça risca de giz, como símbolo do machismo determinante, ela quebrou paradigmas e virou ícone da liberdade de expressão.
Nessa época, Madonna não só entrou na realeza da música, como também se tornou uma rainha da moda – afinal de contas, fora o manifesto e a mensagem política, tanto os espartilhos quanto a alfaiataria risca de giz viraram tendências nas passarelas e nas ruas.
Estilistas amigos e tendências marcantes
Depois disso, foram tantas tendências criadas e lançadas por Madonna – lingerie à mostra, boywish com elementos do vestuário masculino, suas inúmeras versões de Marilyn Monroe, rosa-choque muito antes da Barbiecore e western muito antes de Beyoncé, para citar algumas – que seria impossível enumerar. E muitas ajudaram a impulsionar estilistas para o olimpo fashion. O próprio relacionamento com Jean-Paul Gaultier ainda daria muitos frutos – é dele o famoso quimono de gueixa do videoclipe Nothing Really Matters (1998) e os figurinos das turnês Drowned World Tour (2001) e Confessions Tour (2006).
A dupla italiana Dolce & Gabbana, por exemplo, passou a ser notada após a cantora surgir com um modelito assinado pelos estilistas. E, em 1993, estouraram de vez, quando ela surgiu no palco de sua turnê mundial The Girlie Show ostentando figurinos fetichistas de Domenico e Stefano. Assim também foi com Azzedine Alaïa, homenageado pela estrela no videoclipe de Bad Girl, em que ela não só usa roupas assinadas por ele, como deixa aparecer a etiqueta da grife em uma cena; e com os irmãos Gianni e Donatella Versace, que, ao se tornarem amigos pessoais de Madonna, colocaram a cantora como garota-propaganda de campanhas da marca, em 1995, 2005 e 2015. A relação da estrela com Donatella é tão forte que, além de assinar o macacão prateado futurista da Celebration Tour, foi convidada a subir ao palco da rainha do pop em Milão.
Não foram poucos os amigos fashion de Madonna, aliás, que tiveram seus trabalhos elevados pelo brilho da pop star. Tom Ford, em sua época de Gucci, viu seu look de calça preta e camisa azul ser copiado à exaustão após a cantora surgir com ele no palco do VMA de 1995. Frida Giannini presenciou o fenômeno de perto, com suas jaquetas bomber alçadas a objetos de desejo após a estrela usar e abusar do look na época de Confessions on a Dancefloor (2005) e Alessandro Michele, novo diretor criativo da Valentino, virou centro das atenções ao assinar o terno roxo que ela usou no Billboard Music Awards, em 2016, para homenagear o cantor Prince.
Amiga íntima de Madonna, Stella McCartney foi a escolhida para criar seu vestido de noiva em 2000 para o casamento com o cineasta Guy Ritchie; enquanto Riccardo Tisci disparou as vendas da Givenchy com o look de rainha que criou para a cantora se aprensentar no Super Bowl, em 2012.
A Chanel foi outra marca que elevou a procura pós figurinos da Re-Invention Tour (2004), criados por Karl Lagerfeld, assim como pelos vestidos de Diane von Fürstenberg, a quem a estrela recorria sempre que queria parecer mais recatada, como no lançamento de seu livro infantil ou em uma conferência religiosa em Tel-Aviv, lugares em que usou o wrap dress. Agora, Madonna aposta no georgiano exilado em Paris, Guram Gvasalia, diretor criativo e CEO da grife francesa Vetements, que assina a maior parte do figurino da atual Celebration Tour.
Hoje, aos 65 anos, Madonna pode comemorar não só 40 anos como uma das maiores estrelas da música pop, mas quatro décadas como um dos maiores ícones fashions da história. Como bem resumiu a editora e consultora de moda britânica Anna Wintour: “Madonna é uma das criadoras de estilo mais potentes de nosso tempo”.
Confira fotos de looks que marcaram o estilo de Madonna: