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Autor desnuda como sexo e política se cruzam em Brasília

Silvio Barsetti fala a VEJA sobre seu novo livro, ‘O outro lado do poder’, e comenta o discurso sexualizado de Bolsonaro

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 out 2022, 18h55 - Publicado em 26 out 2022, 11h00

Silvio Barsetti, autor do livro O outro lado do poder, que aborda a história da política brasileira sob a ótica das prostitutas, revela casos reais de escândalos sexuais envolvendo mandatários e congressistas do poder nacional – sem entregar nomes ainda em atuação. Muitos deles defensores do discurso “da moral, dos bons costumes e da família tradicional”. Em conversa com a coluna, Barsetti também comenta as recentes polêmicas de Jair Bolsonaro (PL) e a sexualização do discurso político.

A política é excitante? Não, no Brasil não é. Ela reúne desânimo, apatia, mal-estar, desapontamento, desconfiança, incredulidade, difícil ser excitante assim.

Como você vê essa fase moralista da política na prática? Vários parlamentares que votaram no impeachment da Dilma e que fizeram discurso ‘pela família, pela minha filha, pela minha esposa’, estão com prostitutas. Eles, que ficam fazendo esses discursos moralistas, estão lá. É uma hipocrisia danada, ela guia o pensamento de muita gente no país.

Qual é o seu objetivo com a obra? O livro tenta mostrar duas coisas. Primeiro, que a prostituição é algo comum desde Getúlio Vargas, que até os chefes do executivo, como o próprio Getúlio, JK, Jango, enfrentavam bordéis sem cerimônia, que eram ambientes que serviam para encontros sociais. Segundo, estes lugares passaram a abrigar, mais recentemente, grandes festas envolvendo políticos, com valores altíssimos, supostamente usando nosso dinheiro.

Como ocorreram as pesquisas? Foi com ajuda de outro jornalista, o Roberto Lúcio. A gente esteve pessoalmente em Brasília, nas boates mais badaladas do Rio…. E entrevistamos inúmeras delas, conseguimos não só entrevistar prostitutas novas, na faixa dos 20 anos, como algumas na faixa dos 60 e 70 anos.

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Também entrevistou os clientes políticos? Alguns, mas o mais curioso é a quantidade de políticos que saíram fora, não queriam falar de jeito nenhum. Conheço alguns parlamentares de Brasília e, quando eu dizia que estava fazendo um livro, me tratavam com muito afeto. Quando descobriam o tema, sumiam. Tinham medo!

Qual é escândalo mais absurdo do livro? Tem um que encheu a banheira com uma prostituta de luxo com o champanhe mais caro. Um outro deputado, do norte do país, antes de sair com prostitutas, precisava tomar sopa de tartaruga. Ilicitamente, porque há legislação que regula a consumação de tartarugas! Várias histórias de parlamentares mantendo as prostitutas em hotéis de luxo por meses em Brasília, com gasto de mais de 40 mil reais por mês, só para tê-las como amantes exclusivas. Tinha um senador, em Brasília, com jatinho particular, que saía com a prostituta para transar sobrevoando Brasília.

E qual o caso mais recente relatado por você? Um prefeito, de uma cidade do interior, tentou criar um prostíbulo municipal, onde elas poderiam trabalhar à vontade.

Há uma consolidada rede de prostitutas para políticos? É para quem tem condição de pagar muito caro. Empresários, investidores, não só políticos. E tem agenciadoras, cafetinas, que são exclusivas para organizar festas e orgias para políticos. A coisa acontece de terça a quinta, quando muitos políticos estão em Brasília. A realidade é uma esbórnia.

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Também há relação de políticos com garotos de programa? Profissionais do sexo, em sua grande maioria, são mulheres, mas tem também rapazes em menor número. Só que aí tem uma diferença, talvez pelo receio de que a vida política se encerre em um estalar de dedos, quando descobrirem. É muito mais cauteloso. Entra a questão da aceitação, a questão da homofobia ainda é muito forte no Brasil.

O governo Bolsonaro rende um livro? Deve render vários livros, uma biblioteca específica para ele. São muitas histórias e, a cada dia, parece um livro novo. Esse episódio do Roberto Jefferson é no mínimo uma série da Netflix! Ele deu uma bela contribuição para a ficção nacional.

O presidente usa muito o discurso sexual na campanha, com termos com “imbroxável”. De que forma a vida sexual é assunto público? Ele usa isso de forma rasteira, tem misoginia, homofobia, por aí vai… Qualquer discussão sobre sexualidade pode ser interessante, dependendo de quem queira lançar a discussão.

Recentemente tivemos a polêmica da fala do presidente sobre meninas venezuelanas, além da compra de viagras… Está tudo errado! São discussões que não deveriam estar na ordem do dia, porque não deveriam ter acontecido. Essas pautas não deveriam existir, não para esconder, mas por ter acontecido o que aconteceu.

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Por que o debate está tão sexualizado no Brasil? A campanha do Bolsonaro nessa reta final está muito focada nos costumes. Ele gosta de falar dessa coisa da virilidade, talvez para fazer um contraponto à questão da idade em relação a Lula. Não sei se ele faz isso intencionalmente para marcar posição de vantagem. São falas machistas o tempo todo.

Capa de 'O outro lado do poder'
Capa de ‘O outro lado do poder’ (Reprodução/Divulgação)

ALGUMAS HISTÓRIAS DO LIVRO:

Bordel democrático

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Famoso bordel de Curitiba na primeira metade do século passado, a Casa de Otília recebia muitos político, entre eles o presidente Getúlio Vargas. As melhores suítes acolhiam os mais poderosos. À clientela menos privilegiada ficavam reservados quartos improvisados no quintal. Era um espaço de prazer democrático, que recebia, indistintamente, o rico e o pobre, o figurão e o anônimo. Na Casa de Otília, não se perdia negócio. No fim da noite, com a redução no movimento, o preço do serviço caía. Era uma perfeita aula de liberalismo econômico, com a lei da procura e da oferta regulando os valores dos serviços ali oferecidos.

As primeiras farras

A construção de Brasília fez surgir o primeiro bordel, perto do Palácio do Alvorada. Numa localidade conhecida como Veneza, tinha como público alvo os profissionais encarregados de erguer e urbanizar a capital, as sim como empresários e políticos. Já os peões seguiam nos fins de semana em caminhões lotados para Luziânia ou Formosa, em Goiás. “Nesses lugares, a fila às vezes reunia uns 300 homens, e as mulheres iam gritando: ‘Tô livre!’. Quando saía o pagamento, então, era um inferno”, conta uma das prostitutas que trabalharam por lá.

Comemoração de Collor

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Logo após a vitória de Fernando Collor sobre Lula, em 1989, seu irmão Pedro, que ainda mantinha uma relação fraterna com Fernando, contratou a agenciadora Jeany Mary Corner para organizar uma das festas da vitória do novo presidente. A celebração foi na boate A Côrte, no Hotel St. Paul Plaza, na Asa Sul. Pedro pediu as prostitutas mais belas da capital. “Pode deixar, vou fazer a lista. Mas vai ficar caro, doutor Pedro”, alertou Jeany. “Isso não importa”, respondeu o irmão do presidente, decidido a não economizar.

Marcha do prazer

A Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios reúne todo ano, no mês de abril, quase dez mil prefeitos, vereadores e secretários municipais. Cada edição se estende por três dias e lota boates da capital. É o grande momento do mercado da prostituição no país. Centenas de moças de cidades vizinhas chegam a Brasília em caravanas. Na edição de 2019, o prefeito de Tibagi, no Paraná, Rildo Emanoel Leonardi (MDB), foi flagrado seminu pelas câmeras do elevador de um hotel da Asa Sul de Brasília, em relações íntimas com uma mulher. No mesmo hotel, câmeras do corredor de outro andar registraram o momento em que mais um prefeito, de uma cidade de Rondônia, circulou nu de madrugada.

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