Desde que seu drama veio à tona, Klara Castanho precisou lidar com a exposição em um nível perturbador. O estupro, a gravidez em decorrência da violência, a doação do bebê: o vazamento das agruras pessoais que ela viveu colocaram a jovem sob julgamento por milhares de pessoas e influenciadores que não a conhecem. A atriz optou pela reclusão para se recuperar dos traumas e da explosão do caso na mídia. Nesta quarta-feira, 3, a Netflix lança a segunda temporada de Bom Dia, Verônica, em que a artista interpreta Angela, uma adolescente que sofre abusos psicológicos e físicos de seu pai, Matias (Reynaldo Gianecchini), um líder espiritual que violenta mulheres doentes. Klara precisou gravar a série enquanto enfrentava o próprio drama pesado em sua vida, no ano passado. Agora, a produção vai ao ar na gigante do streaming para milhões de espectadores curiosos sobre sua atuação – e é impressionante a potência da jovem de 21 anos como atriz.
Com desdobramentos da primeira temporada, Bom Dia, Verônica continua a saga de Verônica (Tainá Müller) em destruir a organização criminosa revelada por Brandão (Edu Moscovis), que é ligado ao vilão da nova leva de episódios. Assim como aconteceu com Moscovis, a atuação de Gianecchini se destaca na trama, até ofuscando um pouco a protagonista. Entretanto, é a força de Angela que carrega a maior parte da história. Uma menina doce e confusa sobre os próprios sentimentos, ela enfrenta seus dilemas de forma intuitiva e errática. Ao vivê-la na tela, Klara Castanho consegue alternar medo, dor, raiva e alegria de forma certeira e emocionante.
Outros papéis da atriz já haviam mostrado seu talento, mas a série da Netflix funciona como a prova definitiva em seu ritual de passagem de estrelinha adolescente a atriz adulta. A trama ilumina uma Klara muito maior do que os problemas que tem enfrentado: uma grande profissional e das revelações mais brilhantes de sua geração.
Para além dessa questão, Bom Dia, Verônica reforça a mensagem da primeira temporada sobre a importância de debater a violência contra a mulher no Brasil. Agora, usando um religioso que abusa de seu poder e da fé de mulheres para cometer crimes horríveis. Apesar de manter certas incongruências ingênuas nas investigações de Verônica, a série melhora o fôlego em relação à primeira temporada, e reduz enrolações ao optar por um formato mais compacto: a segunda temporada tem seis capítulos e não oito, como em sua leva inicial. Cumpre, assim, o papel primordial de uma boa série na era do streaming: o de ser fácil e irresistível de maratonar.