DESCOBRIRAM QUE O RODOANEL É BOM, ACREDITEM!!! E O ESPECIALISTA QUE TALVEZ NÃO ARRUME A CAMA DE MANHÃ…
Vocês podem não acreditar, mas é verdade. A Folha de S. Paulo publicou hoje uma reportagem que se pode dizer, digamos, QUASE “positiva” sobre o Rodoanel. E, porque positiva, não se toca no governo do Estado, naturalmente. Caso faltasse um placa —ou o jornalista achasse que um placa iria bem em algum lugar —, imediatamente […]
Vocês podem não acreditar, mas é verdade. A Folha de S. Paulo publicou hoje uma reportagem que se pode dizer, digamos, QUASE “positiva” sobre o Rodoanel. E, porque positiva, não se toca no governo do Estado, naturalmente. Caso faltasse um placa —ou o jornalista achasse que um placa iria bem em algum lugar —, imediatamente haveria a explicação: “A obra foi inaugurada pelo então governador José Serra…”
Informa a reportagem:
“A abertura do trecho sul do Rodoanel aliviou o trânsito de caminhões na avenida dos Bandeirantes, rota de motoristas rumo ao sistema Imigrantes/ Anchieta e ao porto de Santos. (…) A Folha constatou redução de 43% na Bandeirantes, entre as 16h e as 17h, horário que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) considera de pico. Ontem, circularam 816 caminhões [em uma hora] nos dois sentidos -Imigrantes e marginal Pinheiros. Duas semanas atrás, também uma segunda-feira (22 de março), foram 1.427. A medição ocorreu com um contador cedido pelo Datafolha.”
Ufa! Desde a inauguração deste trecho do Rodoanel, a minha impressão é que tinha sido a pior coisa jamais feita pelo então governador José Serra… Não acreditem em mim: pesquisem os arquivos dos jornais na Internet.
Mas vocês sabem: jornalismo tem de ser crítico, pluralista, apartidário etc e tal. Contrariando o então deputado Thales Ramalho, que dizia que “ninguém é a favor da paralisia infantil”, hoje em dia, é preciso encontrar, metaforicamente falando, as pessoas “favoráveis” à paralisia infantil…
Não dá para dizer que o Rodoanel é uma coisa boa sem ouvir um crítico, né? E a Folha encontrou o economista Ciro Biderman, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), para dizer, acreditem, que o efeito é temporário porque a frota de carros vai aumentar, e, um dia, o benefício desaparece.
Biderman dá plantão para atacar políticas públicas do governo do Estado. Ele se coloca como um estudioso contra os carros. Até aí, vá lá… Precisamos incentivar o transporte público — como, aliás, se tem feito, e a expansão do Metrô é evidência disso —, mas, no caso do Rodoanel, a questão é outra, não? Ele foi feito basicamente para retirar uma parcela dos caminhões do centro da cidade. Vai vencer um dia? Pois é… Cidades precisam de constantes intervenções urbanas. Até que o transporte público não atenda a todas as necessidades dos cidadãos, será preciso oferecer infra-estrutura urbana compatível com a demanda.
Ou Biderman é do tipo que não arruma a cama ao acordar porque, afinal, ela terá de ser desarrumada quando ele for dormir? O desafio dos governos é justamente cuidar da expansão do transporte público, mas também melhorar a qualidade de vida dos cidadãos que vivem os efeitos das decisões econômicas, políticas e urbanas que vão sendo tomadas ao longo do tempo. É quase como uma zeladoria. Você limpa alguma coisa sabendo que a limpeza, de certo modo, é inútil. Vão sujar de novo…
A politização vagabunda do debate em São Paulo tomou tal dimensão que um debate de boçalidade idêntica foi feito no caso das nova pista da Marginal Tietê. Os “especialistas” gritaram: “Oh, estão privilegiando os carros!” Muito bem! E o que fazer enquanto os carros estão aí? Deixar que as pessoas apodreçam nos congestionamentos? Trata-se de um debate intelectualmente vigarista.
A perspectiva é outra: o investimento no transporte público está sendo feito? Está. Ele diz respeito ao futuro. No presente, é preciso minorar as dificuldades dos homens… presentes!!! É básico, é elementar, mas tem de ser dito.