Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

O Som e a Fúria Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Felipe Branco Cruz
Pop, rock, jazz, black music ou MPB: tudo o que for notícia no mundo da música está na mira deste blog, para o bem ou para o mal
Continua após publicidade

“Morte de John Lennon não foi conspiração”, diz criador de novo doc

Série documental 'John Lennon: Assassinato sem Julgamento' da Apple TV+, traz entrevistas exclusivas com testemunhas do assassinato

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 dez 2023, 16h58 - Publicado em 7 dez 2023, 10h00

Há 43 anos, em 8 de dezembro de 1980, John Lennon era assassinado na porta da sua casa por Mark Dave Chapman. As razões do crime, até hoje, continuam nebulosas. O assassino não tinha nenhum histórico policial e, após alvejar Lennon com cinco tiros, não fugiu do local, permanecendo ali lendo o livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger. Em cartaz na Apple TV+, a série documental John Lennon: Assassinato sem Julgamento, dividida em três partes, tenta entender o que aconteceu naquele dia dando voz a testemunhas do crime que jamais haviam sido ouvidas antes, além de falar com os advogados de defesa e acusação e da psiquiatra que avaliou o criminoso na cadeia.

Com narração do ator Kiefer Sutherland, de 24 horas, a série procura desvendar as teorias conspiratórias de que John teria sido morto a pedido do governo dos Estados Unidos. Preso sem oferecer resistência, Chapman confessou o crime e disse ter comprado a arma com facilidade em uma loja. Seu objetivo era ser lembrado como o homem que matou Lennon. Na ocasião, a defesa do criminoso sabia que era impossível alegar que ele não havia cometido o crime e, portanto, a tese de doença mental se sobrepôs. A estratégia era dizer que Chapman era esquizofrênico, portanto, não deveria ser julgado, mas, no dia do julgamento, ele assumiu a culpa e disse para o juiz que Deus o havia mandado confessar. Chapman foi, então, condenado a prisão perpétua, sem passar por um júri popular.

A reportagem de VEJA conversou com o produtor executivo da série, Rob Coldstrem, que falou sobre as descobertas encontradas durante o processo de pesquisa. Confira a seguir os principais trechos: 

Existem várias obras que falam sobre o crime e também sobre o assassino. O que esta série apresenta além do que já se sabia sobre o assassinato? Muitas pessoas já fizeram filmes sobre certos aspectos da história, sobre o último dia de John Lennon, sobre Mark Dave Chapman. Mas nenhuma delas havia reunido tudo de uma forma abrangente e definitiva do começo ao fim. Quando olhamos para isso, percebemos que havia muita coisa não divulgada sobre como o julgamento falhou, já que muitas evidências apresentadas pela polícia, pelos profissionais de saúde mental e pelos advogados realmente nunca foram ouvidas. Descobrimos ainda que muitas pessoas envolvidas também nunca haviam sido entrevistadas. Encontramos testemunhas oculares, como o taxista que viu o crime. Ninguém havia falado com o psiquiatra ou com algum policial. Também é uma forma de contar para a nova geração a história de John Lennon.

Há uma parte interessante do documentário que fala sobre as teorias conspiratórias envolvendo a morte de John Lennon. Em tempos de fake news como vivemos hoje, é impressionante pensar como essas teorias repercutiram naquela época? Na época, havia muitas teorias conspiratórias se a CIA ou se o presidente Nixon estavam envolvidos, ou se Chapman estava sob hipnose. Curiosamente, não existia internet naquela época, se fosse hoje, essas coisas teriam explodido. Ficamos entusiasmados ao descobrir a história de Milton Kline (psicólogo que se dizia especialista em controle da mente). Encontramos um áudio inédito de Kline na prisão hipnotizando Chapman. Isso ajudou que essas teorias da conspiração crescessem na época. Nosso objetivo foi colocar tudo isso de lado e dizer: não há conspiração aqui. Para nós, o mais importante foi mostrar as questões sobre saúde mental no sistema prisional e como a Justiça lida com a insanidade. Examinamos as motivações de Chapman e como ele se tornou no homem mais odiado do mundo.

Continua após a publicidade

Por que John Lennon era uma pessoa monitorada pelos serviços secretos americanos? É fato que ele foi monitorado e seguido. A CIA tinha um arquivo sobre ele. Isto está comprovado. Mas, daí a pensar que ele era uma ameaça perigosa o suficiente para a América para que alguém quisesse realmente prejudicá-lo, parece pouco provável. Em 1980, a Guerra do Vietnã já havia terminado. Acho que John não era um crítico tão voraz da política dos Estados Unidos na época. Mas, sim, o telefone dele foi grampeado e a administração Nixon realmente quis deportá-lo para o Reino Unido.

Por que séries sobre true crime atraem tanto as pessoas? As pessoas gostam de mistério, gostam de quebra-cabeças e tentar resolvê-los. É um gênero extremamente popular no momento. Não é uma série policial, e sim um quebra-cabeça que investiga a mente de Chapman.

Chapman está preso até hoje. Ao matar John Lennon, ele quis tomar para si um pouco da fama do ex-beatle, mas acabou encarcerado para o resto da vida sem que ninguém se importasse mais com ele, não? Sim. Essa é uma questão complicada. Depende de como você vê o mundo. Queríamos apresentar as provas da acusação e da defesa e entender se Chapman estava em seu juízo mental para ser responsabilizado por suas ações. Foi interessante conversar com o advogado dele, David L. Suggs, que nunca havia sido entrevistado antes. Ele deu uma visão interessante sobre a saúde mental de Chapman. Também pudemos ouvir gravações inéditas dele conversando com Chapman na prisão.

Como localizaram essas gravações inéditas dos advogados e de Chapman na prisão? Levou um longo tempo. Encontramos uma jornalista que escreveu sobre o caso na época, em 1980. Ela conseguiu com a defesa de Chapman e também o visitou na prisão. Mas, aí, ela guardou essas gravações em um depósito na América do Sul onde ficaram por 30 anos. Fomos lá e era um depósito enorme. Ficamos dias abrindo caixas e ouvindo fitas. O que quero dizer é que foi assustador ouvir a voz de Chapman no passado, descrevendo o momento em que ele realmente atirou em John Lennon. Não queríamos que a série parecesse um entretenimento, porque se trata de um caso trágico. Queríamos que o documentário fosse feito de uma forma respeitosa com John.

Continua após a publicidade

Yoko Ono não participou do documentário. Por quê? De certa forma queríamos manter a história sobre John e o assassinato. Não queríamos que isso fosse deixado de lado para transformar o documentário em uma história sobre a tragédia pessoal de Yoko. E ela, claro, nunca falou desse assunto por motivos óbvios. O que nos interessava era o julgamento e o que resultou dele. Yoko está inserida no documentário dessa forma. Há uma gravação antiga dela comentando o crime, portanto, de certa forma, ela está incluída. Mas ela não participou atualmente por razões compreensivas. Também não esperávamos que ela fosse topar.

Por que o livro O Apanhador no Campo de Centeio, que o assassino ficou lendo após o crime, desperta tanta atenção? John Hinckley Jr., que tentou assassinar o presidente dos Estados Unidos Ronald Regan, também estava lendo esse livro, mas ele, obviamente, estava copiando Chapman. E o assassino de John Lennon era uma pessoa com doença mental e confusa. De alguma forma, ele se sentia decepcionado com John. Como diz o advogado de Chapman, é difícil dar uma explicação racional para uma mente irracional.

Há ainda a questão da facilidade em comprar armas de fogo nos Estados Unidos, algo que perdura até hoje. Sim. Essas questões ressoam até hoje. Temos as mesmas questões que existiam naquela época sobre armas de fogo. É irônico que tenha sido com John, um grande defensor da paz, morrer dessa forma.

O senhor acredita que Chapman pode algum dia sair da prisão? Me parece improvável. Eu não o conheço pessoalmente. Pode até ser que ele esteja mais confortável lá, agora, já que está há tanto tempo. Acho improvável que ele saia.

Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:

Tela Plana para novidades da TV e do streaming
O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
Livros para notícias sobre literatura e mercado editoria

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.