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Bicho-do-mofo (por Mary Zaidan)

Bolsonaro é um político medíocre, mas nada tem de tolo

Por Mary Zaidan
Atualizado em 18 nov 2020, 20h04 - Publicado em 2 ago 2020, 09h00
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  • Seis meses depois de assumir a Presidência, Jair Bolsonaro desdisse o que pregara durante a campanha: disputaria o cargo novamente. Não é surpresa, portanto, vê-lo nos palanques, chapéu de couro em lombo de cavalo, inaugurando obras já inauguradas por antecessores. Mais complexa é a equação de sobrevivência que o levou a jogar no lixo, deliberadamente, um dos seus maiores trunfos eleitorais – a promessa de combate inflexível à corrupção.

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    No sertão do Piauí, onde desfilou com Ciro Nogueira (PP), ex-aliado de Lula e réu no STF por organização criminosa, o presidente distribuía sorrisos e abraços sob o coro de “fim da Lava-Jato”, um bordão até então inimaginável.

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    Bolsonaro é um político medíocre, mas nada tem de tolo. Está no jogo há três décadas e enfiou nele a prole, com espaços públicos generosos a parentes e amigos, muitos deles recebendo todo mês sem dar as caras na repartição. Outros, ao que tudo indica, repassando seus ganhos aos chefes. A tripla crise do país, sanitária, econômica e social, não o apoquenta. Move-se única e exclusivamente para proteger o seu mandato – e, se isso der certo, dar fôlego à sua reeleição – e os filhos, companheiros de milicianos e enrolados em processos na Justiça do Rio e no STF.

    Não à toa, Bolsonaro correu atrás do Centrão, oferecendo mundos, cargos e fundos em troca de apoio parlamentar. Nada em nome de aprovar projetos de seu governo – ativo que ele nunca teve para oferecer -, mas para evitar a abertura de qualquer um dos 48 processos de impeachment protocolados na Câmara até agora.

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    Mesmo agradecida com as benesses, no primeiro embate – a análise do Fundeb – a base comprada por Bolsonaro deu de ombros. Votou contra o projeto do governo e mostrou os dentes ao presidente.

    Além da derrota em plenário, o governo sofreu mais um baque com a saída formal do DEM e do MDB do bloco que ele, por ingenuidade, incompetência ou ambos, contava como dominado.

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    Mas as velhas práticas que há décadas emboloram a política falaram mais alto.

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    No início da semana, o procurador-geral Augusto Aras lançou a moeda que pode inverter o jogo: a desmoralização, fatiamento ou, melhor ainda, o fim da Lava-Jato. Um alívio imediato para pelo menos 60 parlamentares da “base” cooptada e de outros tantos da oposição envolvidos em processos de corrupção.

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    A quadra é demoníaca.

    Aras, homem de Bolsonaro, com olhos fixos na indicação para a vaga do ministro Celso de Mello, que em novembro deixa a Suprema Corte, iniciou uma guerra contra a Lava-Jato. Como se a operação fosse mais criminosa do que os políticos e empresários que afanaram bilhões dos brasileiros.

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    De cara, colocou em xeque a atuação do agora desafeto Sérgio Moro, tido como eventual opositor de Bolsonaro em 2022. Mas a tentativa de manchar a imagem de Moro é quase um mimo ao presidente perto do tamanho do serviço prestado.

    Em parceria velada com o presidente do STF, Dias Toffoli, que parece guardar rancores dos danos que a Lava-Jato provocou aos seus ex-empregadores, de repente a operação virou vilã.

    Uma trama que faz a felicidade de gente como Valdemar da Costa Neto, Roberto Jefferson, Arthur Lira e outros fungos da política. Que se une à turma do Lula Livre, Gleisi Hoffmann à frente, e reata os laços da impunidade. Que, mesmo dizendo o contrário no digladio juvenil das redes sociais, torce para que Aras vença e até mesmo chegue ao STF.

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    Em comum, querem que a Lava-Jato exploda e com ela os terabytes que rastrearam e puniram a corrupção.

    Os excessos da Lava-Jato – e há quem os aponte sem pestanejar – devem e têm de ser apurados. Assim como os excessos de outras esferas do Ministério Público, a exemplo da assinatura de delação premiada dos irmãos Batista feita pelo então procurador-geral Rodrigo Janot para incriminar o presidente Michel Temer. E os excessos do próprio STF, como a manutenção da elegibilidade de uma presidente deposta, ou a suspensão, monocrática, por meses, da troca de dados entre órgãos de investigação, privilegiando o filho do presidente Bolsonaro.

    Entre erros e acertos, a Lava-Jato desnudou o PT, prendeu Lula e seus comparsas, encarcerou o poderosíssimo Eduardo Cunha, acabou com a farra de Sérgio Cabral e de quase 300 de 600 réus. Oxigenou o país, colocando poderosos na cadeia, inoculando esperança de dias melhores ao cidadão comum.

    Bolsonaro bebeu e se fartou dessa depuração. Jogou fora porque só prospera no mofo.

    Mary Zaidan é jornalista

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