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Por Vilma Gryzinski
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Síndrome de Estocolmo: todo mundo indo para a reabertura

Em ritmos e sistemas diferentes, países avançados rumam para o desconfinamento gradual, apesar do medo; e tem até uma boa notícia nos Estados Unidos

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 27 abr 2020, 07h26 - Publicado em 27 abr 2020, 07h25

Começar a semana ouvindo a seguinte declaração, no ambiente atual, é um bálsamo:

“Acho que se começarmos a reabrir a economia em maio e junho, vamos ver realmente um rebote lá por julho, agosto, setembro”.

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Quem a fez tem um peso tremendo: Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

Detalhe importante: não é um puxa-saco nem trumpista deslumbrado, embora saiba perfeitamente que a única chance de reeleição de Donald Trump num país que deve entrar proximamente nos 60 mil mortos por coronavírus seria um milagre de recuperação.

Típico ricão de Wall Street, Mnuchin virou uma fera da injeção em doses astronômicas de dinheiro para segurar o estrago no bolso dos desempregados e no caixa das empresas.

Todo mundo pode ter certeza que ele não é nenhum keynesiano. Nem sabe o que é PAC. 

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Também não é sonhador. Pegou uma bomba atômica na mão, como integrantes de governassem todo mundo, e está fazendo mágicas mirabolantes, inclusive em acordos com a oposição democrata.

A retomada da economia americana pode ser encaminhada seguindo critérios geográficos – aliás já está sendo, ainda em fase inicial, muitas vezes com passos temerosos e com um efeito curioso: a maioria dos americanos, segundo pesquisas, acha que a restrições de movimento, variáveis conforme os estados, não só são boas como devem continuar.

É uma espécie de Síndrome de Estocolmo – um assalto a banco que aconteceu na Suécia e virou sinônimo de identificação de vítimas com seus captores.

Apavorados com a mortandade espalhada pelo novo coronavírus, 61% apoiam as restrições e 26% acham que deviam ser mais rígidas.

Na França, país cauteloso, estão assustados com a reabertura, por fases, de creches e escolas primárias.

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O corona realmente sequestrou a psique coletiva e tocou o terror no mundo.

Mas a retomada econômica é uma questão existencial.

Até em Nova York, o estado que tem uma quantidade desproporcional da doença, ela já vem sendo discutida. E Nova York virou o centro do coronamundo.

“É impressionante ver como a crise nacional da Covid-19 é uma crise de Nova York, significando a cidade em si e a região metropolitana expandida”, escreveu Brett Stephens, colunista moderadamente conservador do New York Times.

“Se a cidade de Nova York fosse um estado, teria sofrido mais vítimas do que 41 estados somados”.

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Stephens defendeu que Nova York não deveria “impor” o tamanho de seu desastre – e o ritmo da retomada – ao resto dos Estados Unidos.

Surpreendentemente, considerando-se o meio, ele recebeu diversos comentários favoráveis.

Mesmo no inferno que virou Nova York, os números mostram que o pior já passou, coincidindo com os três países europeus mais castigados.

Itália, Espanha e França, todos estão registrando, consistentemente, números diários de mortos abaixo de 400 ou 300.

Terríveis, obviamente, mas mais do que um raio de esperança, considerando-se que, nos piores dias, chegaram a chegar muito perto de mil.

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E todos já anunciaram ou estão para anunciar os intrincadamente complicados programas de reabertura da economia ou da mais simples das liberdades: dar um passeio com os filhos, confinados há um mês e meio sem poder sequer sair à rua.

Sem prazos ou medidas concretas, por enquanto, só a Grã-Bretanha. Boris Johnson deixou, involuntariamente, o país numa situação bizarra, sem o responsável pelas decisões finais, ao ser derrubado pela Covid-19. 

Voltou hoje da recuperação, sem querer fazer nenhuma promessa, mencionar datas ou projetar os próximos passos.

Talvez a doença o tenha deixado mais cauteloso, mas o dilema é realmente monumental.

Como fazer a retomada gradual das atividades, desde escolas até o comércio, sabendo que existe um risco enorme de que o número de casos aumente, seguindo a lógica de que o regime de quarentena segurou uma onda pior ainda?

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Fazendo, simplesmente. Não existe opção. Só um exemplo, no meio de tantos números assustadores: na França, os quase dois meses de confinamento custaram 32% do PIB. Só em perda de ingressos foram 120 bilhões de euros. 

Quase 10 milhões de franceses entraram no seguro-desemprego. E o rombo no déficit público que chegará a 115% do PIB? Mais recessão, inflação, atividades essenciais que continuarão paralisadas, como o turismo, e seu cortejo de pragas bíblicas.

Isso que estamos tratando de países ricos, maduros, institucionalmente sólidos.

Os bagunçados, com problemas reais e outros desnecessariamente criados na hora do perigo, ficam fora da turma do “sofrimento planejado”.

Não que a discussão deixe de existir entre os menos emaranhados, ou que existam respostas seguras. Não existem.

Aliás, nem sequer a explosão de pesquisas científicas teve tempo de trazer alento para o mundo. A esperança do remdesivir, o antiviral tão promissor da Gilead, a maior farmacêutica do ramo, estremeceu nos resultados desanimadores de uma pesquisa com 237 pacientes feita na China.

O lado menos pessimista: a pesquisa chinesa entrou e saiu do site da Organização Mundial de Saúde, indicando mais um acerto misterioso entre as partes. 

Outro: foi revelado recentemente que a China tentou patentear o remdesivir para uso comercial em 21 de janeiro passado. 

Exatamente no período em que enrolou o resto do mundo sobre a forma de contágio e a extensão do novo coronavírus.

Tudo nessa pandemia tem sido assim. O vírus se mostra cada vez mais deletério, com novos e devastadores efeitos nas infecções mais graves,  e as formas de combatê-lo parecem bater em barreiras intransponíveis.

Não é fácil para ninguém. Nem para o país que, curiosamente, se tornou o oposto da Síndrome de Estocolmo: a própria Suécia.

Com sua política única – obviamente fora do bloco das maluquices – de não paralisar escolas de primeiro grau, indústria e comércio, promovendo um isolamento light, o país entra em 2.200 mortes (contra pouco mais de 420 na Dinamarca e 200 na Noruega, os vizinhos nórdicos comparáveis).

Em compensação, está bem longe dos até 90 mil mortos previstos por alguns modelos. Os hospitais não superlotaram, não acabaram os leitos em UTIs. Obviamente, não foram vistas as sinistras valas comuns, o sinal mais evidente de perda de controle.

Para inveja do resto da Europa, restaurantes e bares continuam abertos, apesar da exigência de maior distanciamento entre os clientes. E a maioria da população continua a apoiar a política pregada pelo diretor de epidemiologia, Anders Tegnell.

Mais impressionante ainda: o médico de aparência amarfanhada que defende a contestada tese da imunidade coletiva como a mais eficaz a médio prazo – implicando em admitir um maior número de vítimas em benefício do conjunto população – virou um personagem popular.

Até tatuagens com o rosto dele apareceram. “É a primeira vez que um nerd vira ídolo”, anotou um tatuador de Estocolmo.

A experiência continua em aberto e a Suécia não deixou de sofrer o baque econômico da pandemia (queda de 30% no consumo, contra 60% na Dinamarca). Mas também não precisa fazer planos mais complicados do que o Desembarque na Normandia para retomar o ritmo da economia.

Todo mundo sofre, mas alguns sofrem menos.

Outros lançam-se, às cegas, na imolação.

Vale registrar, mesmo que tudo mude a cada minuto: os mercados abriram em alta com a expectativa agora mais concreta de retomada econômica nos países ricos. 

Se vier a ser aquela mencionada – ou sonhada – por Steven Mnuchin, podemos soltar o fôlego. Mesmo que por alguns instantes.

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