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Os erros do ultraesquerdista presidente chileno que incentivam a direita

Resultado da eleição para a constituinte mostram que o povo elegeu Gabriel Boric e logo se arrependeu, repensando a relação

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 9 Maio 2023, 07h41 - Publicado em 9 Maio 2023, 07h27

Dois números bem diversos refletem o ânimo, hoje, da população chilena: Gabriel Boric tem aprovação girando em torno de 30% e os Carabineiros, a polícia militar chilena, contam com 79% da opinião pública a seu favor.

O que isso quer dizer? O Chile, um país que parecia imune à criminalidade em massa dos vizinhos latino-americanos, vive uma grave crise de segurança pública, com eventos que causam comoção no país, como os assassinatos consecutivos de três carabineiros, inclusive uma policial mulher.

Talvez seja esse o fato mais determinante da excepcional guinada política registrada no domingo, quando partidos de direita, inclusive o Republicanos, do candidato presidencial derrotado por Boric, o empresário José Antonio Kast, alcançaram 56% dos votos para a constituinte que vai fazer a nova carga magna do país. 

A coalizão de esquerda, que chegou a sonhar com uma vitória garantida, não alcançou os 30%. Uma derrota fragorosa — a segunda seguida, depois da rejeição popular ao ensandecido projeto de constituição que simplesmente destruía o arcabouço institucional e jurídico do pais ao criar uma espécie de estado plurinacional, com territórios indígenas autônomos.

Escrevendo no Infobae, Ricardo Israel resumiu o impacto fortíssimo da votação obrigatória: “Foi um tsunami, uma debacle do governo e um forte voto de castigo. Marca o possível desaparecimento, como atores relevantes, de grupos políticos chave da antiga Concertação, como a Democracia Cristã e o Partido pela Democracia. Acima de tudo, foi uma grande vitória da direita, cujos setores conseguiram o total controle do Conselho Constitucional”.

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O que Boric, com seu jeito moderno e braços tatuados, um militante de ultraesquerda que procurou se adaptar ao inesperado salto que o colocou em La Moneda — para trabalhar, não morar — aos 36 anos, não entendeu sobre o país que lhe coube presidir?

Talvez as grandes manifestações de protesto que provocaram a guinada à esquerda tenham sido superestimadas. Talvez tenham obscurecido mudanças sociais comuns a todos nós, com populações acostumadas a dar um “like”, ou o seu oposto, na velocidade das redes, a trabalhar na variedade de novas ocupações, dos aplicativos de entrega aos influencers, a reagir muito mais rapidamente aos acontecimentos ao seu redor, inclusive o fracasso dos serviços que o Estado deveria prestar, entre os quais o dever de garantir a segurança dos cidadãos. 

O bangue-bangue urbano que foi tão tristemente incorporado à vida dos brasileiros ainda causa choque no Chile. E ficar reclamando da “constituição pinochetista” não tem a repercussão que a bem organizada e articulada esquerda chilena imaginava.

O povo quer resultados e não adianta ter um presidente moderninho que não usa gravata se ele tem um repertório passadista, como a nacionalização dos depósitos de lítio, o mineral da economia verde. Crescimento econômico negativo e inflação de 9,9% não ajudaram em nada.

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Da mesma forma que foi chocante ver, do lado de fora, a rejeição ao último presidente, o eficiente conservador Sebastián Piñera, derradeiro promotor da “exceção chilena”, a transformação do Chile num país de desenvolvimento acima de médio, é impressionante assistir a derrocada de Gabriel Boric. Equívocos inacreditáveis, como conceder indulto a um terrorista que agiu quando a democracia já estava restaurada, alimentaram a sensação de “erros não provocados”, bobagens típicas — e desnecessárias — movidas pela crença de que o voto popular avaliza qualquer tolice.

“Chegaram falando do ponto de vista de uma suposta superioridade moral em relação ao passado e trouxeram a incompetência própria de quem não tinha experiência de governo”, resumiu Ricardo Israel. “Diante da queda nas pesquisas e da deterioração das expectativas criadas, viram-se obrigados a reconhecer que não era verdade a afirmação de que nada de bom tinha sido feito no Chile em trinta anos”.

A bipolaridade do eleitorado poderá se revelar de novo se o Conselho Constitucional, onde partidos de direita elegeram 34 dos 51 constituintes, fizer um documento excessivamente conservador? A estabilidade deixou de ser definitivamente uma vantagem chilena?

Não é impossível. Por enquanto, ficam a derrota da esquerda — e um elogio a Boric, que não contesta resultados eleitorais de um processo reconhecido por todas as forças políticas, um alento nessas nossas bandas.

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