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Maldições do Ceilão: da borracha roubada ao islamismo radical

Atentados com mais de 200 mortos são a última das muitas pragas da grande ilha hoje chamada Sri Lanka desde a época dos descobrimentos portugueses

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 21 abr 2019, 13h52 - Publicado em 21 abr 2019, 13h34

Quando Henry Wickham entregou ao diretor do jardim botânico de Kew Gardens, nos arredores de Londres, as 70 mil sementes de seringueira contrabandeadas da Amazônia, muitas coisas mudaram.

O ciclo da borracha no Brasil murchou e as sementes germinadas mudaram a economia das colônias asiáticas para onde foram levadas pelos ingleses.

Duas coisas continuaram as mesmas: Wickham, o Ladrão do Fim do Mundo, segundo o título de um livro do jornalista americano Joe Jackson, não tirou o pé da precariedade econômica e o Ceilão, a ilha de clima tropical onde as seringueiras prosperaram, não mudou sua natureza complicada.

Os 207 mortos, segundo a última contagem dos atentados terroristas desse domingo de Páscoa, são uma terrível prova das pragas que infernizam a ilha, hoje chamada Sri Lanka.

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Os oito atentados em série, contra três hotéis, duas igrejas católicas e um templo evangélico, indicam uma capacidade de planejamento, coordenação e execução que  só pode ser atribuída a organizações islamistas radicais com um pé, ou ambos, em algum país vizinho.

O radicalismo islâmico é relativamente recente no país e acrescenta uma camada a mais às complicações étnicas e religiosas da ilha de maioria budista, com uma razoável população católica remontando aos missionários que vieram na cola dos descobridores portugueses.

As armas e os barões assinalados que largam da costa portuguesa na primeira estrofe dos Lusíadas para se lançar em “mares nunca de antes navegados” e passam “ainda além da Taprobana”, lutaram bravamente para manter o domínio da ilha, vital para o tráfego marítimo das índias.

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Quando os holandeses tomaram o lugar como potência colonial, o catolicismo foi proibido. Um padre local resistiu e abriu uma igreja clandestina, a de Santo Antônio, estraçalhada hoje pela bomba terrorista em plena missa de Páscoa.

Com a ascensão do império colonial britânico, veio também uma fatídica transferência populacional. Indianos do estado de Tamil Nadu foram levados para trabalhar nas plantações do famoso chá do Ceilão, apurado pela temperatura amena das montanhas.

A mão de obra servil moveu também as plantações das seringueiras contrabandeadas, favorecidas pela ausência de pragas naturais.

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Discriminados pelos cingaleses por causa do status inferior, da religião hinduísta e da pele negra, os tamis indianos viraram, literalmente, um barril de pólvora que alimentou um movimento separatista.

Nacionalista, secessionista e socialista, os Tigres de Tamil introduziram novidades como os cinturões-bomba e atentados praticados por mulheres. Uma delas explodiu-se a poucos centímetros de Rajiv Gandhi, o ex e talvez futuro primeiro-ministro da Índia.

A guerra civil entre rebeldes da minoria tamil e o governo cingalês foi pavorosa até pelos padrões mais separados da civilização. Deixou uns cem mil mortos e fez a fama de M.I.A, a cantora e rapper, que passou a infância na miséria, longe do pai, militante dos Tigres.

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O renascimento do Islã radical afetou a minoria muçulmana no Sri Lanka, onde o budismo é militante e não tem nada de aceitar pacificamente provocações, depredações e conversões orçadas.

Muitos cristãos também denunciam perseguições praticadas por budistas. Além, claro, de radicais muçulmanos identificados com um grupo radical, o Thowheed Jamath, originário de Tamil Nadu, na Índia.

Um dos atentados suicidas foi no Cinnamon Grand Hotel. O terrorista entrou na fila do café da manhã e acionou a carga explosiva amarrada nas costas às 8,30 horas. O templo evangélico num bairro pobre da cidade de Batticaloa virou um palco ensanguentado.

Na igreja de Santo Antonio, no simples estilo colonial português tão conhecido no Brasil, o telhado simplesmente desapareceu. Em toda sua humildade, evocou a grandeza de Notre-Dame incendiada.

Há dez dias, o comandante da polícia nacional denunciou um plano terrorista de atentados contra igrejas.

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Além do número espantoso de turistas, funcionários e fieis estraçalhados nos atentados em série, também morreram policiais em batidas em esconderijos de cúmplices, cheios de armadilhas explosivas. Uma tática usada pelos rebeldes tamis que, sinistramente, voltou a ser usada na Páscoa de sangue do Sri Lanka.

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