Um dia após comunicar aos prefeitos que a campanha de vacinação contra a Covid-19 teria início na próxima quarta-feira, 20, o Ministério da Saúde se vê envolto em questionamentos a respeito da capacidade de cumprir essa promessa. Autoridades do governo da Índia têm dito à imprensa daquele país que o Brasil “queimou a largada” ao preparar uma operação de logística para buscar 2 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford em conjunto com a farmacêutica AstraZeneca.
Questionado sobre o assunto durante uma coletiva de imprensa semanal, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Anurag Srivastava, disse que é muito cedo para discutir as exportações de vacinas, já que o programa de imunização da Índia está programado para ser lançado no sábado.
“Como você deve saber, o processo de vacinação está apenas começando na Índia. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento para outros países, pois ainda estamos avaliando os cronogramas de produção e entrega. Tomaremos decisões a esse respeito no devido tempo, isso pode levar algum tempo”, afirmou segundo o jornal indiano The Hindustan Times.
O Airbus A330neo que irá até Mumbai buscar o lote de 15 toneladas encomendado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ao laboratório indiano Serum encontra-se estacionado no aeroporto de Recife, após ter decolado na quinta-feira, 14, de Campinas. A previsão é de que a aeronave deixe a capital pernambucana às 23 horas, mas não há nenhuma sinalização oficial de que o cronograma será mantido.
Segundo informou o Radar Econômico, o contrato firmado entre as partes estipula que a Índia tem até abril para enviar as doses que já foram pagas pelo governo brasileiro. Autoridades indianas afirmam que o programa de vacinação naquele país está no início e que é preciso garantir o acesso dos indianos ao imunizante antes de cumprir acordos firmados com outros governos.
Caso não tenha acesso à vacina da AstraZeneca, o Ministério da Saúde poderá iniciar o programa de imunização com as doses da CoronaVac que já estão em solo brasileiro. No entanto, o fármaco depende da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser disponibilizado à população. A vacina produzida pelo Instituto Butantan, em conjunto com o laboratório chinês Sinovac, será analisada pela diretoria da agência numa reunião marcada para este domingo, 17. A Anvisa tem dito que o Butantan não enviou toda a documentação necessária para a aprovação do imunizante, o que poderá postergar a concessão do aval de uso emergencial.
A reclamação da Anvisa sobre a falta de documentação também se estende à Fiocruz, responsável por fornecer os dados da vacina da AstraZeneca, que também terá sua eficácia avaliada pela agência no domingo. Se a agência alegar que as informações são inconclusivas e negar o uso emergencial dos fármacos, o governo brasileiro ficará impedido de cumprir a data acordada com os prefeitos, mesmo que as doses dos imunizantes já estejam estocadas e prontas para uso no país.