A bronca de jogador do Coritiba com atraso e insistência para fraudar jogo
"Foi suado pegar o dinheiro deles", afirma atacante Alef Manga, em áudio obtido por VEJA
Indiciado pelo Ministério Público de Goiás sob a acusação de participar do esquema de manipulação de resultados conhecido como “máfia das apostas”, o atacante Alef Manga, do Coritiba, foi flagrado pelos investigadores reclamando da forma como recebeu o dinheiro prometido pela quadrilha. Em 3 de setembro do ano passado, o jogador embolsou 50.000 reais para levar um cartão amarelo na partida de seu time contra o América-MG, válida pelo Campeonato Brasileiro.
Pela participação de Manga, confirmada por meio de depósitos recebidos diretamente em sua conta — o que gerou surpresa nos líderes da empreitada criminosa (veja abaixo) –, o atleta foi indiciado pelo MP e também deverá ser julgado no âmbito administrativo pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
A denúncia do atacante e de outras quatorze pessoas, incluindo sete jogadores, foi noticiada com exclusividade por VEJA na noite de quarta-feira, 19. Leia a reportagem aqui.
Ao também atleta Diego Porfírio, Alef Manga se queixou da forma parcelada com que recebeu a propina. “Foi a maior briga para receber esse dinheiro dele aí, entendeu? Sempre dava uma desculpa”, se queixou, em mensagem interceptada pelo MP goiano e entregue à Justiça.
Na sequência, o atacante também se mostrou incomodado com a insistência para que ele voltasse a cometer atos de indisciplina nas partidas para beneficiar os apostadores. “Aí depois que me pagou lá toda hora ficava mandando mensagem, toda hora, toda hora, para fazer de novo, fazer de novo, um atrás do outro, entendeu? E eu falando para ele que não é assim, não, espera um pouco, passar uns dois ou três jogos para fazer de novo. Aí mandava mensagem de novo que era próximo jogo (…) até bloqueei ele”.
Além da conversa, o atleta também foi flagrado em mensagens de texto enviadas para celulares apreendidos na Operação Penalidade Máxima.
Ouça abaixo o áudio completo da conversa de Manga com Porfírio.
Veja também a transcrição do diálogo.
“Não, demoro, eu te aviso. É que o f**, Porfírio, fazer com aquele cara que é teu amigo lá eu nem to falando mais com ele direito não, mano. Sabe? Porque foi a maior briga para receber esse dinheiro dele aí, entendeu? Sempre dava uma desculpa. Aí depois que me pagou lá toda hora ficava mandando mensagem, toda hora, toda hora, para fazer de novo, fazer de novo, um atrás do outro, entendeu? E eu falando para ele que não é assim, não, espera um pouco, passar uns dois ou três jogos para fazer de novo. Aí mandava mensagem de novo que era próximo jogo, mandava mensagem. Tipo, e eu falando para ele que não era assim, porque fica tomando cartão direto assim os caras vai perceber, vai imaginar coisa.
Ah, mano, ele não quis entender meu lado também eu deixei de falar com ele, até bloqueei o número dele, de verdade mesmo. Mano, foi suado para pegar dinheiro com esse cara, mano. Ah não gosto de cara assim não mano. O que é nosso, é o nosso nome que está em jogo né, v***? Na hora que é para tomar cartão a gente toma e na hora de receber um dia depois fica ‘ah porque não sei o que, porque a Bet não pagou, não entrou, aí dava picadinho tá ligado, dava cinco mil, depois dava mais três mil. P***, maior confusão aí peguei e larguei entendeu?”
Alef Manga foi indiciado na recém-criada lei 14.597/2023, que prevê pena de dois a seis anos de prisão, mais multa, para quem solicitar ou aceitar vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado. O texto foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado.